Educadores, jornalistas, ativistas, políticos e estudantes celebram o reconhecimento de Antonieta de Barros, primeira parlamentar negra no país. O presidente Lula (PT) sancionou na quinta-feira (5) projeto de lei n°4.940-A, de 2020. O texto é de autoria do deputado federal Alessandro Molon (PSB). Por seu importante papel na luta pelo direito a educação e emancipação de pessoas negras será incluída no Livro de Aço, o documento histórico celebra os valores da democracia e da liberdade.
A pedagoga especialista em neuropsicopedagogia, historiadora e candidata a deputada distrital pelo PSB nas eleições de 2022 Janaína Almeida comenta sobre o apagamento histórico que sofreu Antonieta de Castro: "O Brasil é um país que, infelizmente, tem uma memória muito curta”.
“Tanto a população negra quanto a população indígena foram responsáveis pela geração de recursos, riquezas e grandes feitos”, comenta. “Além da invisibilização, nós sofremos nos últimos quatro anos com o apagamento dessas pessoas que tanto fizeram pela nação.”
A professora declara que a decisão do presidente Lula foi assertiva, dando luz a um nome importante que poucas pessoas conhecem. “Ela foi eleita em um estado extremamente racista e exerceu profissões nas quais, naquela época, mulheres não se engajavam politicamente. As mulheres que se engajavam politicamente tinham outros papéis, como fazendeira, esposa de político e outros setores, comenta. Para Jana, a inclusão de Antonieta no livro carrega simbologia e satisfação. “A população negra precisa desses espelhos de força e resistência”, afirma. “É preciso que ela esteja presente no currículo escolar e que seja discutida nas pautas antirracistas. São nessas ações que as homenagens ganham corpo."
A ativista pelos direitos humanos e diversidade, professora aposentada e integrante do Levante Feminista Contra o Feminicídio no DF Renata Parreira comenta: “Influenciou pessoas com seus escritos. Abordou temas relacionados a gênero, raça e classe. E é a primeira deputada estadual no Parlamento Catarinense. Fazendo uma digressão histórica na biografia de Antonieta, consigo enxergar muitas mulheres negras contemporâneas nascidas na pobreza, em que o preconceito e a exclusão marcam sua trajetória na sociedade brasileira, assim como Antonieta.”
“O reconhecimento e a valorização do legado de Antonieta de Barros contribuem para a valorização da cultura afro-brasileiro e contribui de forma efetiva com a construção identitária positiva da população negra. Para o povo negro, é de fundamental importância ter heróis e heroínas, nos quais possam se inspirar e se sentir representados/as”, explica. “O reconhecimento e a valorização desse legado possibilita repensar o país como um todo e um novo projeto de sociedade, pois ensina o valor da ancestralidade e a compreensão de que as matrizes africanas contribuíram na construção do Brasil.”
Antonieta foi uma mulher séria, comprometida e, acima de tudo, humana. Era respeitada e admirada por seu espírito de justiça. Apesar da religiosidade, ela pregava a emancipação feminina, principalmente por meio da educação. Associações, ruas, escolas e prêmios, hoje são nomeadas em homenagem a Antonieta, como o Prêmio Antonieta de Barros Para Jovens Comunicadores Negros e Negras, criado pela Secretária de Igualdade Social do Governo Federal, em 2016. Mas historiadores e pesquisadores de áreas afins ressaltam o processo de apagamento que ela sofreu na linha do tempo na história de heróis e grandes personalidades brasileiras.
A jornalista, professora titular e diretora da Faculdade de Comunicação da UnB (FAC-UnB) e pesquisadora sobre a atuação das jornalistas brasileiras Dione Moura declara: "Creio que o nome de Antonieta de Barros, uma parlamentar, uma mulher negra que também foi educadora e jornalista, trará ainda mais brilho ao ilustre Panteão da Pátria”.
Andrey Lemos, historiador, mestre em políticas públicas e integrante da Convergência Negra, bloco da sociedade que reúne 14 entidades nacionais na luta antirracista no Brasil “Antonieta de Barros foi pioneira na defesa da educação como ferramenta, no jornalismo e no parlamento. Como mulher negra, enfrentou a estrutura racista e patriarcal e inspirou gerações na luta antirracista e pela emancipação feminina, considero tardio, mas importante demais reconhecer sua contribuição com a democracia, os direitos sociais e a valorização da cultura negra brasileira”, explica o historiador.
Raquel Viera, 24 anos, militante do Movimento Negro, coordenadora do Movimento de Educação Popular da Rede Emancipa e produtora artística do Distrito Federal, explica que o reconhecimento de Antonieta de Barros e outros heróis e heroínas do Brasil é um ato de reparação histórica. “É importante para nós como povo preto que essas homenagens em forma de estátuas e ruas sejam dos nossos heróis e não de escravocratas, estupradores e neonazistas”.
Raquel celebra as figuras negras à frente do novo governo, como Aniele Franco, Marina Silva e Silvio Almeida, respectivamente dos Ministérios da Igualdade Racial, Meio Ambiente e Mudança do Clima, e Direitos Humanos. “Para contar a história da nossa ancestralidade é necessário que este governo ajude no avanço na luta da justiça racial e social, explica. “Mas, também, seria muito importante que ativistas negros estivessem em outros ministérios, como os econômicos. É necessário que homens pretos também tenham caneta na mão para decidir a economia deste país.”
Antonieta teve acesso e contato com a educação desde cedo, dedicou sua vida à tentativa de transformar a realidade de outras crianças, mulheres e homens negros por meio de suas atividades profissionais. Como professora, ela mostrou aos alunos que sonhar e aprender é um direito. Como jornalista e autora de conto,s expressou suas ideias com coragem. E como primeira mulher a assumir um mandato como deputada estadual em 1935, lutou bravamente pelo povo e pela democracia brasileira. Mostrou que, de fato, mulheres precisam e devem ocupar cada vez mais espaços de poder na sociedade.