Inovação

Decifrando a idade biológica com maior precisão

Processo criado pelo cientista brasiliense Lucas Camillo detecta com maior grau de acerto a idade biológica das pessoas por meio de sangue, saliva ou amostras de tecido

Samara Oliveira*
postado em 28/05/2023 06:00 / atualizado em 28/05/2023 06:00
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

O brasiliense Lucas Paulo de Lima Camillo, 24 anos, inovou ao criar um programa capaz de detectar com maior grau de assertividade a idade biológica das pessoas, por meio de sangue, saliva ou amostras de tecido. Esse tipo de medição, anteriormente feita com a utilização de modelo matemático desenvolvido por Steve Horvath, apresentava margem de erro de 3,5 anos. Agora, com a nova tecnologia desenvolvida por Camillo,a margem de erro cai para 2,2 anos, o que torna as medições mais precisas.

Ao ingressar no curso de bioquímica na Brown University dos EUA, o jovem se expôs a uma série de matérias de ciências interdisciplinares. Em seus 2 anos de pesquisa, Lucas teve a oportunidade de exercitar seus conhecimentos, em especial com a chegada da pandemia. A situação em que o jovem se encontrou o impulsionou a fazer seu melhor pela evolução na área da saúde.

Já formado, Camillo publicou, no ano passado, um artigo pela revista científica npj Aging, especializada em envelhecimento, sobre o biomarcador. Segundo ele, a pesquisa, iniciada no auge da pandemia, foi uma forma de unir os conhecimentos em matemática e computação ao seu grande interesse pela saúde. 

Camillo explica que a base do chamado Altum Age utiliza um tipo de dado chamado metilação do DNA, que pode ser encontrado a partir de qualquer amostra de tecido do corpo. Durante o processo, esses dados entram no algoritmo a partir de um método de inteligência artificial denominada rede neural, que ensina os computadores a pensarem de forma inspirada no cérebro humano. "A metilação e a amostra viram vários dados. Com o algoritmo você consegue ler esses dados e, a partir daí, medir a idade biologica", conta.

Lucas Camillo
Lucas Camillo (foto: Arquivo Pessoal)

A idade cronológica difere da idade biológica: ao passo que a primeira reflete os anos de vida contados desde o nascimento, a segunda não necessariamente a acompanha. Uma pessoa pode ter 70 anos, mas sua idade biológica muda a depender de seus hábitos, portanto, pode ser biologicamente mais velha ou mais nova que as aparências. 

Apesar de ainda não estar em escala comercial, a pesquisa do brasileiro foi muito comemorada pela comunidade científica. Por enquanto, a aplicação da pesquisa se restringe às academias científicas e algumas empresas americanas, mas o plano é ampliar sua utilização em estudos clínicos e laboratoriais. "Um dos desafios da pesquisa é a necessidade de realizar a medição em centenas de lugares do corpo. No futuro, ao invés de precisar de todos esses dados, poderemos usar um número mais reduzido, o que minimizaria os custos da medição", diz. "Trata-se de uma pesquisa contínua, conforme a matemática e a tecnologia evoluem" destaca.

A saúde sempre foi um grande interesse para o jovem cientista, que hoje cursa medicina com apoio da bolsa de estudos Tech Fellow, programa de incentivo da Fundação Estudar. "Sempre tive vontade de fazer algo que provocasse impacto na saúde das pessoas", ressalta Camillo, determinado a aprofundar suas pesquisas sobre envelhecimento humano. "A maioria das doenças que afetam o corpo são relacionadas à idade", completa.

O Tech Fellow, programa que já levou centenas de jovens como Camillo para estudar no exterior, está com inscrições abertas até 5 de junho. Voltado a estudantes promissores da área de tecnologia, o programa oferece, neste ano, R$ 1 milhão em bolsas de estudo. Para participar da seleção, o candidato deve estar em processo de aceitação, matriculado ou inserido na área de tecnologia.

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

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