O anúncio da reeleição do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, com uma votação esmagadora, desencadeou violentos protestos pelo país, que culminaram com a morte de um manifestante em Minsk, a capital. A opositora Svetlana Tikhanovskaya rejeitou os resultados das urnas e exigiu que Lukashenko ceda o cargo que ocupa há 26 anos com mão de ferro. “As autoridades devem refletir sobre como transferir o poder. Considero-me vencedora da eleição”, afirmou Tikhanovskaya, que vai contestar judicialmente o desfecho da votação.
“Um dos manifestantes tentou lançar um objeto explosivo contra as forças de segurança, mas o objeto explodiu em suas mãos”, informou a polícia, em nota. Para dispersar os protestos, que se espalharam por 33 cidades, agentes usaram gás e balas de borracha.
Horas antes, Svetlana Tikhanovskaya, que em poucas semanas se tornou uma rival de peso, denunciou fraudes após o anúncio de que o presidente havia conquistado o sexto mandato com 80,23% dos votos. De acordo com os números oficiais, a novata política, uma professora de inglês de 37 anos, teria sido a escolha de 9,9% do eleitorado.
O partido da oposição, que acusou o regime de “se manter pela força”, não participou das manifestações de ontem. A porta-voz de Tikhanovskaya explicou que a candidata não compareceria porque o governo poderia organizar “qualquer situação para detê-la”.
Repercussão
A reeleição de Lukashenko foi recebida com apreensão pela comunidade internacional. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, condenou a repressão e exigiu uma “recontagem exata” dos votos. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) externou “séria preocupação” com os resultados eleitorais e também denunciou a violência.
A Casa Branca também demonstrou inquietação com a recondução de Lukashenko e pediu às autoridades bielorrussas que permitissem os protestos. A assessora de imprensa do presidente Donald Trump, Kayleigh McEnany, disse que “a intimidação de candidatos da oposição e a detenção de manifestantes pacíficos” estavam entre os vários fatores que prejudicaram o processo eleitoral. “Instamos o governo bielorrusso a respeitar o direito de se reunir em paz e abster-se do uso da força”, disse a repórteres.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou um telegrama de felicitação. “Conto que sua ação à frente do Estado permita o desenvolvimento futuro de relações russo-bielorrussas mutuamente vantajosas”, escreveu o líder russo, segundo o Kremlin. Nas últimas semanas, o presidente bielorusso acusou Moscou de querer subjugar seu país e de tentar desestabilizá-lo, em particular enviando mercenários.
Ontem, reeleito, Lukashenko afirmou que as manifestações foram “teleguiadas” a partir do exterior e destacou que não permitirá que o país seja “feito em pedaços”. “Não permitiremos que o país seja dilacerado. Estão tentando orquestrar o caos. Mas eu já avisei: não haverá revolução”, disse o líder, de 65 anos, segundo a imprensa internacional.
Lukashenko também acusou “forças estrangeiras” de terem cortado a internet no país. Para os adversários do governo, trata-se de uma tática diversionista. Na verdade, segundo a oposição, as autoridades bielorrussas orquestraram os cortes para melhor organizar a repressão.
Alexandre Baunov, do centro Carnegie Moscou, prevê um aumento da repressão e de “fortes sentenças de prisão” caso os protestos continuem. Na noite de domingo, milhares de bielorrussos saíram às ruas, estimando que Tikhanovskaya, desconhecida do público há algumas semanas, havia vencido a disputa presidencial.
Fator surpresa
A campanha eleitoral deste ano foi marcada por um fervor sem precedentes pela candidata novata, que substituiu o marido, um conhecido blogueiro, na corrida presidencial depois que ele foi preso, em maio. Diante da ascensão da candidatura da professora de inglês, as autoridades redobraram seus esforços no fim da campanha para tentar conter a oposição e não hesitaram em prender uma dezena de seus colaboradores.
Antes do avanço da opositora, Lukashenko retirou da disputa os principais rivais: dois deles foram detidos e um terceiro partiu para o exílio. Outros três candidatos estavam registrados, mas não conseguiram mobilizar apoio.
Na véspera da votação, Maria Moroz, chefe de campanha de Svetlana Tikhanovskaya, foi detida. Temendo fraudes, a candidata pediu a seus eleitores que usassem uma pulseira branca quando fossem votar e fotografassem suas cédulas para dificultar a fraude.
No domingo, longas filas de espera se formaram fora das muitas seções eleitorais. “Com filas assim, é impossível que Lukashenko tenha vencido”, ponderou o aposentado Liubov Smirnova, 65 anos. Observadores internacionais consideram que a Bielorrússia não organiza nenhuma eleição considerada livre desde 1995.
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