Pequim quer transformar Taiwan "na próxima Hong Kong"

O ministro taiwanês de Relações Exteriores se encontrou com o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA que realiza uma histórica visita a Taiwan, muito criticada por Pequim

Agência France-Presse
postado em 11/08/2020 08:49 / atualizado em 11/08/2020 09:06
 (crédito: Pei Chen / POOL / AFP)
(crédito: Pei Chen / POOL / AFP)

A China quer transformar Taiwan, um território democrático, na "próxima Hong Kong", denunciou nesta terça-feira (11/8) o ministro taiwanês de Relações Exteriores, Joseph Wu, após uma reunião com um alto funcionário dos Estados Unidos que faz uma visita história à ilha.

"Nossa vida diária é cada vez mais difícil, enquanto a China continua pressionando para que aceitemos suas condições políticas, condições que farão de Taiwan a próxima Hong Kong", declarou Wu ao secretário de Saúde dos Estados Unidos, Alex Azar, que faz uma viagem a Taiwan muito criticada por Pequim.

Em Hong Kong, a repressão da dissidência aumentou desde a entrada em vigor, no fim de junho, da draconiana lei sobre segurança nacional imposta por Pequim.

Vários ativistas pró-democracia foram detidos, ao mesmo tempo que muitos candidatos de oposição foram proibidos de participar das eleições legislativas.

A crescente interferência da China em Hong Kong preocupa Taiwan, uma ilha de 23 milhões de habitantes.

Pequim continua considerando Taiwan uma província rebelde que deveria retornar a seu domínio, inclusive pela força se necessário.

"O povo de Taiwan também está muito familiarizado com ameaças, sejam militares, diplomáticas ou ameaças de epidemias", disse o chanceler Wu, ao traçar um paralelo com o que acontece em Hong Kong.

Azar, que faz uma visita de três dias à ilha, é o funcionário do governo americano de maior hierarquia a visitar Taiwan desde 1979, quando Washington rompeu as relações diplomáticas com Taipé para reconhecer o governo comunista estabelecido em Pequim como o único representante da China.

Na segunda-feira, Alex Azar foi recebido pela presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, grande inimiga da China, e agradeceu o apoio dos Estados Unidos aos esforços de Taiwan para tentar ser admitido como observador na Organização Mundial da Saúde (OMS).

Pequim, no entanto, conseguiu excluir Taiwan da agência das Nações Unidas.

Respostas à pandemia

A viagem acontece em um momento de tensão entre China e Estados Unidos por vários temas, como a questão de Hong Kong, o coronavírus ou o comércio.

Na segunda-feira, o ministério taiwanês da Defesa afirmou que caças chineses fizeram uma breve incursão além da linha do Estreito de Taiwan que Pequim e Taipé consideram sua "fronteira".

Durante a visita, Azar elogiou a democracia taiwanesa e sua política na luta contra o coronavírus.

O secretário americano fez muitas críticas à atitude da China ante a pandemia em seu território, um ponto que retomou nesta terça-feira.

"O Partido Comunista Chinês teve a oportunidade de advertir o mundo e trabalhar com ele para lutar contra o vírus. Mas optaram por não fazer e os custos desta escolha são cada vez mais elevados", afirmou Azar em um discurso em uma universidade de saúde pública.

"Acredito que não é um exagero dizer que se este vírus tivesse surgido em um local como Taiwan ou Estados Unidos poderia ter sido freado com facilidade", acrescentou.

Taiwan, que registrou até o momento menos de 500 casos de covid-19 e apenas sete mortes, conseguiu controlar o coronavírus graças a sua democracia e transparência, afirmou Joseph Wu.

"Em contraste com um modelo autoritário no qual o governo está paralisado demais para revelar os fatos, no modelo transparente taiwanês simplesmente não podemos nos permitir mentir ou ocultar", declarou.

A China conseguiu conter a epidemia com um confinamento de grande alcance e restrições de deslocamentos.

Os Estados Unidos lideram a lista de países com mais casos (mais de cinco milhões) e mortes (mais de 160.000) provocadas pela covid-19.

Os críticos do presidente americano Donald Trump o acusam de endurecer o tom contra Pequim para desviar a atenção sobre os erros de sua administração no combate ao novo coronavírus, a três meses das eleições presidenciais.

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