SEGUNDA GRADUAÇÃO

Engenheiro de 58 anos troca carreira executiva pela faculdade de medicina

Após 33 anos na área industrial, Cláudio Valente abandonou cargo em multinacional para seguir o antigo sonho de ser médico

Samara Bandeira*
postado em 30/07/2023 06:00 / atualizado em 30/07/2023 06:00
No penúltimo ano da nova graduação, Cláudio Valente diz ter feito a escolha certa:
No penúltimo ano da nova graduação, Cláudio Valente diz ter feito a escolha certa: "A medicina é deslumbrante" - (crédito: Arquivo Pessoal)
int(13)

Cláudio Valente, pai de quatro filhos, ocupava cargo executivo em uma multinacional quando decidiu, aos 50 anos, mudar de vida e dar início ao curso de medicina. O engenheiro mecânico enfrentou as incertezas da decisão, os preconceitos com a idade e abraçou o antigo sonho.

Desde a juventude, Cláudio nutria um interesse profundo pela área médica. Mas as demandas financeiras e a necessidade de sustentar a família o levaram a abrir mão do objetivo, optando pela carreira de engenheiro. "Eu trabalhava durante todo o dia e, à noite, seguia para a faculdade para estudar", relembra. Nascido em São Bernardo do Campo (SP), uma região conhecida por sua oferta de empregos na área industrial, Valente passou 33 anos de sua vida trabalhando em uma fábrica automobilística, contribuindo para o sustento da família.

"Durante muito tempo, eu nem pensava mais na medicina. As coisas haviam estabilizado, eu havia passado de técnico a gerente de manutenção na empresa onde trabalhava", conta ele. Mas ainda faltava uma peça na história de Cláudio para que ele se sentisse totalmente realizado.

Com a aposentadoria se aproximando e sua vida financeira mais estável, ele sentiu que era o momento de resgatar seu antigo desejo, adormecido pelo tempo. Determinado a alcançar essa meta, Cláudio decidiu ingressar em um cursinho preparatório para o vestibular. Mesmo ciente dos desafios que enfrentaria, o agora estudante não deixou que a idade fosse um obstáculo para seguir seu sonho.

"Meu maior desafio foi abandonar uma carreira de 30 anos para ingressar em um meio de pessoas muito mais jovens", conta. "Eu já não lembrava mais de nada, tive que reaprender tudo e, nesse momento, precisei respirar fundo para não desanimar", completa Cláudio.

Desafio

.
. (foto: Arquivo Pessoal)

Durante o processo de estudo para o vestibular, Valente teve de ouvir diversos comentários desanimadores, como "é muito difícil" ou "já está há tantos anos na área. Por que sair?". Mas nenhum deles afetou a determinação do então vestibulando. Ele continuou a se esforçar e, ao fim do primeiro ano de cursinho, ficou na 20ª colocação na última chamada do vestibular.

Valente não apenas no sobrenome, Cláudio manteve acesa a força de vontade para seguir seu sonho. Aos 53 anos, após dois anos de preparação árdua e dedicação intensa, Cláudio prestou o vestibular em 2019 e teve a alegria de ser aprovado em duas universidades: a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com a decisão de frequentar a Unicamp, o então calouro da faculdade de ciências médicas e sua família se mudaram para a cidade do interior do estado, proporcionando a ele um ambiente propício para se dedicar integralmente ao curso de medicina.

"Passar me trouxe uma intensa sensação de superação e realização", conta Cláudio, ao relembrar o momento da vitória. O estudante de medicina diz que, apesar da dificuldade teórica do primeiro ano de faculdade, a integração na turma foi tranquila. "Eu nunca senti nenhum tipo de discriminação etarista na minha turma. Somos bem variados, com colegas calouros dos 17 aos 53", completa.

O aluno da turma 57 de 2019 está, agora, aos 58 anos, no quinto e penúltimo ano de graduação, já na residência para a área de clínica médica. "Acho essa área interessante porque é a base, é saber reconhecer o sistema de saúde", comenta Cláudio sobre sua escolha. "Se antes eu gostava de medicina, quando entrei, eu fiquei maravilhado. Talvez se eu soubesse antes o quanto a medicina é deslumbrante, os rumos teriam sido outros", revela.

Cláudio Valente acredita ser um exemplo de como os sonhos não têm data de validade, em especial se houver uma rede de apoio. "Uma coisa é certa: se eu consegui estar onde estou hoje, é graças ao suporte da minha família, que desde o início me apoiou em todas as minhas escolhas", destaca o futuro médico.

*Estagiária sob a supervisão de Denise Britto

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação