A Rússia informou que produziu o primeiro lote de vacinas contra covid-19, fórmula que tem despertado desconfiança na comunidade científica. A Sputinik V foi registrada para uso amplo — o único caso no mundo até o momento — na última terça-feira. Na ocasião, o presidente Vladimir Putin garantiu que ela é “bastante eficaz”. Porém, o Centro de Pesquisas de Epidemiologia e Microbiologia Nikolai Gamaleya e o Ministério da Defesa, criadores da fórmula, seguem sem divulgar os dados sobre os processos do desenvolvimento da vacina, incluindo os resultados dos testes em humanos.
O anúncio de ontem também não teve muito detalhes. Primeiro, o ministério iniciou o começo da fabricação das doses. Horas depois, informou que o processo havia sido finalizado. “O primeiro lote da nova vacina contra o coronavírus foi produzido no Centro de Pesquisas Gamaleya”, anunciou o órgão, em um comunicado. Também ontem, o diretor do Centro Gamaleya, Alexander Guinstbourg, afirmou, à agência TASS, que os voluntários que participam da última fase dos testes clínicos receberão duas doses da vacina.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, os russos estão na primeira fase dos testes clínicos — quando a segurança da fórmula é avaliada em um grupo pequeno de voluntários. Esse desencontro de declarações e a falta de divulgação de dados, o que permitiria a revisão por especialistas independentes, têm levado cientistas a receberem os anúncios russos com ceticismo.
O fundo soberano do país, por sua vez, garante que produção industrial da Sputinik V começará em setembro. Os planos são de fabricar 5 milhões de doses por mês, até janeiro, mês previsto para que toda a população russa comece a ser imunizada. No próximo mês, médicos interessados receberão as primeiras doses.
A proposta, porém, recebe resistência da categoria. Divulgada pelo diário RBC, uma sondagem com 3.040 médicos e especialistas de saúde realizada pelo aplicativo Doctor’s Handbook mostrou que 52% não estão dispostos a ser vacinados e que 20% não recomendariam a Sputinik V para pacientes ou familiares.
Ao anunciar o registro da fórmula, Putin buscou assegurar a segurança da abordagem afirmando que uma das suas filhas havia sido vacinada. Diante da repercussão internacional ruim, o ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, disse que as críticas dos “colegas ocidentais” são, na verdade, reações devido “à vantagem competitiva do medicamento russo”. “Estão tentando expressar opiniões que, do nosso ponto de vista, são completamente injustificadas.”
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Apelo de Lukashenko
Acusado de ter sido reeleito de forma fraudulenta e de reagir às denúncias violentamente, inclusive com tortura, o presidente bielorrusso, Alexandre Lukashenko, recorreu a apoio russo para enfrentar a maior onda de protestos desde que chegou ao poder, há 26 anos. Ontem, após uma conversa por telefone com Vladimir Putin, o autocrata declarou que Moscou está pronto para oferecer “ajuda completa” para solucionar a situação de “ameaça” a ele e “a toda a região”.
Segundo Lukashenko, um acordo militar, por meio de uma aliança intergovernamental, garante a adoção de medidas em conjunto para garantir a “segurança do país”. “É por esse motivo que tive hoje uma longa e profunda conversa com o presidente russo sobre a situação”, assinalou. Kremlin disse estar “confiante” de que a crise política na Bielorrússia será solucionada “em breve”.
Também ontem, milhares de manifestantes reuniram-se em novos protestos contra o presidente, iniciados há uma semana. A principal candidata da oposição à presidência, Svetlana Tikhanovskaya, refugiada na Lituânia, convocou a população. Desde o início dos protestos, duas pessoas morreram e 6.700 foram detidas.