Primeiro-ministro do Líbano Hassan Diab anuncia renúncia do governo

Em seu discurso de renúncia, Hassan Diab criticou a ''corrupção'' que levou o país ao momento atual

Agência France-Presse
postado em 10/08/2020 14:03 / atualizado em 10/08/2020 17:11
 (crédito: Télé Liban / AFP)
(crédito: Télé Liban / AFP)

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira (10), em uma sequência de demissões de ministros e de protestos após a explosão que devastou Beirute há seis dias.

O chefe do governo, que se apresenta como independente, culpou a classe política tradicional por seu fracasso e atacou a "corrupção" que levou a esse "terremoto que atingiu o país".

"Hoje, eu anuncio minha demissão deste governo", disse ele em um discurso televisionado para os libaneses.

"A catástrofe que afetou os libaneses no coração (...) ocorreu por causa da corrupção endêmica na política, na administração e no estado," ele acrescentou.

“Descobri que a corrupção institucional é mais forte do que o estado”, acrescentou Diab, um professor universitário que formou seu governo em janeiro.

Esse governo que se apresenta como uma equipe de tecnocratas teve que negociar carteiras com apenas um campo político, o movimento xiita Hezbollah e seus aliados, especialmente o partido presidencial, a Corrente Patriótica Livre (CPL).

Quando Diab iniciou seu discurso, confrontos foram registrados no centro da cidade em torno do parlamento. Manifestantes atiraram pedras contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo.

Esta renúncia não satisfaz o movimento de protesto que pede a saída de toda a classe política acusada de corrupção e incompetência.

Quatro membros de seu gabinete já haviam renunciado no domingo, após a explosão de 4 de agosto que matou pelo menos 160 pessoas, feriu 6.000 e reativou protestos populares.

Quase uma semana depois da tragédia que destruiu parte da capital, as autoridades, acusadas de corrupção, negligência e incompetência, ainda não responderam à principal pergunta: por que uma grande quantidade de nitrato de amônio estava armazenada no porto, no coração da cidade?

As explosões foram provocadas por um incêndio no armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas há seis anos sem "medidas de prevenção", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro, Hassan Diab.

Diante da magnitude da tragédia e da raiva de uma população cansada, o ministros das Finanças, Ghazi Wazni, e a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, anunciaram nesta segunda-feira suas renúncias.

No domingo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, deixaram o governo. Nove deputados também renunciaram aos cargos.

Manifestantes pedem vingança

O primeiro-ministro Hassan Diab afirmou que estaria disposto a permanecer dois meses no cargo até a organização de eleições antecipadas em um país dominado pelo movimento armado do Hezbollah, um aliado do Irã e do regime sírio de Bashar al-Assad.

Durante as manifestações de sábado e domingo, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram "vingança" contra a classe política, totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de COVID-19.

"Todos significa todos", proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes.

"Exigimos que as buscas continuem", afirmou nas redes sociais Emilie Hasrouty, cujo irmão de 38 anos trabalhava no porto e estaria sob os escombros.

A tragédia da semana passada deu novo espaço à contestação popular desencadeada em 17 de outubro de 2019 para denunciar a corrupção dos dirigentes, mas que havia perdido o fôlego com a pandemia do coronavírus.

No local da explosão, os socorristas perderam a esperança de encontrar mais sobreviventes. Restam menos de 20 pessoas desaparecidas, segundo as autoridades.

A comunidade internacional, que há anos clama por reformas e pelo combate à corrupção por parte de Beirute, voltou a mostrar durante uma videoconferência no domingo presidida pela França e a ONU que não confia nas autoridades libanesas.

A reunião arrecadou 252,7 milhões de euros (297,23 milhões de dólares) de ajuda que será distribuída diretamente à população.

 

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  • Karina Sukkar, a Lebanese architect and designer, stands the balcony of her damaged apartment overlooking the ravaged port of Lebanon's capital Beirut, in the neighbourhood of Mar Mikhael on August 9, 2020, in the aftermath of a colossal explosion that occurred days prior due to a huge pile of ammonium nitrate that had languished for years at a port warehouse. The huge chemical explosion that hit Beirut's port, devastating large parts of the Lebanese capital and claiming over 150 lives, left a 43-metre (141 foot) deep crater, a security official said. The blast Tuesday, which was felt across the country and as far as the island of Cyprus, was recorded by the sensors of the American Institute of Geophysics (USGS) as having the power of a magnitude 3.3 earthquake.
    Karina Sukkar, a Lebanese architect and designer, stands the balcony of her damaged apartment overlooking the ravaged port of Lebanon's capital Beirut, in the neighbourhood of Mar Mikhael on August 9, 2020, in the aftermath of a colossal explosion that occurred days prior due to a huge pile of ammonium nitrate that had languished for years at a port warehouse. The huge chemical explosion that hit Beirut's port, devastating large parts of the Lebanese capital and claiming over 150 lives, left a 43-metre (141 foot) deep crater, a security official said. The blast Tuesday, which was felt across the country and as far as the island of Cyprus, was recorded by the sensors of the American Institute of Geophysics (USGS) as having the power of a magnitude 3.3 earthquake. Foto: PATRICK BAZ/AFP
  • Equipes de resgate russas buscam sobreviventes no porto de Beirute em 7 de agosto de 2020, três dias após uma explosão maciça que atingiu a capital libanesa.
    Equipes de resgate russas buscam sobreviventes no porto de Beirute em 7 de agosto de 2020, três dias após uma explosão maciça que atingiu a capital libanesa. Foto: JOSEPH EID / AFP
  • Moradores do bairro de Mar Mikhael, no centro de Beirute, abandonam apartamento com uma única mala nas mãos, em meio ao cenário de devastação
    Moradores do bairro de Mar Mikhael, no centro de Beirute, abandonam apartamento com uma única mala nas mãos, em meio ao cenário de devastação Foto: Patrick Baz/AFP
  • Voluntários e membros da sociedade civil limpam os escombros em uma rua do danificado bairro de Mar Mikhael, em Beirute.
    Voluntários e membros da sociedade civil limpam os escombros em uma rua do danificado bairro de Mar Mikhael, em Beirute. Foto: PATRICK BAZ / AFP
  • A Lebanese youth hugs French President Emmanuel Macron during a visit to the Gemmayzeh neighborhood, which has suffered extensive damage due to a massive explosion in the Lebanese capital, on August 6, 2020. French President Emmanuel Macron visited shell-shocked Beirut, pledging support and urging change after a massive explosion devastated the Lebanese capital in a disaster that has sparked grief and fury.
    A Lebanese youth hugs French President Emmanuel Macron during a visit to the Gemmayzeh neighborhood, which has suffered extensive damage due to a massive explosion in the Lebanese capital, on August 6, 2020. French President Emmanuel Macron visited shell-shocked Beirut, pledging support and urging change after a massive explosion devastated the Lebanese capital in a disaster that has sparked grief and fury. Foto: AFP
  • A woman sits amidst the rubble in her damaged house in the Lebanese capital Beirut on August 6, 2020, two days after a massive explosion shook the Lebanese capital. The blast, which appeared to have been caused by a fire igniting 2,750 tonnes of ammonium nitrate left unsecured in a warehouse, was felt as far away as Cyprus, some 150 miles (240 kilometres) to the northwest. The scale of the destruction was such that the Lebanese capital resembled the scene of an earthquake, with thousands of people left homeless and thousands more cramming into overwhelmed hospitals for treatment.
    A woman sits amidst the rubble in her damaged house in the Lebanese capital Beirut on August 6, 2020, two days after a massive explosion shook the Lebanese capital. The blast, which appeared to have been caused by a fire igniting 2,750 tonnes of ammonium nitrate left unsecured in a warehouse, was felt as far away as Cyprus, some 150 miles (240 kilometres) to the northwest. The scale of the destruction was such that the Lebanese capital resembled the scene of an earthquake, with thousands of people left homeless and thousands more cramming into overwhelmed hospitals for treatment. Foto: AFP
  • Voluntários e membros da sociedade civil limpam os escombros em uma rua do danificado bairro de Mar Mikhael, em Beirute, em 6 de agosto de 2020, após uma explosão maciça na capital libanesa.
    Voluntários e membros da sociedade civil limpam os escombros em uma rua do danificado bairro de Mar Mikhael, em Beirute, em 6 de agosto de 2020, após uma explosão maciça na capital libanesa. Foto: PATRICK BAZ / AFP
  • 'Quase metade de Beirute está destruída ou danificada', diz governador
    'Quase metade de Beirute está destruída ou danificada', diz governador Foto:
  • Governo do Líbano decide colocar todos os responsáveis pelo porto de Beirute em prisão domiciliar
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