Bogotá, Colômbia - Pelo menos dez pessoas morreram, centenas foram feridas a tiros e vários postos de polícia ficaram destruídos em tumultos entre a noite de quarta-feira e a madrugada desta quinta-feira(10) em Bogotá, durante protestos contra a violência policial, segundo o balanço oficial.
As manifestações e os distúrbios eclodiram após a agressão a Javier Ordóñez, um homem de 46 anos que morreu após repetidos choques disparados por dois policiais com uma arma elétrica, em circunstâncias que investigada por autoridades.
O ataque foi filmado por um de seus amigos. Nesta quinta-feira, a prefeita de Bogotá, Claudia López Hernández, oponente ao governo, declarou que os policiais denunciados usaram força e armas de fogo indiscriminadamente.
“Há evidências sólidas do uso indiscriminado de armas de fogo por membros da polícia (...) Que tipo de treinamento eles recebem para ter aquela resposta absolutamente desproporcional a um protesto?, disse López.
Na capital, foram desencadeados fortes confrontos registrados em celulares, além de uma sequência de ataques a postos de comando conhecidos como Centros de Atenção Imediata (CAI). Um dos feridos é Frankpierre Charry, 23 anos, que segundo sua família foi agredido no sul de Bogotá, e está à beira da morte em um hospital.
"A polícia começou a atirar loucamente, ele fugiu, desceu um quarteirão, encontrou dois policiais que estavam escondidos e atiraram nele", disse sua mãe, Blanca Clavijo, à AFP. "Os médicos dizem que atiraram nas costas dele, de muito perto, e atingiram seu estômago, seus intestinos, seu cólon", acrescentou a mulher desolada.
Filmagens compartilhadas por testemunhas nas redes sociais mostram pessoas aterrorizadas fugindo em meio a tiros e disparos. "Eles o acertaram! Eles o acertaram!", um homem diz enquanto outro, ensanguentado, caído no chão, é arrastado pelos manifestantes.
O governo nacional relatou sete mortos, 56 quartéis-generais da polícia "vandalizados" e 70 detidos. López falou em 362 feridos: 248 civis e 114 fardados. E garantiu que seis dos mortos sofreram ferimentos a bala e tinham entre 17 e 27 anos.
"Chega, por favor"
A agressão que gerou os violentos protestos ocorreu na madrugada de quarta-feira no noroeste de Bogotá. A sequência de cerca de dois minutos mostra o momento em que os militares dominam Ordóñez. No chão, os agentes aplicam-lhe pelo menos cinco choques de vários segundos com uma arma elétrica.
"Chega, por favor", ouve-se Ordóñez suplicando, repetidas vezes. As investigações e autópsia devem determinar se Ordóñez recebeu mais punições no CAI para onde foi levado, como sugere sua família. Os policiais que prenderam Ordóñez já foram suspensos, disse o ministro da Defesa.
O caso evoca o episódio sofrido pelo afro-americano George Floyd. Ele foi morto em Minneapolis em maio, sufocado por um policial branco que o imobilizou com um joelho no pescoço. Depois de sua morte, fortes protestos explodiram nos Estados Unidos e continuam ecoando no país.
Sobre o suposto homicídio envolvendo soldados colombianos, ainda há várias perguntas a serem respondidas. Em uma primeira versão, a polícia disse que os oficiais atenderam a um chamado para tumultos causados pelo consumo de álcool. Ordóñez teria atacado os policiais que responderam com sua arma Taser.
Nesta quinta-feira, o presidente Iván Duque voltou a prometer uma investigação "com total rigor para ter certeza absoluta dos fatos". No entanto, rejeitou que os oficiais sejam "estigmatizados e chamados de assassinos" devido às "responsabilidades" específicas de alguns deles.
A prefeita de Bogotá insistiu em uma "reestruturação profunda" da polícia. De acordo com López, até o momento neste ano houve 137 denúncias de uso excessivo da força policial em Bogotá. “Há um problema estrutural de casos de abuso policial e, além disso, impunidade”, reclamou a prefeita.
Em meio a novas convocações para manifestações, o governo também anunciou que vai reforçar a segurança em Bogotá com 1.600 policiais e 300 soldados. Dois dos escândalos de abuso policial ocorreram anteriormente em Bogotá.
Em novembro de 2019, Dilan Cruz, um jovem de 18 anos que participava de um protesto contra o governo, foi baleado na cabeça por um membro do Batalhão de Choque e morreu. Em agosto de 2011, um artista urbano identificado como Diego Becerra perdeu a vida após levar um tiro de um policial, quando pintava um grafite.
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