Três estudantes de escola pública de Brasília brilharam na segunda edição do Festival LED — Luz na Educação, que aconteceu nos dias 16 e 17 de junho no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro, reunindo 6 mil. A rede de empreendedorismo social reconheceu a nova turma de jovens transformadores, composta por alunos entre 13 e 20 anos de idade, que sonham em criar um futuro melhor para todos. Esta foi a maior turma reconhecida pela Ashoka, com mais de 20 finalistas selecionados.
Esses jovens representam uma nova geração de lideranças sociais no país e têm como propósito transformar o mundo em um lugar mais justo, igualitário e sustentável, além de inspirar outras pessoas a perceberem a potência que
carregam dentro de si. Os estudantes Isabela Rodrigues, 18 anos, Isadora Rodrigues, 18, e Leonardo Pereira Neto, 19, afirmam que a mudança e inclusão social é possível quando há incentivo.
Co-criadora, juntamente com sua irmã gêmea, do projeto Jovens Líderes pela Paz nas Escolas, Isabela comemora a expansão do projeto, que antes era apenas a nível regional. "Estamos investindo muito no projeto e ainda discutindo opções de crescimento a nível nacional", disse uma das autoras da iniciativa, que levou o prêmio LED 2022 . "Vale ressaltar que não criei esse projeto sozinha. Foi um trabalho conjunto, que contou com a ajuda da Isadora e do Eduardo. Hoje, o projeto conta com cerca de 60 voluntários", destaca Isabela.
Da maior favela do Brasil para o mundo
Moradora do Sol Nascente, no DF, considerada a maior favela do Brasil, Isabela ingressou no projeto ainda em 2022, ao se deparar com um post on-line de Eduardo, mostrando sua indignação com a situação de violência e insegurança no ambiente escolar. “Uma mudança precisava e precisa ser feita, e de baixo. E, para ter êxito, precisava iniciar com os jovens”, diz ela.
O projeto vencedor do evento visa, por meio da cultura de paz nas escolas, proporcionar mais oportunidades para alunos de escolas públicas e reduzir a taxa de evasão escolar. “Durante o ano, a gente desenvolve cinco atividades nas escolas, mas, para que isso ocorra, elegemos nessas escolas jovens líderes que queiram estar à frente do desenvolvimento das atividades”, afirma.
A premiação garantiu visibilidade e continuidade ao projeto do trio, que pretende, agora, reforçar a busca por um ambiente de convivência pacífico e respeitoso, contribuindo para a construção de uma cultura de paz. “Para alcançar nosso objetivo, desenvolvemos as atividades da cartilha escolar, criada pela Secretaria da Educação e pelos educadores do DF, como a busca ativa, a semana da saúde mental, os clubes de interesses e os murais de oportunidades”, explica Isabela.
Apesar de terem vencido juntas o prêmio LED 2023, as irmãs seguem trajetórias distintas no projeto Jovens Transformadores. Isadora rege, agora, a iniciativa GirlUpMun, que consiste em uma simulação da Organização das Nações Unidas (ONU), focada no debate de questões que contribuem para o crescimento da desigualdade de gênero e que muitas vezes são invisibilizadas pela sociedade. Essa simulação ocorre uma vez por ano, de forma on-line. “Escolhemos temas mais presentes na sociedade e, a partir disso, montamos comitês e criamos processos seletivos para que os interessados escolham suas delegações” conta Isabela.
Ela reforça que o GirlUpMun busca promover a conscientização e o empoderamento das mulheres, buscando a equidade de gênero em todas as esferas da sociedade. “Como mulher, sempre fui muito impactada negativamente pela desigualdade de gênero. Saber que as mulheres sofrem mais pra conseguir algo que os homens sempre tiveram me impactou muito, não só por ser mulher, mas por saber que minhas irmãs, primas, e outras milhões de mulheres do mundo sofrem com isso”, destaca a jovem. “Não queria continuar vendo isso acontecer e ficar de braços cruzados”, completa.
A partir daí, Isadora passou a se envolver em projetos e comunidades de apoio às mulheres, onde conheceu a GirlUP, uma iniciativa da ONU. Ela relembra que, com o envolvimento na sociedade, pensou em outros projetos de conscientização e aprendizados sobre os direitos femininos, surgindo, assim, o GirlUpMun.
Idiomas
Outro brasiliense reconhecido como Jovem Transformador é Leonardo Neto. Natural de Ceilândia, ele foi o autor da Iniciativa Wanderlust — vontade de caminhar, em alemão —, que oferece ensino gratuito de idiomas para pessoas socialmente desfavorecidas, tanto em pequenas quanto em grandes cidades. “O Wanderlust surgiu quando percebi que muitas pessoas do Brasil não tinham acesso ao aprendizado de idiomas e línguas estrangeiras. No Distrito Federal, tive a oportunidade de estudar no Centro Interescolar de Línguas de Ceilândia, o CILC, e também no Centro Interescolar de Línguas de Brasilia, o CIL, onde tive a oportunidade de aprender inglês, francês e alemão gratuitamente”, conta.
Leonardo explica que ao conversar com jovens de outros estados do país se inteirou de outras realidades, percebendo que a maioria deles não teve a mesma oportunidade. “Foi nesse momento que surgiu a iniciativa Wanderlust. Nosso objetivo não é apenas fazer com que os jovens aprendam novas línguas, mas conectá-los com oportunidades de intercâmbio e de crescimento pessoal”, destaca.
O estudante, que já foi jovem embaixador do Brasil nos Estados Unidos, afirma que só teve essa chance por falar inglês. “A ideia é trazer o aprendizado de idiomas como uma porta de entrada para oportunidades significativas”, reforça. “A iniciativa Wanderlust é uma proposta de emancipação e de mobilidade social”, completa Leonardo, ao enfatizar o papel transformador do aprendizado de idiomas.
O Wanderlust, afirma Leonardo, já impactou direta e indiretamente mais de mil pessoas e funciona a partir de um processo seletivo de estudantes de baixa renda que são integrados a uma rede de professores voluntários. O jovem esclarece que esse processo ocorre por meio de um formulário e entrevista com o candidato para analisar suas motivações. Passada a primeira etapa, segundo ele, o selecionado terá acesso às aulas semanais com duração de 1h30 durante um semestre. “Depois desse período a gente insere o aluno em uma comunidade onde ele terá acesso a divulgação de oportunidades”, diz, revelando que, até o momento, o projeto oferece mais de oito línguas, entre elas inglês, francês, alemão, russo, mandarim e italiano.
Ao fazerem parte do grupo de Jovens Transformadores, os três brasilienses têm acesso a outros projetos e participantes. Andrea Lopes, porta-voz da Ashoka, explica que a rede de empreendedorismo de jovens inovadores os coloca em contato com diversos projetos ao redor do mundo para que eles possam expandir suas ideias e ampliar conexões. Ela reforça que as iniciativas dos jovens já são funcionais e aplicadas à sociedade. “Não se trata de algo que ainda vai acontecer. Já está acontecendo”, diz. “Essa é a maior turma da Ashoka, e é incrível poder ter acesso a todo esse networking porque são todos jovens que lutam e batalham muito para transformar suas comunidades”, relata. (A estagrária viajou para o Rio de Janeiro a convite da Rede Globo)
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende
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