
O volume de reais em circulação pelo mundo cresce a passos largos. Dados do Banco Central mostram que o total de cédulas da moeda nacional negociadas no exterior aumentou 2.057% de 2008 para cá, saltando de R$ 6,6 milhões para R$ 142,4 milhões. Muito desse crescimento, no entender dos especialistas, decorre do grande número de turistas viajando para fora do Brasil. Isso tem estimulado as casas de câmbio de paÃses onde os brasileiros aportam a trocarem reais pelas divisas locais.
Boa parte dos reais internacionalizados está circulando pela América Latina. Na região, a moeda brasileira é vista como uma divisa forte. Na Argentina, por exemplo, o real é aceito em qualquer lugar, tanto quanto o dólar. Na Europa, casas de câmbio da Turquia e de Portugal fazem a troca sem qualquer problema, assim como nas principais cidades dos Estados Unidos. Até o inÃcio da década, era praticamente impossÃvel ver a cotação do real estampada nas vitrines de bancos no exterior.
Para os turistas, a aceitação do real fora do paÃs é um ótimo negócio, pois não precisam pagar as taxas e os impostos cobrados no Brasil para a troca por dólar ou por euro. Somente o governo fica com 0,38% do total transacionado nas casas de câmbio e nos bancos. ;Depois que descobri a facilidade de se trocar reais nos paÃses que visitei, sempre levo uma quantia da moeda brasileira quando viajo;, diz o universitário Gustavo Leuzinger, 21 anos. ;Fiz isso no Caribe e na Europa e não houve problemas. O único senão é quando a troca é realizada nos aeroportos, pois as cotações são sempre desvantajosas;, ressalta.
O estudante Guilherme Vargas, 22, não abre mão do real. Ela mora desde janeiro em Buenos Aires e recebe, periodicamente, quantias dos pais, que vivem em BrasÃlia. ;Assim que os reais chegam, faço a troca por peso, sem burocracia. Se os recursos viessem por meio de transferências bancárias, teriam uma taxação absurda: tarifa de saque e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), entre outros encargos. Aqui é bem normal o mercado paralelo de câmbio;, conta. Um real, no câmbio oficial, vale R$ 3,59 pesos argentinos, enquanto, no mercado paralelo, chega a $ 4,90.
Limitações
Na definição usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a internacionalização de uma moeda se dá por meio da compra de bens, serviços e uso como ativo financeiro em transações entre não residentes. Para especialistas, mesmo que tenha crescido de importância, a divisa brasileira ainda se encontra numa espécie de segunda divisão no ranking daquelas mais utilizadas no mercado internacional. O volume disponÃvel no exterior aumentou, mas está longe de atender a toda a demanda. ;O real ainda é uma moeda de tipo B, que não é conversÃvel. Isso quer dizer que um cidadão que queira vir ao paÃs precisa, primeiro, trocar seus recursos por dólares ou euros antes de convertê-los por reais;, explica o diretor de Câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros.
Na avaliação do economista-chefe da gestora de recursos INVX Global, Eduardo Velho, certamente, a internacionalização do real seria mais intensa se a economia brasileira fosse mais aberta. ;Quanto maior é a participação do comércio internacional sobre o PIB (Produto Interno Bruto), maior é a procura pela moeda de um determinado paÃs;, afirma. ;Nos últimos 10 anos, o Brasil praticamente só negociou com o Mercosul. Enquanto isso, Peru, Chile, Colômbia e México avançam em acordos bilaterais com a Europa. Se fizéssemos o mesmo, a internacionalização do real seria mais elevada;, assegura.
Receios
Estudo preparado pela INVX mostra que a abertura comercial do Brasil pouco avançou nos últimos anos. Em 2005, as exportações brasileiras representavam 1,13% da pauta mundial. Em 2012, estava em 1,3%. ;Quando o assunto é acordos comerciais internacionais, nós estamos muito atrasados. Não por acaso, mesmo com todo avanço, o real ainda é uma moeda coadjuvante no mercado externo. Para você ter uma ideia, mesmo a Turquia, com uma economia bem menor que a brasileira, tem uma moeda, a lira turca, bem mais negociada do que o real;, enfatiza Velho.
Justamente pelo fato de o real ainda ser uma moeda do time B, a aposentada Marlene dos Santos, 56, prefere não se arriscar quando viaja ao exterior. Ela sempre compra dólares no Brasil, mesmo com todas as taxas cobradas pelos bancos e pelas casas de câmbio, antes de atravessar as fronteiras do paÃs. ;Acho mais seguro sair de casa com os dólares na carteira;, afirma. Para Samy Dana, professor de finanças e economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), esse tipo de receio vai diminuir à medida que os brasileiros viajarem mais para o exterior e mais estrangeiros vierem para o Brasil.
Essa visão é compartilhada por Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da Treviso Corretora. ;O próprio governo brasileiro está estimulando a internacionalização do real. Mas é preciso deixar claro que a moeda brasileira está longe de ser conversÃvel como o dólar e o euro. Não é em toda parte do mundo que se poderá trocar a divisa nacional. Esse tipo de operação ocorre nos locais onde os turistas brasileiros estão mais presentes;, destaca.
Galhardo ressalta ainda que, mesmo com o esforço da equipe econômica para tentar aumentar o poder de conversibilidade do real, e apesar de o Brasil ser a sétima economia do planeta, a moeda brasileira ainda é um ativo pouco negociado. Levantamento do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostra que a divisa nacional ocupa a 19; posição entre as mais negociadas no mundo.
Movimento
no exterior
Veja a evolução da quantidade de moeda brasileira disponÃvel no mundo (em R$ milhões)
2008 6,667
2009 8,190
2010 14,002
2011 58,071
2012 92,460
2013 94,500
2014 142.470
Fonte: Banco Central
; Divisa dos EUA
sobe a R$ 2,26
O dólar registrou, ontem, alta de 1,11% ante o real, cotado a R$ 2,261, acompanhando os movimentos no exterior. Foi um dia marcado por baixo volume de negócios e por investidores preocupados com a polÃtica de juros nos Estados Unidos. ;A inflação acima da expectativa nos EUA levou à v