Eu, Estudante

Coluna Saber

A tendência das novas gerações em fazer apenas o esperado

Entenda mais sobre a nova postura profissional que vai na contramão do workaholic

Em maio deste ano, abordamos na Coluna Saber o fenômeno internacional das demissões em massa, ocasionado principalmente por uma busca por equilíbrio de vida e saúde, que surgiu como uma ressaca coletiva pós pandemia de covid-19. Nas últimas semanas, um novo termo relacionado à postura profissional das novas gerações no mercado de trabalho surgiu, o quiet quitting, que em uma tradução livre do inglês significa demissão silenciosa.

Diferentemente dos pedidos de demissão voluntários e formalizados, essa nova tendência leva os profissionais (principalmente os mais jovens) a fazerem exatamente aquilo que é esperado de sua função, mesmo que isso signifique estar mais suscetível a ser substituído ou despedido do emprego. Indo na contramão dos workaholics, que são os profissionais que trabalham demasiadamente, os quiet quitting não engajam em longas jornadas de trabalho, funções extra ou acúmulo de responsabilidades para além daquilo que foram diretamente contratados.

As motivações para o comportamento dos quiet quitting podem ser em parte explicadas por uma tendência geracional em valorizar um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas existem condições do próprio mercado de trabalho atual que também influenciam diretamente o surgimento desse novo movimento.

No livro Não aguento mais não aguentar mais: Como os millennials se tornaram a geração do Burnout, a jornalista norte-americana Anne Helen Petersen faz uma análise histórica recente focada em aspectos da economia e política internacional que mudaram drasticamente as condições de trabalho nas últimas décadas. Apesar da narrativa do livro ser focada no contexto dos EUA, as forças que modificaram o mercado de trabalho estadunidense foram as mesmas que agiram ao redor do mundo: a globalização, o aumento da informalidade, a flexibilização da legislação trabalhista e a diminuição do poder dos sindicatos contribuíram para que as condições de trabalho se tornassem mais precárias, sobrecarregando colaboradores ao redor do mundo.

Os millennials, geração nascida entre 1981 e 1995, cresceram em lares nos quais os pais tinham ou buscavam empregos estáveis, passando anos (décadas até) em uma mesma organização, que os fornecia estabilidade, segurança e a possibilidade de se comprometerem com planos financeiros e pessoais de médio a longo prazo, como comprar uma casa, sustentar os filhos e poupar para a aposentadoria.

A promessa para os millennials era a de que se eles se dedicassem e estudassem, teriam um futuro promissor pela frente, com possibilidade de realizar sonhos materiais e construir uma carreira significativa. Mas o cenário profissional da atualidade é incerto, competitivo e globalizado. O que os millennials encontraram ao chegar no mercado de trabalho, no entanto, são ocupações que demandam muito mais dedicação e esforço do que entregam uma estabilidade e ganhos que os façam realizar seus sonhos e aspirações. Esses são os elementos que explicam o motivo pelo qual essa geração desenvolveu Burnout, que é um esgotamento físico, psicológico e emocional por excesso de trabalho durante um longo período de tempo.

As gerações que estão entrando no mercado de trabalho depois dos millennials, ao observar os fracassos do sonho de carreira da geração anterior, já chegam com uma postura mais cética e fronteiras claras sobre o seu escopo de atuação. Se trabalhar em excesso não surtiu bons efeitos (pessoais, financeiros e profissionais) para a geração anterior, por que repetir um padrão que leva ao esgotamento e não traz os resultados desejáveis?

Me escrevam compartilhando as suas reflexões sobre essa tendência e como ela se aplica à sua realidade profissional atual.

 

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