Natureza

Índice aponta que planeta perdeu quase 70% da fauna selvagem desde 1970

A atividade humana e sua sociedade de consumo degradou também três quartos das terras e 40% dos oceanos

Agência France-Presse
postado em 09/09/2020 21:48 / atualizado em 09/09/2020 21:50
 (crédito: CRISTINA QUICLER / AFP)
(crédito: CRISTINA QUICLER / AFP)

Paris, França - O planeta perdeu em menos de 50 anos mais de dois terços de seus vertebrados e as regiões tropicais das Américas Central e do Sul são as mais atingidas, com um colapso que alcança 94%, de acordo com um relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

A atividade humana e sua sociedade de consumo degradou também três quartos das terras e 40% dos oceanos. De concreto, o desmatamento e a expansão agrícola são os maiores responsáveis para explicar o desaparecimento de 68% dos vertebrados entre 1970 e 2016, informou a 13ª edição do Índice Planeta Vivo publicado nesta quarta-feira.

O relatório, elaborado a cada dois anos pela WWF Internacional em colaboração com a Zoological Society de Londres, alerta também para o risco de epidemias futuras, à medida que o homem estende sua presença e entra em contato com animais selvagens.

"Durante 30 anos, estamos seguindo neste queda (da biodiversidade), que se acelera. Continuamos indo na direção errada", declarou à AFP o diretor-geral da WWF, Marco Lambertini.

"Em 2016, documentamos uma diminuição de 60%, agora 70%", um lapso que representa "um abrir e fechar de olhos se comparado com os milhões de anos de vida de muitas espécies neste planeta", analisou Lambertini.

Queda "avassaladora" 


A principal causa desta perda de biodiversidade é a modificação das terras, especialmente quando a indústria converte os bosques em fazendas ou explorações agrícolas, destruindo o habitat dos animais selvagens. A isso, somam-se as espécies invasivas e a contaminação.

No total, um terço da superfície terrestre e três quartos dos recursos de água doce são dedicados à produção de alimentos. Nos oceanos, 75% das reservas de peixes sofrem com sobrepesca. Embora global, o problema é mais acentuado em determinadas regiões.

Nas regiões tropicais das Américas Central e do Sul a perda é quase absoluta, alcançando 94%, especialmente para anfíbios, répteis e peixes, devido a um "coquetel" de fatores, como o uso exagerado e o desenvolvimento da energia hidroelétrica, que "impacta de forma severa as populações" de peixes e representa "uma ameaça ainda maior no futuro".

O Índice alerta também que doenças são o principal perigo para os anfíbios. No Panamá, por exemplo, o fungo responsável pela quitridiomicose (uma doença infecciosa) causou uma enorme mortalidade, provocando o desaparecimento de 30 espécies. "É assustador. Um indicador de nosso impacto sobre a natureza", lamentou Lambertini.

Sociedade, de "triste a preocupada" 


O novo Índice foi publicado em conjunto com um estudo elaborado por mais de 40 instituições acadêmicas e ONGs que enumera as maneiras de frear e reverter as perdas provocadas pela ação do homem. A pesquisa, publicada pela revista Nature, conclui que reduzir o desperdício de alimentos e favorecer dietas mais saudáveis e mais favoráveis ao meio ambiente poderia conter a degradação.

Combinadas com um esforço radical de conservação, estas medidas poderiam evitar mais de dois terços das futuras perdas em biodiversidade, calculam os autores.

"Devemos atuar agora. O ritmo de recuperação é geralmente muito mais lento" do que as perdas, informou David Leclere, autor principal do estudo e pesquisador do International Institute of Applied System Analysis, da Áustria.

"Se demorarmos, haverá mais perdas e serão necessárias décadas para recuperá-las", continuou Leclere, admitindo, porém, que algumas perdas são "irreversíveis" caso uma espécie tenha sido extinta, por exemplo.

Lambertini explicou que, assim como a mudança climática, as sociedades estão cada vez mais sensibilizadas com o vínculo entre o estado do planeta e a saúde humana. "Antes, as pessoas ficavam tristes por causa da degradação da natureza, agora começam a ficar preocupadas".

"Ainda temos um dever moral de co-existir com a vida no planeta, mas agora também se leva em consideração os impactos em nossa sociedade, nossa economia e, consequentemente, em nossa saúde", concluiu.

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