As novas gerações priorizam cada vez mais autonomia, remuneração e o propósito da vaga para definir seu futuro trabalho. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi), que ouviu quase 2 mil jovens de 14 a 29 anos em todo o Brasil.
“A geração atual dá um valor maior para o protagonismo e para o propósito que eles têm em relação ao futuro e à carreira”, afirma Felipe Morgado, superintendente de educação profissional e superior do Senai. Salário, crescimento profissional e benefícios complementares são fatores determinantes na escolha de uma vaga pelos jovens. De acordo com a pesquisa, 41% vê o salário como fator primário na hora de pesquisar a vaga. Em segundo lugar, aparecem as possibilidades de crescimento (21%) e os benefícios complementares, com (20%). “Confirmamos que já vem sendo visto há alguns anos. A remuneração ainda é algo decisivo”, afirma Morgado.
A principal motivação para realizar a pesquisa, que teve participação da agência alemã de cooperação GIZ, foi entender como os jovens se portavam em relação ao trabalho. “Nosso objetivo é saber exatamente como estão pensando em relação ao trabalho, como enxergam as profissões, os setores industriais e os modelos de transformação do mercado”
Protagonismo
A juventude também estabeleceu novidades. Agora, ela não busca apenas um lugar no mercado, mas um ambiente de desenvolvimento. O essencial, nesse cenário, é um propósito claro, que capacite a participação efetiva para transformar e evoluir no seu meio. “Querem um local onde, de fato, possam crescer e ser atores pelo protagonismo”
A pesquisa também indica que essa geração, ao projetar futuro e carreira, confere mais importância ao significado do trabalho, superando, em muitos casos, fatores tradicionais. Embora o salário ainda seja prioridade, o propósito, o comprometimento e o plano de carreira garantem a permanência estável no mercado de trabalho.
Para Érica de Oliveira, a habilidade de se comunicar é a chave. Há 10 meses, ela trabalha na loja ByMe, no ParkShopping. Com 28 anos, conseguiu cargo de gerente na loja de presentes e acessórios na linha geek. “Aqui, nós trabalhamos com vendas, com convencimento do cliente. A pessoa tem que saber conversar”, afirma. “O principal na área da vida é saber conversar”
A opinião é compartilhada por Igor Neiva, de 22 anos. Há sete meses, trabalha na pizzaria Papy Massas, na Asa Norte. Para ele, uma boa comunicação é um dos principais fatores que podem diferenciar alguém na hora de ser contratado, juntamente com um currículo adequado e a demonstração de interesse na vaga. “Demonstrar carisma, interesse no que você deseja fazer, mostrar por que você tem que ser contratado”, afirma ele. “E também se adequar ao trabalho, porque tudo na vida é uma questão de adaptação”.
Por outro lado, a pesquisa aponta que a baixa remuneração e o estresse no trabalho são as razões primárias para a mudança de emprego, ou até a desistência.
Trabalho híbrido
Cerca de 66% dos jovens, principalmente mulheres, enxergam o modelo híbrido como atrativo. O modelo de trabalho que intercala dias presenciais com o home office ganhou força depois da pandemia. Segundo a Fundação Instituto de Administração (FIA), o trabalho em casa foi um modelo adotado por 46% das empresas durante a crise da covid-19.
Para Igor, o modelo híbrido é muito atrativo, pela maior flexibilidade de horário, especialmente, porque seu trabalho atual exige que ele trabalhe de quarta a domingo, o que dificulta encontrar amigos. Em contrapartida, Érica, que gosta muito da área de vendas, acredita que a presença e a conexão com o cliente é essencial. Para os jovens da pesquisa, o home office apresenta muitos benefícios, mas quando comparado flexibilidade com remuneração, 55% deles ainda acham que o salário é mais importante do que o trabalho remoto.
Um dado também chama a atenção: 49% dos jovens participantes da pesquisa têm interesse em trabalhar em setores industriais, sobretudo homens. Para Morgado, do Senai, o interesse se dá pela segurança e pela remuneração que a área oferece, e o setor é tido como uma opção de emprego sólido. A longo prazo (20 anos), 53% dos jovens acreditam que a indústria pode satisfazer as pretensões financeiras e de carreira.
Oportunidades
O desejo de evoluir profissionalmente, para a maioria dos entrevistados, reflete-se em relação aos estudos: 79% querem continuar os estudos, mesmo trabalhando; 88% deles aceitariam participar de cursos profissionalizantes e técnicos, graduação ou programas de certificações, se forem ofertadas de maneira gratuita. Esse público também tem a tecnologia como aspecto marcante; 75% deles enxergam a inteligência artificial (IA) como aliada para aumentar a produtividade, e estão preocupados em se desenvolver e se adaptar às transformações, além de participar delas. Contudo, uma parcela desses jovens manifesta preocupação com o risco de a IA levar à substituição de vagas no mercado de trabalho. “Com a pesquisa, olhamos que a juventude está mais ligada não só nas adaptações que o mercado de trabalho vem tendo, mas querem participar delas”, explica Morgado. “Eles também querem continuar estudando, não enxergam o trabalho como algo estático, sem mobilidade”.
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá
