Troca de prisioneiros paralisada ameaça processo de paz no Afeganistão

França e Austrália se opõem à libertação de vários rebeldes culpados de matar cidadãos de seus países no Afeganistão

Agência France-Presse
postado em 17/08/2020 12:42 / atualizado em 17/08/2020 12:45
 (crédito: Conselho de Segurança Nacional do Afeganistão (NSC) / AFP)
(crédito: Conselho de Segurança Nacional do Afeganistão (NSC) / AFP)

O processo de paz entre o governo afegão e os talibãs parece estar paralisado, já que vários países se opõem à libertação de alguns prisioneiros rebeldes, disse a presidência afegã nesta segunda-feira (17/8), adiando a abertura das negociações.

"Alguns de nossos parceiros estão preocupados com 6 ou 7 desses prisioneiros", afirmou à imprensa o porta-voz do presidente, Sediq Sediqi.

"O governo afegão está trabalhando junto com esses parceiros para responder suas preocupações (...) e encontrar uma solução", acrescentou.

O início das negociações de paz era esperado para os próximos dias, após uma "loya jirga" - grande assembleia de dignatários, que em 9 de agosto votou a favor da libertação de 400 prisioneiros talibãs acusados de crimes graves.

O destino destes 400 presos foi um dos principais obstáculos para o início das negociações entre os insurgentes e o governo, adiadas várias vezes, e que estão previstas no acordo assinado no final de fevereiro em Doha pelos Estados Unidos e os talibãs.

Neste acordo, não ratificado por Cabul, que inclui a retirada das tropas americanas do Afeganistão até meados de 2021, Washington e os insurgentes também acordaram a troca de prisioneiros: cerca de 5.000 talibãs por mil membros das forças armadas afegãs.

Apesar de as autoridades afegãs já terem libertado uma grande parte dos presos, entre eles 80 dos considerados casos mais "sensíveis" na quinta-feira, a troca não foi retomada desde então. "Os talibãs não libertaram alguns de nossos prisioneiros", destacou Sediqqi.

França e Austrália se opõem à libertação de vários rebeldes culpados de matar cidadãos de seus países no Afeganistão.

Os nomes dos dois assassinos de Bettina Goislard, uma funcionária da ONU francesa morta em 2003, e de um ex-soldado afegão que matou a tiros cinco soldados franceses em 2012, estão na lista dos 400 prisioneiros a serem soltos.

A França se "opõe firmemente à libertação de indivíduos condenados por terem cometido crimes contra cidadãos franceses", insistiu seu Ministério das Relações Exteriores no sábado, acrescentando que "pediu a Cabul que não liberte esses terroristas".

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, por sua vez, declarou na semana passada que pressionou contra a libertação de um ex-soldado afegão que matou três soldados australianos.

Os talibãs declararam na segunda-feira passada que estão dispostos a iniciar as negociações com Cabul "na semana seguinte" à libertação dos 400 prisioneiros.

"O processo está paralisado, já que o outro lado não liberta os prisioneiros apesar de suas promessas", disse à AFP Suhail Shaheen, porta-voz dos insurgentes.

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