O Kremlin afirmou nesta terça-feira (25/8) que os médicos alemães se apressaram para afirmar que o opositor russo Alexei Navalny foi envenenado, um caso que provocou uma série de críticas internacionais ao presidente Vladimir Putin.
"A análise de nossos médicos e a dos médicos da Alemanha concordam por completo. Mas as conclusões são diferentes. Não entendemos esta pressa da parte dos colegas alemães", declarou Dmitri Peskov, porta-voz do presidente russo.
De acordo com Peskov, o envenenamento "é uma pista entre outras, mas há muitas outras pistas médicas".
Os médicos do hospital de Berlim em que Navalny está internado anunciaram na segunda-feira que chegaram à conclusão de que o opositor russo foi intoxicado com "uma substância do grupo dos inibidores da colinesterase", mas sem conseguir precisar qual.
Esta substância pode ser utilizada, em doses baixas, para combater o mal de Alzheimer. Mas em doses elevadas pode ser muito perigosa e se tornar um potente agente neurotóxico, do tipo do agente Novichok.
Peskov insistiu no fato de que os médicos alemães "não identificaram nenhuma substância".
No seu entendimento, os médicos russos também constataram que Navalny tinha um "nível muito baixo de colinesterase, mas que não era possível deduzir por isso que havia sido envenenado".
"Esta baixa (de colinesterase) pode ter várias causas, como por exemplo a ingestão de alguns medicamentos. É necessário estabelecer a causa, e esta causa não foi identificada pelos nossos médicos nem pelos médicos alemães", disse.
"Não sabemos se foi envenenado ou não", concluiu.
Vários precedentes
A equipe de Navalny denuncia um envenenamento desde que o opositor passou mal em um avião que o transportava da Sibéria para Moscou.
Os médicos do hospital da cidade siberiana de Omsk, para onde o advogado foi levado em um primeiro momento, rejeitaram a hipótese e depois impediram por algum tempo a transferência para a Alemanha.
Diversas pessoas próximas a Navalny suspeitam que, com o atraso, as autoridades russas ganharam tempo para permitir a dissolução da possível substância tóxica e impedir a detecção.
O embaixador americano em Moscou, John Sullivan, disse que a suspeita do envenenamento "torna necessária uma investigação imediata, completa e transparente por parte das autoridades russas".
Para a Alemanha em particular, e a UE em geral, praticamente não há dúvidas. A chanceler Angela Merkel pediu à Rússia uma "solução de maneira urgente do caso, nos mínimos detalhes e com total transparência".
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, pediu a Moscou uma "investigação independente e transparente" sobre o que "parece ser um ataque à vida de Navalny".
O governo francês disse que Navalny foi vítima de um "ato criminoso (...) os responsáveis por esse ato devem ser identificados e levados à Justiça".
Muitos críticos do governo russo foram assassinados nos últimos anos, como o opositor Boris Nemtsov ou a jornalista Anna Politkóvskaya. Em nenhum caso a verdade foi estabelecida.
Outros foram envenenados, como o ex-agente duplo Serguei Skripal e sua filha Yulia em março de 2018 no Reino Unido, justamente com o Novichok.
Os serviços especiais russos foram apontados como culpados pela investigação britânica e a maioria dos países ocidentais, mas o Kremlin negou as acusações.
A Rússia também rejeitou qualquer responsabilidade no envenenamento com polônio 210, substância radioativa, de um ex-agente do serviço secreto que passou para a oposição, Alexander Litvinenko, em 2006 em Londres.
Outros opositores também afirmaram ter sido envenenados, como Piotr Verzilov, militante do grupo Pussy Riot, que em 2018 também recebeu atendimento médico em Berlim.
Navalny foi vítima de vários ataques físicos. Em 2017 foi atingido com um produto antisséptico nos olhos quando deixava seu escritório em Moscou.
Em julho de 2019, quando cumpria uma pequena sentença de prisão, ele sofreu uma erupção cutânea no torso e denunciou um envenenamento. As autoridades afirmaram que ele sofreu uma "reação alérgica".
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