O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira (10), em uma sequência de demissões de ministros e de protestos após a explosão que devastou Beirute há seis dias.
O chefe do governo, que se apresenta como independente, culpou a classe política tradicional por seu fracasso e atacou a "corrupção" que levou a esse "terremoto que atingiu o país".
"Hoje, eu anuncio minha demissão deste governo", disse ele em um discurso televisionado para os libaneses.
"A catástrofe que afetou os libaneses no coração (...) ocorreu por causa da corrupção endêmica na política, na administração e no estado," ele acrescentou.
“Descobri que a corrupção institucional é mais forte do que o estado”, acrescentou Diab, um professor universitário que formou seu governo em janeiro.
Esse governo que se apresenta como uma equipe de tecnocratas teve que negociar carteiras com apenas um campo político, o movimento xiita Hezbollah e seus aliados, especialmente o partido presidencial, a Corrente Patriótica Livre (CPL).
Quando Diab iniciou seu discurso, confrontos foram registrados no centro da cidade em torno do parlamento. Manifestantes atiraram pedras contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo.
Esta renúncia não satisfaz o movimento de protesto que pede a saída de toda a classe política acusada de corrupção e incompetência.
Quatro membros de seu gabinete já haviam renunciado no domingo, após a explosão de 4 de agosto que matou pelo menos 160 pessoas, feriu 6.000 e reativou protestos populares.
Quase uma semana depois da tragédia que destruiu parte da capital, as autoridades, acusadas de corrupção, negligência e incompetência, ainda não responderam à principal pergunta: por que uma grande quantidade de nitrato de amônio estava armazenada no porto, no coração da cidade?
As explosões foram provocadas por um incêndio no armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas há seis anos sem "medidas de prevenção", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro, Hassan Diab.
Diante da magnitude da tragédia e da raiva de uma população cansada, o ministros das Finanças, Ghazi Wazni, e a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, anunciaram nesta segunda-feira suas renúncias.
No domingo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, deixaram o governo. Nove deputados também renunciaram aos cargos.
Manifestantes pedem vingança
O primeiro-ministro Hassan Diab afirmou que estaria disposto a permanecer dois meses no cargo até a organização de eleições antecipadas em um país dominado pelo movimento armado do Hezbollah, um aliado do Irã e do regime sírio de Bashar al-Assad.
Durante as manifestações de sábado e domingo, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram "vingança" contra a classe política, totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de COVID-19.
"Todos significa todos", proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes.
"Exigimos que as buscas continuem", afirmou nas redes sociais Emilie Hasrouty, cujo irmão de 38 anos trabalhava no porto e estaria sob os escombros.
A tragédia da semana passada deu novo espaço à contestação popular desencadeada em 17 de outubro de 2019 para denunciar a corrupção dos dirigentes, mas que havia perdido o fôlego com a pandemia do coronavírus.
No local da explosão, os socorristas perderam a esperança de encontrar mais sobreviventes. Restam menos de 20 pessoas desaparecidas, segundo as autoridades.
A comunidade internacional, que há anos clama por reformas e pelo combate à corrupção por parte de Beirute, voltou a mostrar durante uma videoconferência no domingo presidida pela França e a ONU que não confia nas autoridades libanesas.
A reunião arrecadou 252,7 milhões de euros (297,23 milhões de dólares) de ajuda que será distribuída diretamente à população.
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