MALI

Junta militar promete eleições

Após a derrubada do governo, amotinados instituem o Comitê Nacional para a Salvação do Povo (CNSP) e anunciam uma fase de transição, sem mencionar duração. Conselho de Segurança da ONU exige a libertação imediata do ex-presidente, forçado a dissolver gabinete

Correio Braziliense
postado em 19/08/2020 22:39
 (crédito: Malik Konate/AFP)
(crédito: Malik Konate/AFP)

Os militares que derrubaram Ibrahim Boubacar Keita da Presidência do Mali anunciaram, ontem, a criação do Comitê Nacional para a Salvação do Povo (CNSP) e prometeram efetivar “uma transição política civil”, com a realização de eleições em um “prazo razoável”. “Nós, forças patrióticas, decidimos assumir nossas responsabilidades diante do povo e diante da história”, afirmou o porta-voz dos militares, coronel Ismael Wagué, comandante adjunto do Estado-Maior da Força Aérea, horas antes de o também coronel Assimi Goita declarar-se chefe da junta militar.
“O Mali encontra-se em uma situação de crise sociopolítica, de segurança. Não podemos mais cometer erros. Com a intervenção de ontem (terça-feira), o que fizemos foi pôr o país acima de tudo, o Mali diante de tudo”, assegurou Goita, cercado de militares armados. A apresentação ocorreu logo após uma reunião com altos funcionários na sede do Ministério da Defesa, em Bamako. “Era meu dever me reunir com os diferentes secretários-gerais para que possamos garantir-lhes nosso apoio em relação à continuidade dos serviços do Estado”, explicou.
O golpe no Mali, o segundo em oito anos, deixou a comunidade internacional em alerta. Keita e o primeiro-ministro, Boubou Cissé, foram presos na terça-feira por militares amotinados. Na madrugada de ontem, ele renunciou ao mandato e anunciou a dissolução do Parlamento e do governo.
Em reunião extraordinária, a portas fechadas, o Conselho de Segurança da ONU exigiu a “libertação imediata e sem condições” de Keita. Convocados pela França e pelo Níger, os 15 países-membros também enfatizaram a “necessidade urgente de restaurar a lei e avançar no retorno da ordem constitucional”, segundo comunicado divulgado pelas Nações Unidas.
Vários países, inclusive o Brasil, externaram preocupação com a situação e pediram amplo diálogo entre as forças políticas do país africano. “A estabilidade do Mali é fundamental para a prosperidade do povo daquele país e para a segurança em toda a região do Sahel, empenhada na luta contra o terrorismo”, enfatizou o Itamaraty, em nota.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Mike Pompeo, repudiou a ação dos militares e reivindicou a libertação dos integrantes do governo deposto. “Os Estados Unidos condenam energicamente o motim de 18 de agosto no Mali, já que condenamos qualquer tomada de poder pela força”, disse Pompeo em nota, sem mencionar um golpe. Compromisso

Nas primeiras declarações após o motim, o porta-voz dos militares procurou dar uma mensagem de pacificação. O coronel Ismael Wagué destacou que todos os acordos internacionais do Mali serão respeitados. Disse, ainda, que os militares estão comprometidos com o “processo de Argel”, o acordo de paz assinado em 2015 entre Bamako e os grupos armados do norte do país.
“Nosso país, Mali, afunda dia a dia no caos anarquia e na insegurança por culpa dos homens responsáveis por seu destino”, assinalou. O porta-voz do CNPS pediu à população que retomasse suas atividades regulares e que cessasse o “vandalismo” nas ruas.
Durante os protestos após o golpe militar, os manifestantes atearam fogo nos escritórios de um advogado que representava o ex-ministro da Justiça Kassim Tapo. A junta insistiu que não houve mortes na intervenção, desmentindo informações sobre quatro óbitos.
Wagué garantiu, ainda, que normas rigorosas de conduta serão impostas aos militares. “O comitê tomará todas as medidas necessárias para impor uma disciplina militar rígida se alguém uniformizado for pego extorquindo civis”, advertiu o porta-voz.

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