desigualdade de gênero

O trabalho feminino de cuidar dos filhos vale US$ 627 bilhões por ano

Uma pesquisa mostrou que as mulheres gastam o dobro de tempo cuidando dos entes queridos, o que renderia US$ 4.600 anualmente para cada uma

Correio Braziliense
postado em 16/08/2023 16:18 / atualizado em 16/08/2023 16:19
Se as mulheres recebessem por esse tempo gasto com cuidados dos filhos ou da família de modo geral, cada uma ganharia cerca de US$ 4,6 mil anualmente -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Se as mulheres recebessem por esse tempo gasto com cuidados dos filhos ou da família de modo geral, cada uma ganharia cerca de US$ 4,6 mil anualmente - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
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As mulheres estão mais propensas a gastar mais horas cuidando de seus entes queridos do que os homens e isso representa uma lacuna que gera perda financeira significativa para a população feminina. Foi isso o que mostrou uma pesquisa realizada pela ONG National Partnership for Women & Families, que analisou o uso do tempo dos norte-americanos em 2022.

O estudo constatou que os homens relatam gastar pouco mais de 26 minutos por dia cuidando de crianças, outros membros da família e pessoas fora de casa, enquanto as mulheres gastam, em média, 52 minutos. Isso significa que as mulheres gastam cerca de 25 minutos a mais de cuidados com terceiros por dia, totalizando 153 horas adicionais de cuidado anualmente, ou seja, quatro semanas completas de trabalho por ano.

Se as mulheres recebessem por esse tempo gasto com cuidados dos filhos ou da família de modo geral, cada uma ganharia cerca de US$ 4,6 mil anualmente. Enquanto isso, os homens receberiam por volta de US$ 2,3 mil. Esse valor foi calculado levando em consideração os salários médios pagos a um cuidador infantil ou a um auxiliar de saúde ou cuidados pessoais profissional.

Somente em salários, esse trabalho de cuidado não remunerado vale mais de US$ 300 bilhões anualmente para os homens e mais de US$ 625 bilhões para todas as mulheres.

Mulheres latinas gastam mais tempo com o cuidar

Os dados obtidos por meio da pesquisa também mostram que mulheres asiáticas, mulheres brancas, mulheres negras e latinas passam mais tempo cuidando do que os homens em geral. Dentre essas as latinas gastam mais tempo cuidando, com mais de uma hora gasta por dia com os filhos ou entes queridos.

Essas responsabilidades de cuidar estão moldando a vida profissional de mulheres e homens, bem como suas vidas domésticas. As mulheres sendo mais propensas a cuidar dos filhos, da casa e de familiares, afeta diretamente a remuneração das que trabalham fora de casa. Além disso, elas também têm maior probabilidade de enfrentar contratempos na carreira.

Essas desvantagens representam uma perda salarial de cerca de US$ 61 trilhões desde 1967. Em todas as raças e etnias, as mulheres nos Estados Unidos recebem apenas 77 centavos para cada dólar pago aos homens, o que acumula em um prejuízo de mais de US$ 12 mil por ano. Esse valor equivale a 17 meses de alimentação, quase 15 meses de creche ou o custo total das mensalidades e taxas em uma faculdade comunitária de dois anos.

No caso das mães solteiras e das mulheres negras, essa diferença é ainda mais acentuada. De acordo com o Current Population Survey, os lares de mães solteiras têm maior probabilidade de serem pobres do que os lares de pais solteiros e os lares de pais casados. Em 2021, 60% das famílias exclusivamente maternas eram economicamente inseguras, enquanto quase um terço vivia abaixo da linha federal de pobreza.

Mesmo para as mães que contam com o apoio de um parceiro, ainda existe perda salarial. Uma pesquisa analisou 800 mil informes de rendimentos, no período de 20 anos, e mostrou que todas as mães são atingidas pela chamada penalidade da maternidade, independentemente do salário ou da educação. Elas perdem, em média US$ 8 mil por ano com o nascimento do primeiro filho, enquanto os homens não sofrem impacto significativo.

Se essa mãe for negra, o prejuízo é maior. De acordo com a National Partnership for Women & Families, no atual ritmo de mudanças no que se refere às diferenças salariais de gênero, as mulheres negras terão que esperar mais de um século para alcançar a paridade salarial com os homens brancos.

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