Crise na bielorrússia

Rússia mobiliza militares

Vladimir Putin pede saída negociada para o impasse político, mas, a pedido do presidente Alexander Lukashenko, alerta que está pronto para intervir no país vizinho, caso seja necessário. União Europeia envia diplomatas para mediar diálogo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou, ontem, que está preparado para intervir militarmente na Bielorrússia, caso a situação política no país vizinho, com protestos diários contra o governo, torne-se mais grave. O líder russo pediu diálogo entre as partes envolvidas na crise, mas disse que está disposto a ajudar o presidente Alexander Lukashenko.

“Ele me pediu para constituir uma reserva de agentes das forças de segurança, e eu lhe atendi”, declarou o chefe do Kremlin. “Mas, concordamos que ele não a usará até que a situação esteja fora de controle e que os elementos extremistas (...) ultrapassem certas barreiras: incendiar veículos, casas, bancos, tentar tomar prédios administrativos”, explicou, referindo-se à oposição.

Há poucos dias, Alexander Lukashenko revelou que havia recebido uma promessa de “ajuda de Moscou”. Segundo Putin, o possível apoio está previsto na estrutura dos acordos militares e de segurança existentes.

A possibilidade de diálogo mostra-se cada vez mais remota. A oposição bielorrussa afirma que quer dialogar com Lukashenko, mas exige sua saída do cargo. Reeleito no último dia 9, o presidente rejeita qualquer negociação, limitando-se a citar um vago projeto de revisão constitucional.

Em reação ao anúncio de Putin, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, pediu a Moscou que não interfira. “Ninguém, tampouco a Rússia, deve se intrometer”, enfatizou Stoltenberg, em entrevista à edição on-line do jornal alemão Bild. “Belarus é um Estado soberano e independente”, acrescentou.

Embaixadores da União Europeia (UE) em Minsk alertaram o chanceler da Bielorrússia, Vladimir Makei, que o processo judicial contra os opositores é inaceitável. O encontro ocorreu em um momento em que o bloco deve decidir sobre as sanções que vai impor a altos funcionários do país, após rejeitar a reeleição de Lukashenko. Inflexível, o presidente denunciou o que chamou de “guerra híbrida”, diplomática e midiática, liderada por vizinhos bálticos e poloneses.

Pressão

No poder desde 1994, Lukashenko enfrenta um movimento de protesto sem precedentes, provocado pela polêmica reeleição, com 80% dos votos, que a oposição sustenta ter sido resultado de fraude. A adversária Svetlana Tijanovskaia reivindica a vitória. Diante da pressão das autoridades, ela refugiou-se na Lituânia.

Ontem, Maria Kolesnikova, uma das principais figuras da oposição, foi convocada por investigadores no âmbito do processo contra o conselho criado para promover a transição política, do qual faz parte. A exemplo da escritora Svetlana Alexijevich, Nobel de Literatura em 2015, ela recusou-se a responder às perguntas: “Exerci meu direito constitucional de não testemunhar contra mim”, disse a jornalistas.

 

“Ninguém, tampouco a Rússia, deve se intrometer. A Bielorrússia é um Estado soberano e independente”
Jens Stoltenberg, chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)

 

 

 

 

Moscou investiga caso Navalny

O governo da Rússia anunciou, ontem, ter iniciado uma análise preliminar sobre o suposto envenenamento do líder opositor Alexei Navalny, em coma há uma semana, após passar mal durante um voo. Ontem, a Procuradoria pediu à Alemanha informações sobre o estado de saúde do advogado, de 44 anos, transferido para um hospital de Berlim depois de passar dois dias internado na Sibéria.

“A parte alemã foi convidada a dar às autoridades russas explicações, informações e testes de diagnósticos preliminares feitos por ela, assim como os documentos com informações médicas dos especialistas”, elencou um comunicado divulgado pelo órgão, assinalando, porém, que não vê “qualquer prova de um ato criminoso” no caso.

Segundo outra nota, divulgada pelo ministério russo do Interior, investigadores realizaram uma busca no quarto de hotel em que Navalny ficou hospedado em Tomsk, cidade em que teria sido envenenado, de acordo com sua equipe. As imagens das câmeras de segurança estão sob análise.

Além disso, todos os lugares por onde o adversário político de Putin passou foram inspecionados, segundo comunicado. Os investigadores apreenderam “mais de 100 objetos que podem ter valor de prova”. A partir da análise de todo o material, assinala o ministério, virá a decisão sobre a abertura, ou não, de um processo criminal.

Os médicos alemães sustentam que Nalvany foi intoxicado por uma substância do grupo dos inibidores da colinesterase. Em doses baixas, o produto pode ser usado contra o Alzheimer, por exemplo. No entanto, pode ser muito perigoso e produzir poderosos agentes neurotóxicos, do tipo do Novichok.