Pretos no Topo

O que querem as mães do DF

A convite da coluna, mulheres contam os desejos que não cabem dentro de embrulhos, mas que também enchem os olhos e o coração

Carmem Souza
postado em 14/05/2023 06:00 / atualizado em 14/05/2023 06:00
 (crédito: Arquivo Pessoal/Reprodução)
(crédito: Arquivo Pessoal/Reprodução)

“Vivenciando de uma forma tão intensa a maternidade e sendo uma mulher negra que gerou um filho negro, o que mais desejo é que ele e todas as outras crianças possam viver em liberdade, uma liberdade real, porque a gente sabe o tanto que o racismo aprisiona. De forma direta, pelos atos discriminatórios e racistas. Mas também de uma forma indireta, simbólica, que é aquele cerceamento que você mesmo acaba incorporando da sociedade e não consegue transitar livremente, se sentir pertencente aos espaços. Me entristece muito quando penso que alguns lugares podem vir a ser cerceados para o trânsito livre do meu filho simplesmente pelo racismo. Então, eu desejo mesmo que a gente possa ir vencendo essas barreiras como sociedade, porque a luta antirracista é um compromisso de todos.

Ana Luísa Coelho Moreira, 40 anos, mãe do Akin, 2 meses, e psicóloga
Ana Luísa Coelho Moreira, 40 anos, mãe do Akin, 2 meses, e psicóloga (foto: Arquivo Pessoal)

Desejo também que a gente possa aprender com as crianças. Elas interagindo, brincando, estão despidas desse lugares que, depois, a gente vai construindo para elas, do que pode e o que não pode, de quem pode e quem não pode. Basta ter um olhar cuidadoso, carinhoso para perceber, nas crianças, a alegria, a satisfação em simplesmente brincar, em ter uma companhia para poder ser criança, ser adolescente. Mais na frente, se forma um jovem, um adulto, um idoso com dignidade, sem sentimentos tão árduos que muitas pessoas, como eu, já passamos para poder pertencer a algum lugar.”

Anita Gracielle Mendes Xavier,37 anos, mãe da Melissa,5,do Caio, 1, e bancária
Anita Gracielle Mendes Xavier,37 anos, mãe da Melissa,5,do Caio, 1, e bancária (foto: Arquivo Pessoal)

“Meus filhos são o meu maior presente. O meu propósito de vida é amar, cuidar, proteger e orientar. E quero ser o maior exemplo para eles. Tratar a todos com igualdade e respeito, conviver com diferentes culturas e raças. Mostrar que as questões políticas e sociais fazem parte da nossa vida e que, para ser pra todo mundo, tem que ter lugar pra todo mundo. Nem todos têm as mesmas oportunidades, e é nosso dever mudar essa realidade. Tento oferecer todo o suporte para as atividades cotidianas e principalmente no que tange à educação, pois acredito que a participação da família na escola impacta positivamente no rendimento, na produtividade e na formação de cidadãos com consciência política, que defendam a democracia, que façam escolhas conscientes pelo bem de todos.”

Marina de Ávila Noronha, 26 anos, mãe da Diana,7,e socióloga
Marina de Ávila Noronha, 26 anos, mãe da Diana,7,e socióloga (foto: Arquivo Pessoal)

“O imaginário sociocultural em torno da maternidade é tão consistente que, mesmo com todas as dificuldades — principalmente aquelas que atingem mães e filhos em vulnerabilidade econômica e social — que aparecem no processo de tornar-se mãe, estas serão quase sempre minimizadas ou invisibilizadas em função de pensarmos as mulheres como possuidoras de uma ‘essência feminina’ que as orienta, naturalmente, para as necessidades de seus filhos. Nos contextos dessas idealizações, entretanto, a imagem cultural da maternidade torna-se, sem dúvida, incompatível. Na maternidade real, nem tudo são flores e, nesse dia das mães, eu desejo de presente mais respeito e menos preconceito. Mais respeito às escolas e às creches — com uma educação inclusiva de qualidade. Mais respeito dentro dos espaços acadêmicos e de trabalho. Menos preconceito e exclusão nos espaços públicos — porque tanto a mãe quanto o filho têm direito ao lazer e ao brincar. Que neste dia das mães, todos percebam que todo dia é dia das mães e que o fortalecimento das mulheres e sua plena participação, em condições de equidade, nas esferas social, política e econômica são fundamentais para o alcance de igualdade, desenvolvimento e paz. Nós, mães, merecemos respeito e lutamos para que nossos filhos sejam lembrados, incluídos e, também, respeitados. Vamos distribuir mais amor e empatia!”

Renata Santana Claudino, 38 anos, grávida de 6 meses, mãe do Samuel, 5 anos, e professora
Renata Santana Claudino, 38 anos, grávida de 6 meses, mãe do Samuel, 5 anos, e professora (foto: Arquivo Pessoal)

“Tenho um filho de 5 anos e estou grávida. O que eu considero um grande presente para o dia das mães é continuar proporcionando aos meus filhos uma educação de qualidade, ter tempo significativo com eles, conseguir ver de perto seu desenvolvimento e suas descobertas, acompanhar todas as suas conquistas. Que eles respeitem e sejam respeitados independentemente de suas escolhas. E, principalmente, que eles não sofram nenhum tipo de preconceito. Além disso, como gestante, meu maior presente seria um atendimento humanizado e de qualidade pelo SUS, onde faço o meu pré-natal, que fossem respeitados todos os meus direitos, como mulher e mãe, na hora do parto e depois dele. Que tenha uma boa infraestrutura no hospital e com bons médicos obstetras que me acompanhem durante toda a gestação. E que minha filha venha com saúde. Maior presente não há.”

 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação