Atenção básica

Seis meses de dedicação exclusiva

Atendendo a demanda de colaboradores e a tendência mundial da ampliação da diversidade, empresas brasileiras estão adotando a licença parental estendida, com período prolongado

Diogo Albuquerque*
postado em 19/06/2022 00:01
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Enquanto a legislação brasileira prevê apenas cinco dias de licença paternidade e 120 dias de licença maternidade, algumas empresas no país estão estendendo o benefício para todas as configurações de família para até seis meses.

A multinacional do varejo agrícola Nutrien decidiu se antecipar à novidade, anunciando que passará a oferecer licença familiar remunerada de seis e dois meses a todos os seus colaboradores do Brasil e também da Argentina, Uruguai e Chile.

De acordo com a corporação, a nova política vale para casais heteroafetivos, homoafetivos, e pais e mães solo de filhos por nascimento ou adoção. Segundo a diretora de Recursos Humanos da Nutrien para a América Latina, Clarissa Grunberg, a ideia é estruturar um time diferenciado, incentivando o ambiente criativo e inovador.

O objetivo dessa abordagem inclusiva, de acordo com a executiva, é proporcionar um maior acolhimento a todos os grupos e configurações familiares, mesmo nos contextos em que a lei tratar especificamente de licença-maternidade ou licença-paternidade.

Poucas empresas oferecem o benefício da licença-paternidade estendida para pais no Brasil. Entre elas, estão a Volvo Automóveis, que oferece licença de seis meses para pais, o Boticário, com 120 dias, e o Facebook, que também oferece a licença de 120 dias, dando flexibilidade para os funcionários escolherem o melhor momento para usufruir do benefício.

No grupo Boticário, o direito se aplica também a homens trans, casais homoafetivos e pais de filhos não-consanguíneos. A empresa promove rodas de conversa sobre masculinidade e parentalidade com pais que necessitam da licença. Para a empresa, o benefício reflete uma mudança cultural para a companhia e também para a sociedade, reforçando a parentalidade responsável e fomentando discussões sobre diversidade e inclusão.

Pai de primeira viagem, o engenheiro agrônomo Arthur Torres, 31 anos, conta que sentiu um misto de surpresa e felicidade ao saber que a empresa concederia a ele uma licença de 60 dias. "Foi fundamental estar próximo da minha filha e da minha esposa nesse momento, que é o mais importante da minha vida", afirma.

Para ele, o fato de muitas empresas não garantirem licença estendida e também resistirem a essa ideia porque compromete sobremaneira a produtividade do empregado. "Ao conceder a licença, a empresa incentiva o trabalhador a produzir, a ser mais engajado e a permanecer efetivado por mais tempo", argumenta.

Clarissa Grunberg, observa que todos têm direito a se dedicar à parentalidade de forma equânime, independentemente do modelo familiar. Para ela, conceder a licença por um período mais longo resulta em benefícios imediatos para a empresa e também para toda a comunidade que cerca os funcionários, como um ambiente de trabalho com mais ideias, e uma sociedade mais igualitária.

Na Nutrien, além da figura materna, o pai também recebe a licença, de até 60 dias, que pode ser flexibilizada da maneira como o empregado decidir. "Essa questão de trazer protagonismo para a família passa por trabalhar a cultura, mas também por estabelecer políticas formais e um diálogo constante para compreendermos e nos adaptarmos aos novos modelos de trabalho", explica Clarissa.

Head de marketing da eNotas, Daniella Doyle observa que mesmo para as mulheres o tempo da licença não é suficiente para garantir a plena saúde e desenvolvimento do bebê em seus primeiros meses de vida. Ela conta que, após o período de 120 dias, a criança ainda demanda amamentação, além de uma série de cuidados específicos. "É a mulher que precisa parar as reuniões para amamentar, que precisa ir atrás de creche, além de uma série de questões", ressalta.

Para a psicóloga e psicanalista Maysa Balduino, a licença é um direito da criança, já que ela precisa dos cuidados de um adulto para conseguir se desenvolver. "É humanamente impossível cuidar de um bebê sozinho. A mãe ou o pai precisam de apoio", diz ela, ponderando que um bom acompanhamento da criança garante futuramente um adulto mais saudável e, em casos de adoção, reforça que a convivência é fundamental para que a criança se sinta acolhida.

Maysa ressalta que um pai presente oferece maneiras diferentes de interação e comunicação com o filho, fatores que enriquecem a composição da mente do bebê. Além disso, afirma ela, a reciprocidade no cuidado da criança evita a exaustão, possibilitando ao casal construir uma parceria de confiança.

Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende

 

  • A psicóloga Maysa Balduino
    A psicóloga Maysa Balduino Foto: Arquivo pessoal
  • Clarissa Grunberg funcionária de recursos humanos na Nutrien
    Clarissa Grunberg funcionária de recursos humanos na Nutrien Foto: Sandro Filippin
  • Daniella Doyle
    Daniella Doyle Foto: Arquivo pessoal

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