Covid-19: Vacina com base em RNA tem resultado "robusto"

Primeiras aplicações em voluntários mostram que a BNT162b1 é segura e gera resposta imune superior à detectada em pessoas que se recuperam da covid-19. Em nova fase de testes, a fórmula criada pela farmacêutica Pfizer e pelo grupo BionTech terá a eficácia avaliada

Vilhena Soares
postado em 13/08/2020 06:00
 (crédito: Wang Zhao/AFP)
(crédito: Wang Zhao/AFP)

A vacina para a covid-19 desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com o grupo alemão BionTech mostrou resultados positivos nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos, em humanos. Os dados foram divulgados ontem, na revista Nature, e mostram uma “resposta imune robusta” nos voluntários, maior que a em infectados que se recuperaram da doença. A fórmula imunizadora é feita com base no RNA do Sars-CoV-2 e já é avaliada na etapa três dos testes, onde um grupo maior de participantes recebe a substância. Os resultados até agora são animadores, mas especialistas acreditam que é necessário aguardar a finalização da última análise, que é realizada também no Brasil. Veja estudos sobre outras vacinas.

Nas duas primeiras fases dos estudos clínicos, 45 participantes (23 homens e 22 mulheres), com idade entre 18 e 55 anos, receberam a fórmula, chamada BNT162b1. O grupo foi dividido em quatro, conforme a dose de imunização recebida: 10 microgramas, 30 microgramas, 100 microgramas e placebo. A equipe observou uma resposta imune que considerou robusto nos imunizados. “Os níveis de anticorpos neutralizantes dos participantes foram de 1,9 a 4,6 vezes maiores do que aqueles em pacientes em recuperação da infecção pelo Sars-CoV-2”, destacam os autores, liderado por Judith Absalon, pesquisadora da Pfizer.


A resposta imune foi mais significativa em pacientes que receberam a maior dose do imunizante, mas eles também demonstraram maiores efeitos colaterais, como dor no local da injeção, fadiga, dor de cabeça, febre e distúrbios do sono. Os dois grupos de imunizados que receberam quantidades menores da vacina tomaram uma dose de reforço, aplicada 21 dias depois da primeira. A estratégia resultou em aumento da quantidade de anticorpos ao vírus da covid-19.


O efeito também foi percebido naqueles que não receberam a dose extra. “Os anticorpos contra o Sars-CoV-2 estavam presentes 21 dias após uma única vacinação em todos os níveis de dose, e houve aumento substancial nos anticorpos neutralizantes do vírus sete dias após a segunda dose de 10 ou 30 microgramas ter sido dada”, detalham os autores, no artigo.

Diversidade

A equipe também analisou pacientes mais velhos, com idade entre 65 e 85 anos, mas os dados relativos a esse grupo ainda serão divulgados. Na próxima etapa, eles pretendem aumentar a diversidade no perfil dos voluntários, já que todo o grupo testado era composto por pessoas brancas. A equipe também planejam testar a vacina em participantes com doenças crônicas. “As fases posteriores vão priorizar o recrutamento de populações mais diversas, incluindo aquelas com condições de saúde subjacentes crônicas e de grupos raciais e étnicos afetados adversamente pela covid-19. Precisamos que os analisados representem a diversificação da população”, justificam.


Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que a vacina demonstrou suprir os fatores mais importantes para que a pesquisa evolua para a terceira fase de testes. “Ela obteve a resposta imune adequada e a segurança, esse é o perfil esperado. Os cientistas viram efeitos adversos, como dor no braço, febre, mas essas reações também são esperadas e são consideradas normais”, avalia.


Segundo o especialista, agora, é necessário esperar os resultados da fase mais avançada. “Essa é a hora em que vamos observar dados mais complexos em relação ao teste da vacina. Nesse estágio, teremos, por exemplo, a eficácia dela em pacientes com problemas crônicos, como diabetes, saberemos também o quanto ela reduz as chances de hospitalização, a mortalidade, uma série de fatores extremamente importantes”, detalha.


A vacina da Pfizer utiliza o RNA mensageiro do vírus feito em laboratório. A não exigência de uso de um micro-organismo é considerada uma grande vantagem na hora da produção, destaca Renato Kfouri. “Esse é um ponto muito positivo, pois, ao usar esse material sintético como base, nós não precisamos reproduzir o vírus em laboratório, algo que é extremamente trabalhoso. Com isso, queimamos etapas e aceleramos a velocidade de produção.”

 

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Rússia: críticas não têm "fundamento"

A Rússia reagiu às críticas feitas pela comunidade científica após ter anunciado, na terça-feira, o registro da primeira vacina contra a covid-19 para uso amplo. “Parece que nossos colegas estrangeiros estão vendo as vantagens competitivas específicas do medicamento russo e estão tentando expressar opiniões que, em nossa visão, são completamente sem fundamento”, declarou ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko.


Segundo ele, a vacina, chamada Sputinik V, estará pronta em pouco tempo. “Os primeiros pacotes (…) serão recebidos dentro das próximas duas semanas, primeiramente para médicos”, informou. A expectativa é de que a população em geral passe a ser imunizada a partir de 1º de janeiro de 2021. Conforme o ministro, o país tem capacidade para produzir 5 milhões de doses por mês, entre dezembro e janeiro.


Em relação à não divulgação dos dados referentes às fases da pesquisa, Mikhail Murashko declarou que os ensaios clínicos serão publicados assim que forem analisados por especialistas da própria Rússia. A postura parece não agradar à Organização Mundial da Saúde (OMS), que, ontem, declarou que aguarda com “impaciência” as informações técnicas. “A OMS está em contato com cientistas e autoridades russas e aguarda com impaciência para analisar os detalhes dos testes clínicos”, indicou.


A agência das Nações Unidas pediu ainda “um acesso rápido, justo e equitativo no mundo inteiro”. “Acelerar a pesquisa da vacina deveria ocorrer seguindo os procedimentos estabelecidos em cada etapa para garantir que todas as vacinas que serão produzidas sejam eficazes e seguras”, enfatizou.


Há 26 vacinas listadas pela OMS como candidatas ao combate à covid-19. Dessas, cinco se encontram na fase 3 dos ensaios clínicos, e nenhuma delas é a vacina russa. A Sputinik V começou a ser testada quanto à segurança, critério testado nas fases 1 e 2 dos testes, há apenas dois meses.

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