RÚSSIA

Adversário de Putin em coma

Aliados de Alexei Navalny afirmam que ele foi vítima de envenenamento. Líder da oposição passou mal e perdeu a consciência durante voo. Uma operação é organizada às pressas com o objetivo de levar o ativista da Sibéria para a Alemanha

Correio Braziliense
postado em 20/08/2020 23:19
 (crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)
(crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)

Principal voz crítica a Vladimir Putin na Rússia, Alexei Navalny foi vítima, ontem, de um envenenamento, segundo denunciaram aliados. O líder da oposição passou mal num voo de Tomsk, na Sibéria, a Moscou. O piloto fez um pouso de emergência em Omsk. Navalny foi internado na UTI de um hospital, em coma. No fim da noite, após mobilização de apoiadores, um avião-ambulância decolou da Alemanha para tirar o ativista do território russo e levá-lo ao país.
O governo russo mostrou-se disposto a cooperar com o traslado do opositor para o exterior. Mais cedo, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, desejou uma “pronta recuperação” a Navalny. “Sabemos que está em estado grave. Como a qualquer outro cidadão russo, desejamos uma pronta recuperação”, declarou.
Em entrevista à rádio Echo Moscou, Kira Yarmysh, porta-voz do ativista, disse que ele foi vítima de um “envenenamento intencional”. “Acreditamos que Alexei foi envenenado com algo misturado em seu chá. Essa foi a única coisa que ele bebeu pela manhã”, destacou, no Twitter.
Kira Yarmysh viajava com Navalny e assegurou que ele parecia estar “totalmente bem” pela manhã, em Tomsk. “Logo após a decolagem, perdeu a consciência”, relatou. Uma testemunha postou nas redes sociais uma foto do opositor bebendo em um copo de plástico em um café do aeroporto. A rede de televisão Ren divulgou um vídeo mostrando o advogado sendo transferido em uma maca para uma ambulância.
“Os médicos estão fazendo tudo o que podem, estão realmente lutando para salvar sua vida”, informou Anatoli Kalinitshenko, vice-diretor do hospital de Omsk, onde o opositor foi mantido com um respirador. O médico Anatoli Kalinitshenko especificou que o quadro clínico de Navalny era “estável” e enfatizou que era cedo para confirmar se houve envenenamento.
Aliados, porém, tinham pressa para retirá-lo do território russo. Sob o comando da organização Cinema for Peace, foi montada uma operação para levar Navalny para a Alemanha, aos moldes da colocada em prática, em 2018, para Piotr Verzilov, ativista do grupo de protesto Pussy Riot, outra suposta vítima de envenenamento.
Diretor jurídico da fundação anticorrupção dirigida por Navalny, Vyasheslav Gimadi, pediu a abertura de uma investigação por tentativa de homicídio de pessoa pública. “Não há dúvida de que Navalny foi envenenado por sua posição e atividades políticas”, opinou.
Nos últimos dias, Navalny intensificou as viagens pela Rússia para pedir votos aos candidatos da oposição nas eleições regionais a serem realizadas em cerca de 30 regiões no próximo mês. “O partido no poder tem muito dinheiro, só podemos contar com a ajuda de pessoas boas e honestas”, assinalou, anteontem, numa postagem no Instagram.


Antecedentes

Essa não é a primeira vez que a equipe de Navalny denuncia ataques contra ele. Em 2017, o advogado, de 44 anos, sofreu queimaduras em um olho quando jogaram um líquido desinfetante em seu rosto.
Em julho de 2019, quando cumpria uma breve pena de prisão,ele alegou ter sido envenenado com um “material químico desconhecido” e foi transferido para um hospital. Na época, as autoridades russas afirmaram que ele teve uma “reação alérgica” e que não haviam encontrado “nenhuma substância tóxica” em seu organismo.
Nas duas últimas décadas, cinco casos de envenenamentos, alguns não comprovados oficialmente, tiveram grande repercussão internacional. O mais rumoroso, que culminou em uma crise diplomática entre Londres e Moscou, ocorreu em 2018. O ex-agente russo Serguei Skripal e a filha Yulia foram encontrados inconscientes em Salisbury, no sul da Inglaterra. Passaram meses hospitalizados. O governo britânico acusou a Rússia de envolvimento no episódio. O Kremlin negou.

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