Os libaneses continuam a enterrar, nesta quarta-feira (12/8), as vítimas da explosão no porto de Beirute, enquanto as forças políticas tradicionais, acusadas pelas ruas de serem as responsáveis, negociam a formação de um novo governo, exigido sem demora pela comunidade internacional.
Oito dias após a explosão devastadora, os líderes internacionais se sucedem em Beirute, que recebeu nesta quarta-feira a visita do chefe da diplomacia alemã.
A explosão, provocada por uma enorme quantidade de nitrato de amônio armazenada por seis anos "sem medidas de precaução", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro, deixou pelo menos 171 mortos, mais de 6.500 feridos - segundo um balanço atualizado - e quase 300.000 desabrigados, alimentando a ira das ruas contra uma classe política acusada de corrupção e incompetência.
O governo de Hassan Diab renunciou na segunda-feira, mas uma grande parte dos libaneses também exige a saída do chefe de Estado Michel Aoun, assim como do presidente do Parlamento, de deputados e dos políticos que dominam a vida política há décadas, todos considerados responsáveis pela tragédia.
Na sede do corpo de bombeiros de Beirute, próximo ao porto, o funeral de um dos dez bombeiros mortos na tragédia foi realizado nesta quarta em clima de grande emoção.
"Deus está com você, nosso herói", entoaram os bombeiros aos prantos, carregando o caixão de sua camarada Jo Noun, de 27 anos, embrulhado na bandeira libanesa.
O jovem fazia parte do grupo enviado ao porto para tentar combater o incêndio que provocou a explosão do nitrato de amônio.
Os corpos de seis bombeiros ainda não foram encontrados.
Entre eles, três membros de uma mesma família - Najib Hitti, 27 anos, seu primo Charbel Hitti, 22, e seu cunhado Charbel Karam, 37. Seus parentes estão desesperados para que seus restos mortais sejam identificados.
"Inteiros ou em pedaços, queremos nossos filhos", disse à AFP Rita Hitti, que não dorme desde a tragédia, aguardando notícias.
"Seis bombeiros ainda estão desaparecidos, estamos procurando entre os escombros por algo que possamos dar às suas famílias", declarou o chefe dos bombeiros de Beirute, o coronel Nabil Khankarli.
Hariri de volta?
Uma diplomata alemã está entre as vítimas. O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, chegou a Beirute, revelando uma ajuda de um milhão de euros para a Cruz Vermelha Libanesa.
Uma multidão, em lágrimas e raiva, prestou homenagem no dia anterior às vítimas, no exato momento em que a explosão devastou a capital no dia 4 de agosto às 18h08 locais.
A tragédia foi uma catástrofe a mais para uma população já duramente afetada por uma depreciação histórica da libra libanesa, hiperinflação e restrições bancárias draconianas. Sem falar da pandemia de coronavírus.
A grande questão agora é a sucessão do governo. Aoun não anunciou a data das consultas vinculantes com os blocos parlamentares, com base nas quais o nome do novo primeiro-ministro será decidido.
Também resta saber se a escala do cataclismo levará a uma decisão rápida, uma vez que as negociações geralmente levam meses.
Um político que pediu anonimato disse à AFP que os partidos políticos tradicionais, surdos às reivindicações das ruas, querem um "governo de unidade".
Segundo ele, dois dos principais líderes políticos do país, o presidente do Parlamento Nabih Berri e o veterano Walid Joumblatt, defendem o retorno de Saad Hariri, que renunciou 12 dias após um levante popular em outubro.
O Hezbollah não se opõe a este retorno, acrescentou esta fonte.
O poderoso partido pró-iraniano rejeita "um governo neutro e também nomes que constituam uma provocação", segundo o jornal al-Akhbar, próximo à formação xiita.
Ele recusa em particular o ex-embaixador na ONU Nawaf Salam, que foi mencionado e que goza da aprovação do movimento de contestação.
A escolha de Hariri pode impulsionar a mobilização, relançada desde a explosão.
Pela quarta noite consecutiva, confrontos ocorreram na terça-feira à noite entre dezenas de manifestantes e a polícia perto do Parlamento em Beirute. Dez feridos foram transferidos para hospitais e 32 tratados no local, segundo a Cruz Vermelha Libanesa.
Neste contexto, o Parlamento deve se reunir na quinta-feira para endossar a proclamação do estado de emergência em Beirute por dezoito dias renováveis.
A ONG Legal Agenda estimou que tal medida equivaleria a "entregar o poder ao exército e minar a liberdade de reunião e manifestação".
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