O currículo é o primeiro contato entre o recrutador e o candidato. Em sua elaboração, o profissional deve ter como princípio convencer de que está apto a merecer a vaga e de que forma poderá contribuir para o crescimento da empresa. Por isso, estruturar esse documento de forma correta exige atenção e clareza.
Para entrevistas e processos seletivos, o envio prévio do currículo é essencial para a promoção de análise completa das qualificações do candidato. É por meio dessas informações que ele mostra previamente algumas de suas habilidades, experiências mais relevantes e organização de ideias.
A biomédica Jéssica Andréa de Almeida, 33 anos, está ansiosa para ingressar no mercado de trabalho. A profissional acredita que sua experiência como educadora social voluntária, monitoria em creche e assessoria em campanha política será fundamental para a conquista de uma vaga. "Essa trajetória fez com que eu desenvolvesse ainda mais minhas habilidades técnicas e de comportamento. A dúvida que tenho é sobre como elaborar um currículo atrativo, se é preciso ter objetivo, discorrer sobre minhas qualidades ou se o melhor a fazer é apresentar um currículo mais básico", diz.
Jéssica afirma que, no momento, está empenhada na busca por qualquer oportunidade na área administrativa ou mesmo fazer uma outra graduação. "Estou tentando entrar na área da biomedicina há um tempo, mas como não possuo experiência está praticamente impossível", lamenta.
Para o gerente-executivo da PageGroup, Sergio Castellano, empresa de recrutamento de pessoas, o currículo é como um cartão de visita e deve estar tão bem ornamentado como tal. "A primeira impressão é a que fica. Layout, organização e formatação ajudam a conhecer o candidato", diz o especialista sobre o peso que um currículo representa em uma candidatura. "Se a pessoa não se dedica à produção de um material que vai servir como avaliação, então ela não tem um bom perfil", afirma.
O currículo ainda auxilia na percepção sobre as habilidades complementares às técnicas necessárias para desempenhar a função desejada. Segundo Castellano, quem não sabem estruturar currículos da melhor forma possível pode ter dificuldade em desempenhar atividades com as ferramentas de uso diário da profissão. "As pessoas precisam se preocupar com o que colocam em destaque em seus currículos", afirma.
O especialista explica, ainda, que no Brasil existe uma forte cultura que define um bom currículo como aquele que todas as funções passadas são descritas no material, embora isso seja uma prática ruim aos olhos do RH, principalmente porque os recrutadores não podem dispor de horas e horas para destrinchar um único currículo. Para ele, o melhor método quanto ao registro de experiências passadas, é o mix entre as recentes e importantes funções e realizações profissionais durante o tempo em cada cargo. Nos Estados Unidos, este método é o preferido entre as grandes corporações.
Objetividade é unanimidade
Especialistas em RH são unânimes ao afirmar que um currículo eficiente não deve conter mais de três páginas. Por isso, é importante colocar apenas informações precisas e importantes sobre você e sua trajetória. As experiências profissionais devem estar dispostas cronologicamente, das mais recentes para as mais antigas. Para os cinco últimos cargos ocupados é necessário colocar especificações sobre as conquistas. Nas cadeiras anteriores a estas, Castellano, sugere que seja apenas empresa e período.
O gerente de aquisição de talentos, da consultoria de recursos humanos Digital Hunters, Marco Vasconcelos, alerta sobre o uso de fotos em currículos profissionais, que apesar de ser opcional, pode ser um diferencial. "Quando colocar uma foto, é importante que ela esteja alinhada com sua profissão. Que traga a sensação de comprometimento, profissionalismo, simpatia e cuidado", comenta. Ainda segundo ele, a foto escolhida precisa ter relação direta com o tipo de cargo pretendido, como fotos com traje comum ao cotidiano. Ele alerta que não é recomendado inserir fotos com exageros, principalmente roupas e adereços que possam causar polêmicas, como itens religiosos e de times de futebol. Caso o contrário, pode ser que a foto mais atrapalhe do que ajude, podendo, ainda, moldar a análise do recrutador.
Outro fator para o qual o especialista chama atenção é a idade no mercado de trabalho. Muitas empresas ainda cultivam a ação de optar por pessoas mais maduras e, em alguns casos, pessoas mais jovens. Para evitar decepções, Vasconcelos sugere que os candidatos verifiquem a faixa etária definida nas descrições da vaga. "Procure colocar a data de nascimento em vez da idade", aconselha.
Há outros formatos de currículos que estão, pouco a pouco, tomando o mercado, como os vídeos de apresentação, que são enviados diretamente a empresas, anexados a plataformas de recrutamento ou publicados em redes sociais voltadas ao desenvolvimento profissional, como o Linkedin. Para esses formatos, o ideal é manter os vídeos atualizados sempre que houver uma nova formação ou especialização importante. E pensar na imagem que se deseja passar através da tela, sem deixar de lado sua identidade pessoal.
Gerente sênior de recursos humanos da Catho — empresa e plataforma de encaminhamento profissional —, Carolina Tzanno avalia que, em vídeo, o candidato deve se portar como se estivesse escrevendo uma carta de apresentação. Segundo ela, a articulação neste conteúdo precisa ser bem desenvolvida. "É imperativo mostrar todas as qualidades de forma objetiva", diz.
Ela afirma, também, que é necessário adicionar fotos ao currículo apenas se o recrutador solicitar e em formato 3x4, evidenciando o rosto. Tzanno é mais uma a alertar que a idade também não deve ser informada para evitar interpretações prévias. "O momento certo de apresentar sua idade será durante uma conversa com o entrevistador, caso ele pergunte, ou no envio dos documentos pessoais durante a contratação", diz.
Carolina esclarece que não existe momento específico para o envio dos currículos, isso porque depende de muitos fatores, como o horário em que o candidato foi acionado pelo recrutador. "A mensagem em si pode ser mais objetiva, já que as informações mais detalhadas estão no próprio currículo. Observe a forma como o recrutador se comunica e tente seguir o mesmo padrão, mostrando que você já está atento à cultura da empresa na qual deseja trabalhar", sugere.
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende