Sete mortos, centenas feridos de bala e vários postos de polícia destruídos nos protestos e tumultos que eclodiram na quarta-feira (10/9) em Bogotá, após a morte de um homem por repetidos choques dados por dois policiais com uma arma elétrica, segundo um relatório oficial.
As manifestações começaram na noite de quarta-feira em vários pontos da capital colombiana e se estenderam para cidades como Medellín e Cali.
Pelo menos três das vítimas em Bogotá morreram por ferimentos de bala, entre elas um menor de 17 anos, informou a polícia em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
Houve fortes confrontos na capital que foram registrados em vídeos, e uma onda de ataques a postos de comando conhecidos como Centros de Atenção Imediata (CAI).
"Estamos diante de um ato maciço de violência", afirmou o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, em coletiva de imprensa.
No Twitter, a prefeita de Bogotá, Claudia López, informou sobre 362 feridos: 248 civis e 114 uniformizados.
Entre os "cidadãos feridos", 58 foram baleados. "Houve um uso indiscriminado de armas de fogo. Estamos nos hospitais acompanhando os familiares e reconstruindo os fatos", acrescentou a prefeita.
CIDH condena violência
Grupos de manifestantes denunciaram nas redes sociais novos excessos da polícia durante os protestos desencadeados pela morte de Javier Ordóñez, um advogado de 46 anos e pai de dois filhos.
O relatório do governo registrou 56 postos de comando "vandalizados", assim como 70 presos por danos e "violência contra a força pública".
A agressão que gerou os violentos protestos ocorreu na madrugada de quarta-feira no noroeste de Bogotá e foi filmada por uma testemunha e amigo de Ordóñez.
A sequência de cerca de dois minutos mostra o momento em que os militares dominam Ordóñez. Uma vez no chão, os agentes aplicam-lhe pelo menos cinco choques de vários segundos com uma arma elétrica.
"Chega, por favor", ouve-se Ordóñez suplicando, repetidas vezes.
Depois de receber os choques, Ordóñez foi levado para um posto policial e, de lá, para uma clínica, onde não resistiu e faleceu.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou fortemente nesta quinta "os casos de brutalidade e de abuso policial" na Colômbia.
"A CIDH condena enfaticamente os casos de brutalidade e abuso policial", tuitou a Comissão, um ente autônomo do sistema interamericano que vela pelo respeito dos direitos humanos.
Segundo a CIDH, que citou "informação pública", Ordoñez morreu "como consequência dos golpes e das descargas elétricas aplicadas por agentes policiais, enquanto era dominado no chão".
O organismo apontou ainda que houve mortos e feridos nos protestos pelo ocorrido com Ordóñez e que "todos estes fatos devem ser esclarecidos, investigados e punidos".
"A CIDH lembra o Estado de seu dever de garantir o direito à vida, integridade e liberdade de manifestação", afirmou, em outro tuíte.
A comissão ressaltou que "atos isolados de violência não transformam em uma ameaça à ordem pública o movimento social que exerce seus direitos de liberdade de expressão, reunião e associação".
Segurança reforçada
As investigações e autópsia devem determinar se Ordóñez recebeu mais punições no CAI para onde foi levado, como sugere sua família.
Os policiais que prenderam Ordóñez já foram suspensos, disse o ministro da Defesa.
O caso evoca o episódio sofrido pelo afro-americano George Floyd. Ele foi morto em Minneapolis em maio passado, sufocado por um policial branco que o imobilizou com um joelho no pescoço.
Depois de sua morte, fortes protestos explodiram nos Estados Unidos e continuam ecoando no país.
Neste suposto homicídio, envolvendo militares colombianos, ainda há várias perguntas sem resposta.
Em uma primeira versão, a polícia afirmou que os agentes atenderam a uma denúncia sobre transtornos causados pelo consumo de álcool. Ordóñez supostamente agrediu os uniformizados, que responderam usando sua arma Taser.
"Expressamos a dor pela morte de Javier Ordóñez e nosso reiterado sentimento de solidariedade para com seus familiares. O governo nacional continuará prestando toda colaboração exigida pelas autoridades competentes para que os fatos sejam esclarecidos o mais rápido possível", afirmou o ministro da Defesa.
Em mensagem à imprensa, o ministro também anunciou que aumentará a presença das forças da ordem em Bogotá com 1.600 policiais e 300 militares.
A prefeita Claudia López pediu, por sua vez, uma "reestruturação profunda e séria na polícia".
Segundo ela, desde o início do ano foram apresentadas 137 denúncias por uso excessivo da força da polícia em Bogotá.
"Há um problema estrutural de casos de abuso policial e, além disso, impunidade", criticou a prefeita, em declarações à imprensa.
Em novembro de 2019, por exemplo, Dilan Cruz, um jovem de 18 anos que participava de um protesto contra o governo, foi baleado na cabeça por um membro do Batalhão de Choque e morreu. Em agosto de 2011, um artista urbano identificado como Diego Becerra faleceu após levar um tiro de um policial, quando pintava um grafite em Bogotá.
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