O rei emérito espanhol Juan Carlos afirmou que sua ex-amante, protagonista de algumas acusações de corrupção que o levaram ao exílio, não serviu de laranja para esconder sua fortuna, em uma carta datada de 2018 e divulgada pela imprensa espanhola nesta sexta-feira (21/8).
Corinna Larsen, amante de Juan Carlos entre 2004 e 2009, reconheceu que mais tarde recebeu dele uma grande doação, estimada em 65 milhões de dólares por uma investigação do jornal suíço "La Tribune de Geneve".
Em uma entrevista transmitida na quinta-feira pela BBC, Corinna afirma que o rei emérito, que abdicou em 2014, lhe deu este "presente extraordinariamente generoso" em agradecimento por sua amizade e por cuidar dele, assim como para garantir seu futuro e também por afeto a um filho dela.
Corinna Larsen, uma empresária dinamarquesa que usa o sobrenome de um ex-marido alemão, o príncipe zu Sayn-Wittgenstein, está sendo investigada na Suíça por conta de fundos depositados neste país pelo ex-chefe de Estado espanhol, especificamente 100 milhões de dólares recebidos da Arábia Saudita em 2011.
Outros suspeitos também estão sendo investigados.
O promotor suíço suspeita que a doação de 65 mihões de dólares para Corinna Larsen teria como objetivo esconder a quantidade restante de 100 milhões de dólares inicialmente pagos pelos sauditas.
Se esse for o caso e se o dinheiro for de origem ilícita, ela será culpada pelo crime de lavagem de dinheiro, acusação que nega categoricamente.
A divulgação da carta, de 12 de agosto de 2018, pouco depois de algumas gravações nas quais Corinna Larsen acusa Juan Carlos de corrução vazarem na imprensa espanhola, ajuda na tese de sua inocência.
A carta do rei emérito espanhol está escrita em francês e foi destinada a um colaborador na Suíça, o advogado Dante Canonica. Nela, dom Juan Carlos afirma que a doação feita para Corinna em 2012 era irrevogável e que ele nunca tentou recuperar o dinheiro entregue a ela.
"Não recebi dela nenhuma devolução. Além disso, nunca pedi", escreveu dom Juan Carlos.
"Portanto, a senhora Corinna zu Sayn Wittgenstein nunca levou dinheiro em meu nome, ao contrário do que pode ser indicado na imprensa espanhola", escreveu o ex-monarca.
A divulgação da carta ocorreu um dia depois da entrevista na BBC, na qual Corinna Larsen disse que o rei "confirmou que nunca pediu para devolver o dinheiro e que eu nunca consegui dinheiro para ele".
O escândalo gerado pelas revelações da ex-amante levou à abertura de investigações judiciais na Suíça e Espanha e forçou o rei emérito, pai do atual monarca Felipe VI, a se exilar desde 3 de agosto nos Emirados Árabes Unidos.
Juan Carlos, de 82 anos, declarou que continua à disposição da justiça.
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