Horas após ser detido por militares amotinados, Ibrahim Boubacar Keita não resistiu à pressão a seu governo e renunciou à Presidência do Mali. Em um discurso transmitido pela televisão nacional ORTM, Keita também anunciou a dissolução do Parlamento. “Eu gostaria (…), enquanto agradeço ao povo maliense por seu acompanhamento ao longo desses longos anos e seu caloroso afeto, anunciar-lhes minha decisão de deixar minhas funções, todas as minhas funções, a partir deste momento, e com todas as consequências resultantes: a dissolução da Assembleia Nacional e do governo”, afirmou.
No poder desde 2013, Keita foi detido com o seu então primeiro-ministro, Boubou Cissé, à tarde. Militares se aliaram a manifestantes que, nos últimos meses, intensificaram os protestos contra o governo. As manifestações eram reforçadas por uma coalizão eclética de opositores políticos, guias religiosos e membros da sociedade civil, que acusavam o presidente de má gestão.
O motim foi criticado por líderes de vários países, e o seu desdobramento pode mergulhar Mali, que já enfrenta uma insurgência jihadista, em uma crise ainda mais profunda. A pedido da França e do Níger, que preside a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), o Conselho de Segurança da ONU anunciou, antes da demissão de Keita, que celebraria hoje, a portas fechadas, uma reunião de emergência sobre a crise no país africano. Mais cedo também, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou “veementemente as ações” e pediu “a restauração imediata da ordem constitucional e do Estado de Direito no Mali”.
História se repete
Segundo Boubou Doucoure, então diretor de Comunicação do governo, “Keita e Cissé foram levados pelos militares amotinados em veículos blindados a Kati”, onde está o acampamento Sundiata Keita, a 15km da capital, Bamako. Foi nesse mesmo local, em março de 2012, que soldados se rebelaram contra o que consideravam a ineptidão governamental para enfrentar uma ofensiva maior dos rebeldes tuaregues e a chegada de jihadistas provenientes de países vizinhos. Na ocasião, depuseram o presidente Amadou Toumani Touré.
Ontem, pouco antes de ser detido, o primeiro-ministro tentou negociar. Boubou Cisse pediu, em um comunicado, que fossem baixadas as armas, mostrando-se disposto a iniciar com os militares amotinados um “diálogo fraterno para dissipar todos os mal-entendidos”. “As mudanças de humor constatadas traduzem alguma frustração que pode ter causas legítimas”, disse o etão premiê, sem dar mais detalhes sobre as razões da revolta, que os militares classificaram de insurreição popular e não golpe.
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