Israel e Emirados Árabes Unidos fazem acordo 'histórico' mediado pelos EUA

O acordo foi anunciado em primeira mão pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no Twitter

Israel e Emirados Árabes Unidos anunciaram nesta quinta-feira um acordo para normalizar as relações com a mediação dos Estados Unidos. Este é o terceiro acordo que o Estado hebreu faz com uma nação árabe, no qual se compromete a suspender a anexação de territórios palestinos.

O acordo foi anunciado em primeira mão pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no Twitter, que afirmou tratar-se de um "ENORME avanço", tuitou nesta quinta-feira, referindo-se ao "Acordo de Paz Histórico entre nossos dois GRANDES amigos".

Estabelecer laços diplomáticos entre Israel e os aliados de Washington no Oriente Médio, incluindo as ricas monarquias conservadoras do Golfo, é um objetivo fundamental da estratégia regional de Trump para conter o Irã, que também é um arqui-inimigo de Israel.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que se trata de um "dia histórico" e que o acordo marca "uma nova era nas relações entre Israel e o mundo árabe".

Israel concordou em "suspender a anexação de territórios palestinos" sob o plano de normalizar as relações, o príncipe herdeiro de Abu Dhabi tuitou após a bomba de Trump.

Em declaração, os líderes das três nações anunciaram que "Israel suspenderá a declaração de soberania" sobre as áreas ocupadas da Cisjordânia palestina - uma ideia que havia sido proposta no polêmico plano anterior de Trump para a resolução do conflito.

"Durante uma ligação com o presidente Trump e o primeiro-ministro Netanyahu, um acordo foi alcançado para impedir a anexação israelense de territórios palestinos", escreveu o xeque Mohammed bin Zayed Al-Nahyan, príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, em sua conta no Twitter.

No entanto, Netanhyahu afirmou em pronunciamento nacional televisionado que a anexação de terras da Cisjordânia "foi adiada", mas que "não se renunciou a ela".

O polêmico plano Trump, revelado em janeiro e fortemente contestado pelos palestinos, ofereceu um caminho para Israel anexar territórios e assentamentos judeus na Cisjordânia, comunidades consideradas ilegais segundo o direito internacional.

A proposta foi rejeitada por ser considerada pelos palestinos e vizinhos árabes de Israel como tendenciosa e insustentável, e gerou temores sobre uma possível escalada de tensão regional.

- "Há coisas acontecendo" -
Desde sua fundação em 1948, Israel tem relações complicadas e às vezes violentas com o mundo árabe e muçulmano, com a maioria dos países evitando manter relações até que o conflito palestino-israelense seja resolvido.

O acordo tornaria os Emirados Árabes Unidos o terceiro país árabe com o qual Israel mantém relações diplomáticas depois dos acordos de paz com Egito e Jordânia.

No entanto, o grupo islâmico palestino Hamas, que comanda a costa da Faixa de Gaza, rapidamente expressou que o acordo "não serve à causa palestina".

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, solicitou uma "reunião de emergência" com as autoridades máximas do seu governo para discutir o anúncio.

O presidente Abdel Fattah al-Sissi do Egito, que assinou um tratado com Israel em 1979 contra a oposição de todo o mundo árabe, elogiou o acordo "sobre a suspensão da anexação de terras palestinas por Israel" e disse esperar que ele traga "paz" para o Oriente Médio.

O anúncio marca uma importante conquista de política externa para Trump, que se encaminha para uma difícil campanha pela reeleição em novembro.

Trump sugeriu a jornalistas que mais avanços diplomáticos entre Israel e os países árabes da região são esperados, sem dar mais detalhes.

"Estão acontecendo coisas sobre as quais não posso falar", resumiu.

O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, descreveu o acordo como "um passo significativo para a paz no Oriente Médio".

"Os Estados Unidos esperam que este passo corajoso seja o primeiro de uma série de acordos que encerram 72 anos de hostilidades na região", disse Pompeo.

O acordo seria assinado na Casa Branca em uma data futura, segundo Pompeo.

Richard Hass, presidente do Conselho de Relações Exteriores, disse à AFP que o acordo foi "um marco na aceitação árabe de Israel na região".

Também foi "um freio à anexação, que colocaria em risco a paz de Israel com a Jordânia e o futuro de Israel como um Estado judeu democrático", disse.

- 'Armadilha de anexação' -
Em um comunicado conjunto, Trump, Netanyahu e o príncipe Mohammed relataram ter conversado nesta quinta-feira "e concordaram com a normalização total das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos".

"A pedido do presidente Trump com o apoio dos Emirados Árabes Unidos, Israel suspenderá a declaração de soberania sobre as áreas delineadas no (acordo) Visão do Presidente para a Paz e concentrará seus esforços agora na expansão dos laços com outros países do mundo árabe e muçulmano", diz o texto da declaração.

Delegações israelenses e dos Emirados Árabes Unidos se reunirão nas próximas semanas para discutir investimentos, turismo, voos diretos, segurança e a criação de embaixadas recíprocas, informaram.

O trio estava confiante sobre mais acordos semelhantes com outros países, acrescentou o comunicado.

O ministro de relações exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Anwar Gargash, disse em uma coletiva de imprensa que "a maioria dos países verá isso como um passo ousado para garantir uma solução de dois Estados, dando tempo para negociações".

"Os Estados Unidos, Israel e os Emirados Árabes Unidos estão confiantes de que avanços diplomáticos adicionais com outras nações são possíveis e trabalharão juntos para atingir esse objetivo", acrescentou Aaron David Miller, um veterano negociador dos EUA no processo de paz do Oriente Médio e analista do Carnegie Endowment for International Peace.

"(Os) Emirados Árabes Unidos dizem que impediram a anexação; os EUA também evitam a anexação e conseguem um grande avanço, e Netanyahu, por sua vez, consegue uma enorme vitória e se livra da armadilha da anexação", escreveu Miller no Twitter.