PRETOS NO TOPO

Pessoas negras sofrem mais abordagem policial em relação às brancas

Estudo mostra que pessoas negras têm risco 4,5 vezes maior de sofrer abordagem policial, em comparação aos brancos. Enquanto 20% dos pretos passaram por essa experiência pelo menos 10 vezes, os brancos nessa condição são pouco mais de 8%

Carmen Souza
postado em 31/07/2022 06:00 / atualizado em 31/07/2022 06:00
"Eles exageram e não encontram nada. Será que esses policiais poderiam estar fazendo algo que, de fato, trouxesse segurança para a população?" Elena Wesley, porta-voz do data_labe - (crédito: Arquivo Pessoal)

No Brasil, os suspeitos têm cor. E os resultados da pesquisa Por que eu? deixam bem evidenciado como isso se dá na prática do policiamento ostensivo. De acordo com o estudo, ser negro no Rio de Janeiro ou em São Paulo significa ter um risco 4,5 vezes maior de sofrer uma abordagem policial, em comparação com uma pessoa branca. Enquanto 20% dos primeiros passaram por essa experiência por pelo menos 10 vezes, os brancos nessa condição são pouco mais de 8%.

"Isso considerando que a maioria dos entrevistados era jovem, com até 35 anos. Ou seja, não são pessoas que viveram muito tempo e, por isso, poderiam acumular muitas experiências. Elas lembraram de 12, 18, 24 abordagens", enfatiza Elena Wesley, porta-voz do data_labe, que realizou a pesquisa em parceria com o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD).

Elena chama a atenção para outra característica dos participantes: no momento da entrevista, realizada entre maio e junho de 2021, 74% não moravam em comunidades e 78% estavam cursando ou haviam concluído um curso superior. "Isso demonstra que a ascensão social não implica em mudanças na forma como um negro é percebido socialmente", avalia.

Independentemente da cor da pele, menos de 20% dos suspeitos foram levados à delegacia. Para Elena, trata-se de uma prova significativa de que os protocolos precisam ser repensados. "Eles exageram e não encontram nada. Será que esses policiais poderiam estar fazendo algo que, de fato, trouxesse segurança para a população?", questiona. "Hoje, essas ações resultam em medo da polícia ou falta de credibilidade na atuação dela".

A pesquisa foi aplicada em todo o território nacional, e optou-se por concentrar os resultados do Rio de Janeiro e de São Paulo pela maior representatividade matemática. Mas, segundo Elena, as respostas indicam que essa realidade se repete pelo resto do país. A coluna separou alguns fortes indícios de que as abordagens se dão de uma forma diferenciada.

Como agem

80% das pessoas negras já foram abordadas pela polícia. O índice das pessoas brancas é de 20% .

46% das pessoas negras abordadas ouviram referências explícitas à sua cor/raça feitas pelo(s) agente(s) de segurança. O índice das pessoas brancas é de 7%.

89% das pessoas negras relataram ter sofrido violência física, verbal ou psicológica na abordagem. O índice das pessoas brancas é de 67%.

Mais de 80% das pessoas abordadas, independentemente da cor/raça, não foram conduzidas à delegacia.

FESTIVAL

Vida longa ao Latinidades

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. (foto: Gabriela Pires)

Um dos pontos altos da 15ª edição do Festival Latinidades, realizado no último dia 23, no Museu Nacional, foi a homenagem prestada às nossas griôs. O evento reuniu nossas "rosas em vida", algumas das 50 mulheres que "abriram caminhos para estarmos aqui hoje", define Jaqueline Fernandes, a organizadora. "Nossos passos de fato vêm de longe e sempre em coletividade. Quem participou do Latinidades teve a oportunidade de viver um grande encontro intergeracional de saberes e fazeres e comprovar a potência e a diversidade das articulações das mulheres negras brasileiras e de mais 10 países da África e da América Latina. O Latinidades é um legado, não apenas para o Distrito Federal, mas para toda a região", enfatiza. Estiveram nesse encontro poderoso Cida Bento, Creuza Oliveira, Kátia Tapety, Mãe Dora, Nilcemar Nogueira, Mãe Baiana de Oyá, Maria Luiza Júnior, Sueli Carneiro, Epsy Campbell, Nilza Iraci, Mãe Neide, Lydia Garcia e Valdecir Nascimento (da esquerda para a direita).

ELEIÇÕES 2022

Cotas nas universidades é tema-chave

Um "teste de votação" conduzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública, ligado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mostra que as cotas raciais nas universidades públicas são tema importante nas eleições deste ano. A pesquisa qualitativa Raça e Voto mostra que os eleitores negros brasileiros preferem votar em um candidato que defenda essa política pública do que aqueles que prometem melhorias no seu bairro. A justificativa do grupo é de que a política de cotas aumenta as oportunidades. A mesma pesquisa mostra que, entre um candidato com discurso favorável às contas e outro focado em segurança pública, os eleitores negros tendem a escolher o primeiro, mas com uma margem apertada.

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    . Foto: Gabriela Pires
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    . Foto: Gabriela Pires
  • Elena Wesley, porta-voz do data_labe
    Elena Wesley, porta-voz do data_labe Foto: Crédito pessoal
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