Com balões incendiários de um lado e bombardeios do outro, o movimento palestino Hamas e Israel voltaram se enfrentar, numa disputa que uma delegação egípcia tentará apaziguar durante uma visita a Gaza nesta segunda-feira.
O enclave palestino de 2 milhões de pessoas, mais da metade delas vivendo abaixo da linha da pobreza, está acostumado aos disparos de foguetes e ataques retaliatórios israelenses.
Mas nos últimos 10 dias houve um aumento da violência, começando com o lançamento de balões incendiários - balões cheios de hélio e amarrados a uma carga explosiva - da Faixa de Gaza em direção ao território israelense.
Nos últimos dias, os balões, responsáveis por pelo menos 149 incêndios de acordo com os bombeiros israelenses, somaram-se aos disparos de foguetes. Além disso, os palestinos se aproximaram da barreira altamente protegida entre a Faixa de Gaza e Israel.
Por sua vez, Israel multiplicou os bombardeios noturnos contra a Faixa, controlada desde 2007 pelo movimento islâmico Hamas, reforçou seu bloqueio ao enclave - proibindo os habitantes de Gaza de sair para o Mediterrâneo - e fechou Kerem Shalom, o único ponto de entrada de mercadorias entre Gaza e Israel.
Israel também bloqueou o fornecimento de combustível para o enclave, razão pela qual a Autoridade de Energia de Gaza anunciou que sua central não será mais capaz de operar "em plena capacidade", afundando o território, já acostumado a quedas de energia, em um " déficit elétrico de mais de 75%".
"O exército israelense responderá com força a qualquer violação de sua soberania até que a calma seja totalmente restaurada no sul do país", advertiu no domingo o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz.
Trégua complexa
No início da tarde desta segunda-feira, uma delegação egípcia chegou à Faixa de Gaza pelo ponto de entrada israelense de Erez, segundo fontes de segurança e testemunhas.
Hamas e Israel travaram três guerras, em 2008, 2012 e 2014, e apesar de uma trégua no ano passado mediada pela ONU, Egito e Catar, os dois lados se enfrentam esporadicamente, sob o risco de uma escalada sangrenta.
A trégua prevê que o Catar envie uma ajuda financeira mensal de cerca de 30 milhões de dólares (25 milhões de euros) para a Faixa de Gaza. Mas essa quantia entra em Gaza por Israel.
Durante este ano, foguetes foram disparados de Gaza para pressionar as autoridades israelenses a acelerar o acesso a essa ajuda e tentar, no geral, fazer com que Israel levante o bloqueio que mantém no enclave há mais de uma década.
A ajuda do Catar continua até setembro e um anúncio é esperado se ela será prorrogada.
"O Catar não abandonará Gaza e acredito que este país informou o Hamas de seu acordo em pagar até o final do ano ou por mais um ano", disse à AFP Mukhaimer Abu Saada, professor de ciências políticas da Universidade Al Azhar em Gaza.
O acordo de trégua entre Israel e Hamas também prevê o financiamento do projeto de desenvolvimento econômico do enclave palestino, na esperança de reduzir o desemprego, que chega a 65% entre os jovens.
Mas "o bloqueio está nesses outros desafios", resume um observador ao explicar o recrudescimento da violência entre Israel e o Hamas, e a visita da delegação egípcia.
Mais recentemente, o acordo para normalizar as relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos foi criticado pelos palestinos, incluindo o Hamas.
Israel quer estender essa normalização a outros países árabes da região, o que um conflito com o Hamas, um aliado do Catar - rival dos Emirados - "poderia comprometer".
Por sua vez, o movimento islâmico busca garantir a ajuda e quer evitar um conflito em meio à pandemia de covid-19, destaca Abu Saada, que acredita que ambas as partes querem evitar uma escalada.
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