Depois de Maria Kolésnikova, mais um líder da oposição bielorrussa foi preso em Minsk, ontem, exatamente um mês após o início dos protestos contra o presidente Alexander Lukashenko. O advogado Maxim Znak, segundo testemunhas, foi rendido por homens à paisana que usavam máscaras, mesmo padrão adotado na detenção de Maria, um dia antes. De acordo com nota divulgada pelo Comitê de Investigação, órgão responsável pelos processos criminais contra os adversários do governo, os dois são acusados de violar a segurança nacional.
Com a prisão de Znak, a escritora Svetlana Alexievich, vencedora do Nobel de Literatura de 2015, é a única dirigente do Conselho de Coordenação, criado para negociar a saída de Lukashenko, ainda em liberdade na Bielorrússia. Principal figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, que enfrentou o presidente nas eleições de 9 de agosto, refugiou-se na Lituânia. E Olga Kovalkova partiu para a Polônia.
Sentindo-se acuada, Svetlana Alexievich, de 72 anos, denunciou à imprensa que homens não identificados estavam posicionados diante de sua residência e tocavam de forma constante o interfone. Diplomatas de vários países, como Suécia e Lituânia, seguiram para a casa da escritora para expressar solidariedade.
À frente das manifestações que invadiram a Bielorrússia, Maria Kolésnikova e Maxim Znak também são acusados de liderar “ações para desestabilizar a situação”. Ambos estão sujeitos a uma pena de até cinco anos de prisão.
O Conselho de Coordenação anunciou a prisão de Znak, de 39 anos, em uma mensagem no aplicativo Telegram. Também divulgou uma foto que mostra o líder oposititor sendo conduzido por homens de máscara com trajes civis. Na véspera, havia usado o mesmo recurso para informar sobre o “bizarro sequestro” de Maria Kolésnikova pelas autoridades.
“Maria está de bom humor, pronta para o combate, ela não nega os atos dos quais é acusada”, disse, ontem, sua defensora, a advogada Liudmila Kazak. “Ela confirma que rasgou seu passaporte de propósito para permanecer em Belarus”, acrescentou.
Por meio de um comunicado, Svetlana Tikhanovskaya denunciou o que chamou de sequestros de Kolésnikova e Znak e pediu a libertação imediata dos dois. “Lukashenko tem medo das negociações e tenta (...) paralisar o trabalho do Conselho de Coordenação”, disse. “Não há alternativa às negociações e Lukashenko tem que aceitá-las”, completou.
Svetlana Tikhanovskaya reuniu-se, ontem, em Varsóvia com o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, antes de fazer um discurso perante a diáspora bielorrussa, no qual afirmou que Lukashenko “já não é legítimo aos olhos do povo”.
A despeito da repressão das manifestações e das pressões contra os opositores de maior destaque, as mobilizações nas ruas de cidades a Bielorrússia seguem intensas. A cada domingo, nas últimas quatro semanas, mais de 100 mil pessoas se reuniram em Minsk.
No nível diplomático, o Chipre bloqueou a adoção pela União Europeia de novas sanções contra o país porque exige que medidas comparáveis às da Turquia sejam adotadas devido à crise no Mediterrâneo Ocidental, relataram fontes europeias. Os chanceleres da comunidade autorizaram, em agosto, medidas para punir os responsáveis pela repressão da oposição em Belarus.
No poder desde 1994, Lukashenko repetiu, ontem, que não sairá sob pressão, mas mencionou pela primeira vez possíveis eleições antecipadas. Depois de acusar a Rússia durante a campanha eleitoral de querer afastá-lo do poder pôr sua recusa a aceitar as ambições de Moscou, ele deu um giro de 180 graus e passou a pedir o apoio russo ante os protestos.
“Não há alternativa às negociações e Lukashenko tem que aceitá-las”
Svetlana Tikhanovskaya, candidata derrotada nas eleições presidenciais
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