Eu, Estudante

Inclusão

Preparação para o Encceja

Shopping da cidade oferece aulas para funcionários que não concluíram os ensinos fundamental e/ou médio

 
No Projeto de Escolarização, promovido pela Multiplan em conjunto com o ParkShopping, a história da funcionária Maria dos Remédios, 53, emociona. Ela largou os estudos aos 17 anos, quando ainda em sua cidade natal, no Piauí, casou-se e, logo em seguida, engravidou da primeira filha. Ao chegar a Brasília, Maria começou a trabalhar como doméstica e foi forçada a abandonar os estudos.  
Segundo a prestadora de serviços gerais, a vida no Nordeste não era fácil, principalmente após a morte do  pai, quando  tinha apenas 13 anos, mas seu sonho sempre foi ser veterinária. “A primeira oportunidade que vier, vou voltar a estudar e me tornar veterinária”, afirmou. 
Quando, em 2024, a iniciativa de aulas preparatórias para o Encceja surgiu para os colaboradores do shopping,  Maria se voluntariou para participar das aulas que ocorrem durante o horário de expediente por duas horas e duas vezes na semana. O que, segundo ela, tem sido uma experiência de muita aprendizagem. 
Os estudantes sob a responsabilidade da professora de história, especializada no segmento EJA,  Márcia Lima, 60, realizaram a última edição do Encceja, e, de acordo com Lima, ela acredita que seus alunos tenham se saído bem. “Muitos alunos sabem mais do que acreditam que sabem”, pontua.  
Para a professora, uma das maiores dificuldades apresentadas pelos estudantes está na redação. Maria ressalta que isso se deve às mudanças ocorridas nos padrões de texto entre gerações. Segundo ela, em sua época escolar, as produções textuais eram mais simples, e ela costumava escrever cartas de namorados para as mulheres em troca de dinheiro e era muito elogiada pelo trabalho. 
Para Anna Aimée Codeço, gerente de marketing do ParkShopping, o contato direto com os funcionários para a promoção do projeto, com intuito de captar os colaboradores que se enquadram no perfil do programa, foi uma estratégia essencial para conseguir o maior número de participantes na primeira turma. Assim como novas estratégias voltadas para permanência e ampliação da iniciativa com mais voluntários. 
Com aulas ministradas nas dependências do shopping e materiais didáticos e escolares gratuitos, o projeto permite que os funcionários obtenham o diploma dos ensinos fundamental e médio por meio da inscrição no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A primeira turma formou-se em setembro, quando 25 estudantes receberam o diploma em uma cerimônia. 

DF Alfabetizado 

Uma das iniciativas existentes no Distrito Federal para combate ao analfabetismo é o programa DF Alfabetizado, criado pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), que tem como um dos principais objetivos transformar a unidade da Federação novamente em um território livre de analfabetismo, como ocorreu em 2014, quando o DF recebeu o certificado dado pelo Ministério da Educação (MEC), que reconhece os municípios e estados que atingem alto índice de alfabetização; no caso do DF, tendo alcançado 96% 
Os maiores índices de pessoas sem escolaridade no DF, com base na Pdad 2024, concentram-se, em sua totalidade, nas regiões administrativas do entorno, tendo em primeiro lugar o Itapoã, com taxa de 8,4%, seguido pela região administrativa Fercal, com 5,7%; e em terceira posição estando o SCIA e a Cidade Estrutural, ambos com 5,4% do total.  
Yandra Martins/ CB Press - Lilian Sena, diretora da EJA na SEEDF
Segundo Lilian Sena, 48, diretora da EJA na (SEEDF), a oferta descentralizada de ambientes educacionais é essencial. “O estudante da EJA é um estudante trabalhador. A prioridade dele, por mais que queira muito estudar, é o trabalho”. Então, a proposta é acolher os alunos, defende a educadora que atua há 25 anos na área da educação, uma vez que um dos maiores desafios enfrentados pela Secretaria de Educação está em manter os alunos ativos na trajetória estudantil. Para que isso seja possível, estratégias como a criação de 106 escolas do segmento EJA espalhadas por todas as regiões administrativas e a formação de professores para lidar especificamente com esse público são implementadas. 
Para Lilian, a formação específica para professores que atuam na EJA é essencial, ela afirma: “Se um estudante chega à escola e percebe que não é acolhido e aquele ambiente não é pra ele, ele vai embora. Por isso, temos que partir da trajetória de vida do estudante”. Além de estratégias para permanência dos estudantes, também são utilizadas técnicas para alcançar aqueles que estão em situação de analfabetismo. Um exemplo é a busca ativa em comunidades, abordagem direta com a população e  divulgação de materiais impressos contendo informações de relevância.  
* Estagiária sob a supervisão de Ana Sá