Eu, Estudante

EXEMPLO PROFISSIONAL

Empresa Gol leva filhos de funcionários para conhecer rotina de trabalho dos pais

A escolha da criança sobre o que deseja seguir quando adulta pode ser estimulada tanto pela escola quanto pela família. As profissões dos pais, muitas vezes, podem servir de inspiração

A orientação profissional desde a infância contribui para os pequenos compreenderem o valor do trabalho e conhecerem diferentes áreas de atuação. Ao acompanhar de perto a rotina dos pais, as crianças começam a entender conceitos como responsabilidade, cooperação e compromisso — fundamentos essenciais para qualquer carreira. 
Segundo o pedagogo e professor da Faculdade Estácio Fabrício Abreu, que é mestre em psicologia, doutor em educação e pós-doutor em psicologia, e explica que projetos que permitem aos filhos conhecer o ambiente de trabalho dos pais têm grande relevância formativa. “As crianças estão em uma fase de ampliação de repertório e de compreensão das relações sociais. Ao observar as dinâmicas de trabalho e as funções de cada profissão, elas expandem sua percepção de mundo, enriquecem as experiências e fortalecem os vínculos familiares”, explica.
Ao vivenciar esse espaço, a criança passa a compreender, de forma concreta e significativa, as responsabilidades e a rotina dos adultos, percebendo como o trabalho organiza e integra a vida cotidiana. Além disso, sentir-se incluída nesse universo reforça o sentimento de pertencimento e valorização, fortalecendo laços afetivos e ampliando a compreensão das relações humanas. 
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Para Abreu, é importante que essa vivência seja planejada com cuidado e tenha um propósito definido. “Não basta permitir a presença da criança no ambiente de trabalho — que, muitas vezes, não é estruturado para ela. É essencial oferecer uma experiência mediada de forma sensível e adequada à faixa etária, preservando o caráter lúdico e educativo da atividade”, destaca Fabrício. 
É natural que, durante a infância, as brincadeiras reproduzam aspectos do universo adulto, especialmente das profissões mais próximas à realidade da criança. O clássico “o que vou ser quando crescer?” reflete esse repertório simbólico construído a partir das experiências, observações e referências do mundo ao redor. 
Ainda assim, o pedagogo faz um alerta: “A infância não deve ser encarada como um período de preparação para o mercado de trabalho, mas como uma fase de descobertas, imaginação e encantamento. É nesse tempo de experimentação que se constroem as bases do desenvolvimento integral.” 

Vida pessoal e vida profissional 

Divulgação/GOL - Tripulação reunida em Guarulhos, São Paulo
O trabalho ocupa um papel central na vida moderna — a ponto de, muitas vezes, ser difícil traçar limites entre “vida profissional” e “vida pessoal”. Para o psicólogo e psicanalista Felipe Minotto, especialista em teorias psicanalíticas pela Universidade de Brasília (UnB), essa relação começa a ser construída muito antes da vida adulta: ela tem raízes ainda na infância. 
Minotto destaca que a infância é o período mais fértil e criativo do desenvolvimento humano — um espaço onde a criança explora o mundo, experimenta possibilidades e se identifica com diferentes imagens e figuras ao seu redor. “A identificação é um processo fundamental da formação do eu, algo que começa na infância e nunca se encerra completamente”, explica. Segundo ele, essa construção ocorre a partir de imagens captadas da família, da cultura e das pessoas significativas. 
Essa noção de identificação, pontua o psicanalista, é essencial para compreender a relevância de ações que aproximam o universo familiar do mundo do trabalho. Ele  entende que  iniciativas que estimulam o diálogo entre pais e filhos sobre o valor do trabalho e as diferentes possibilidades de atuação profissional são importantes. “Essas ações criam um eixo entre família, vida e trabalho, promovendo tanto o desenvolvimento pessoal quanto o profissional”, afirma. 
O psicólogo também ressalta que o contato da criança com o tema do trabalho precisa ser cuidadoso. Embora o trabalho esteja presente desde cedo — afinal, os pais se ausentam para trabalhar, e isso já provoca reflexões nas crianças —, é importante que essa introdução não se limite à ideia de obrigação ou de esforço. “O contato com o mundo do trabalho pode gerar choques e até traumas, mas também pode abrir portas. A orientação profissional deve ser um processo que desperte curiosidade, mostre possibilidades e estimule a liberdade de pensar o futuro”, explica. 
Para o especialista, a curiosidade é um elemento-chave nesse processo. É ela que permite que as crianças se vejam em novos espaços, projetem o próprio futuro e compreendam que a formação pessoal é contínua. “Orientar não é apontar um caminho único, mas ajudar a criança a enxergar suas potencialidades e construir o próprio percurso”, reforça. 
Um aspecto cultural contemporâneo para o qual Minotto chama a atenção é a centralidade excessiva do trabalho na vida adulta. Ele lembra que doenças como o burnout e o esgotamento profissional têm se tornado cada vez mais comuns. “Muitos adultos estruturam toda a sua identidade em torno do trabalho, o que é um problema. Por isso, é importante que desde cedo se desenvolva uma visão mais saudável dessa relação, em que o trabalho seja parte da vida — e não o seu centro”, observa. 
Para ele, iniciativas de orientação profissional infantil contribuem para formar indivíduos mais equilibrados e conscientes. “Quando se fala em cooperação, responsabilidade e desenvolvimento, não se trata somente de preparar para o mercado de trabalho, mas para a vida. A criança aprende a aplicar o que descobre em todas as esferas da existência, transformando curiosidade em crescimento e autonomia”, conclui. 

Trabalho nas nuvens 

Divulgação/GOL - Piloto Willian Escribano e o filho Rafael Escribano
Para dar essa oportunidade à equipe e também comemorar o mês das crianças, a GOL Linhas Aéreas promoveu uma ação voltada aos filhos de seus colaboradores para aproximá-los das rotinas e responsabilidades da profissão dos pais. As crianças tinham entre 4 a 12 anos e participaram de um voo temático, vestidas com uniformes da companhia, e puderam acompanhar de perto o trabalho de pilotos, copilotos e comissários. 
Durante a experiência, os pais mostraram aos filhos como é o dia a dia antes e a bordo e a importância de cada função para a segurança e o atendimento aos passageiros. A iniciativa busca inspirar novas gerações e valorizar o papel dos profissionais que integram a empresa. O voo saiu do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com destino a Brasília, em uma aeronave decorada com o personagem da Turma da Mônica Chico Bento.  
Ainda na sala de embarque vip em Guarulhos, a tripulação-mirim recebeu todas as orientações para o voo e também ganhou kits com itens escolares para se distraírem. O comandante Willian Escribano falou sobre o significado especial da aproximação das crianças da rotina dos pais. “Hoje é um dia bem diferente e gratificante. Estamos acostumados a receber passageiros, mas, desta vez, quem embarcou foram nossos pequenos, com brilho no olhar e entusiasmo”, disse. 
Ele ressaltou que a experiência ajuda os filhos a entenderem o que significa a responsabilidade da profissão. “Eles veem o nosso dia a dia em casa, a gente saindo para voar, e agora puderam conhecer na prática como é o trabalho do papai e da mamãe. A aviação é paixão, é algo que passa de geração em geração”, afirmou. O filho do piloto, Rafael Escribano, de 9 anos, contou que foi a primeira vez que voou com o pai trabalhando e que achou que a viagem foi muito rápida. 
Ao chegar a Brasília, o copiloto também destacou a importância da vivência como inspiração. “Foi muito legal poder mostrar um pouco do que eu faço. A gente sabe que é muita informação dentro da cabine, mas eles ficam encantados”, contou. Para ele, o exemplo dos pais é parte essencial da formação das crianças. “Eles percebem o quanto é preciso estudo, disciplina e amor pelo que a gente faz. Mesmo sem entender tudo, já começam a admirar e respeitar a profissão”, disse. 
Divulgação/GOL - Letícia Mika
No intercomunicador, a filha da comissária Yuki Mika, Letícia, 13 anos, anunciou a ação para os demais passageiros. “Hoje é um dia muito especial para mim e para outras crianças que estão a bordo. Tivemos a chance de conhecer um pouquinho da rotina dos nossos pais e mães aqui na Gol e de ver de perto como eles cuidam de cada detalhe para que a viagem de vocês seja segura e especial. É um orgulho enorme acompanhar de perto o trabalho deles e poder estar aqui vivendo esse momento junto com vocês. Obrigada por fazerem parte dessa lembrança tão importante para nós”, apresentou. 
Os filhos participaram com curiosidade e espontaneidade no universo da aviação e o trabalho dos pais. “Eu achei legal ver o papai pilotando. É uma profissão bem difícil, mas muito bonita”, contou Júlia, 10 anos, filha do copiloto da companhia. Outra mini- -tripulante, empolgada com o convite, disse que o momento serviu também para aprender mais sobre responsabilidade. “Desde que a minha mãe começou a trabalhar, eu fui aprendendo várias coisas, como o que é reserva, sobreaviso e bate e volta. É legal ver de perto e entender como funciona”, afirmou. 
A equipe a bordo enfatizou durante toda a ação que o voo seguiu todos os protocolos de segurança e também no atendimento aos demais passageiros. 
*A jornalista viajou a convite da GOL