A família de um homem negro baleado por um policial branco no último fim de semana pediu calma nesta terça-feira, ante o aumento da revolta nos Estados Unidos frente ao novo caso de violência policial contra a comunidade negra, que reacendeu os protestos contra o racismo.
"De verdade, precisamos apenas de orações", disse Julia Jackson sobre o ataque a seu filho Jacob Blake, que levou sete tiros da polícia no último domingo diante dos três filhos. "Enquanto caminhava por esta cidade, observei muitos estragos. Isto não reflete o meu filho, nem a minha família. Se Jacob soubesse o que está acontecendo, a violência e destruição, teria muito desgosto", afirmou Julia em entrevista coletiva.
Com a tensão ainda latente após a morte de George Floyd, cidadão negro morto por um policial branco, a cidade de Kenosha foi cenário de confrontos pela segunda noite consecutiva. Os protestos começaram após a divulgação, no último domingo, do vídeo que mostra a agressão a Blake.
Pouco depois da entrada em vigor do toque de recolher estabelecido entre 20H00 de segunda-feira e 07H00 de terça-feira, policiais da unidade antidistúrbios usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Os policiais responderam aos manifestantes que lançavam garrafas d'água e fogos de artifício em direção aos agentes. Horas antes, centenas de manifestantes gritaram diante dos policiais: "Sem justiça, não há paz!" e "Diga o nome dele, Jacob Blake".
A vítima estava internada, após passar por uma cirurgia no hospital de Milwaukee, a cerca de 40 km. O advogado Benjamin Crump, que também representa a família de George Floyd, informou hoje que "o diagnóstico médico é de que Blake está paralisado".
Vídeos contra a impunidade
Como ocorreu com George Floyd, afro-americano de 46 anos que morreu asfixiado em 25 de maio quando um policial branco ajoelhou por vários minutos em seu pescoço, a tentativa de detenção de Blake foi filmada por uma testemunha e o vídeo viralizou nas redes sociais.
"O que justifica esses tiros? O que justifica fazer isso na frente dos meus netos?", protestou hoje o pai de Blake, também chamado Jacob, em entrevista ao jornal "Chicago Sun Times". "Ele está paralisado da cintura para baixo."
Autoridades afirmaram que os dois policiais envolvidos foram suspensos e uma investigação foi iniciada após os distúrbios de domingo, quando vários veículos foram incendiados e os arredores de um tribunal foram destruídos.
"Se eu matasse alguém, seria condenado e tratado como um assassino. Acho que o mesmo deveria acontecer com a polícia", disse à AFP Sherese Lott, 37, que expressava sua indignação nas ruas de Kenosha, cidade de 170 mil habitantes localizada às margens do lago Michigan.
A polícia de Kenosha rechaçou as críticas e pediu que se aguarde os resultados da investigação feita pelo Departamento de Justiça de Wisconsin.
O governador de Wisconsin, Tony Evers, pediu aos manifestantetes que permaneçam em paz e pediu o envio de mais tropas da Guarda Nacional.
"Não podemos permitir que continue o ciclo de racismo e injustiça sistêmicos", afirmou em um comunicado. "Tampouco podemos seguir por este caminho de danos e destruição", completou.
O presidente Donald Trump, que ainda não havia se pronunciado sobre o tema, encorajou Evers a utilizar a Guarda Nacional para sufocar os protestos.
"Ela (a Guarda Nacional) está preparada, decidida e mais que capaz. Resolva o problema RAPIDAMENTE!", escreveu no Twitter o republicano, que transformou as palavras "lei e ordem" em um dos lemas da campanha para a eleição presidencial de 3 de novembro.
O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, considerou que o racismo representa "uma crise de saúde pública" e exigiu uma investigação a fundo do ocorrido.
Os democratas pediram à Legislatura do estado, controlada pelos republicanos, que discuta o pacote de projetos apresentado no começo do ano visando a uma reforma da polícia.
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