Água

Estudo propõe nova origem para surgimento de água no planeta Terra

Uma equipe de cientistas franceses divulgaram na revista científica Science quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis por seu aparecimento

Agência France-Presse
postado em 27/08/2020 16:17 / atualizado em 27/08/2020 16:18
Um pedaço do meteorito Sahara 97096 (cerca de 10 cm de comprimento), um condrito enstatita que contém cerca de 0,5 por cento em peso de água. -  (crédito: Laurett PIANI, Christine FIENI / Muséum national d'Histoire naturelle / AFP)
Um pedaço do meteorito Sahara 97096 (cerca de 10 cm de comprimento), um condrito enstatita que contém cerca de 0,5 por cento em peso de água. - (crédito: Laurett PIANI, Christine FIENI / Muséum national d'Histoire naturelle / AFP)

A água cobre 70% da superfície da Terra, mas como este elemento crucial para a vida como a conhecemos surgiu é tema de um longo debate científico.

Uma equipe de cientistas franceses avançou mais um passo na solução deste quebra-cabeça nesta quinta-feira (27/8), ao reportar na revista científica Science ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis por seu aparecimento.

A cosmoquímica Laurette Piani, que conduziu o estudo, disse à AFP que, ao contrário das teorias dominantes, a água da Terra já poderia estar contida nas rochas que formaram o planeta.

Segundo modelos remotos de como o Sistema Solar se formou, os grandes discos de gás e poeira que giravam em torno do Sol e, eventualmente, formaram os planetas internos eram quentes demais para formar gelo.

Isto explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul, que tem vastos oceanos, uma atmosfera úmida e uma geologia bem hidratada.

A ideia mais comum é que a água foi trazida posteriormente por objetos extraterrestres e os principais suspeitos são os meteoritos ricos em água, conhecidos como condritos carbonáceos.

Mas o problema era que sua composição química não combina muito com as rochas do nosso planeta.

Elas também se formaram nos confins do Sistema Solar, tornando-se menos propensas a ter bombardeado a jovem Terra.

Outros tipos de meteorito, denominados condritos enstatitas (ECs), são muito mais próximos de uma paridade química, indicando que teriam sido os formadores da Terra e de outros planetas internos do Sistema Solar.

No entanto, devido a que estas rochas se formaram perto do Sol, presumia-se que fossem muito secas para serem responsáveis pelos ricos reservatórios de água da Terra.

Para testar se isto de fato é verdade, Piani e seus colegas da Universidade de Lorraine usaram uma técnica denominada espectrômetro de massa para medir o hidrogênio contido em 13 condritos enstatitas.

Eles descobriram que as rochas continham hidrogênio suficiente para fornecer à Terra pelo menos três vezes a massa de água de seus oceanos.

Também mediram os dois tipos de hidrogênio, conhecidos como isótopos, porque a proporção relativa dos mesmos é muito diferente entre um e outro objeto do Sistema Solar.

"Nós descobrimos que a composição isotópica do hidrogênio dos condritos enstatitas é similar à da água armazenada no manto terrestre", disse Piani, que comparou o achado a uma paridade de DNA.

Ela acrescentou que o estudo não exclui que tenha ocorrido uma adição posterior de água de outras fontes, como cometas, mas indica que os condritos ensatitas contribuíram significativamente para que que se formasse a reserva de água na Terra na época.

O trabalho "traz um elemento crucial e elegante para este quebra-cabeça", escreveu Anne Peslier, cientista planetária da Nasa, em um editorial que acompanhou o estudo.

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