Questionado nas ruas há mais de um mês, o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko se reúne na Rússia, nesta segunda-feira (14/9), com Vladimir Putin, seu principal apoio, para discutir sobre a "integração" dos dois países desejada pelo Kremlin e à qual Belarus resiste.
Esta visita ocorre depois que milhares de manifestantes protestaram mais uma vez em Minsk pelo quinto domingo consecutivo, exigindo a saída do chefe de Estado, no poder desde 1994. Essa mobilização tem sido cada vez mais forte, apesar da prisão, ou do exílio dos principais opositores.
Lukashenko, cuja reeleição controversa em 9 de agosto provocou esta onda de protestos sem precedentes, chegou por volta de meio-dia a Sochi, cidade turística do sul da Rússia sobre o mar Negro, para se reunir com seu homólogo, de acordo com imagens dos meios oficiais de seu país.
Não há previsão de encontro com a imprensa, nem de divulgação de um comunicado. Na sexta-feira, o Kremlin antecipou que o objetivo desta reunião é discutir "as perspectivas do processo de integração" entre os dois países ex-soviéticos, um desejo antigo de Moscou.
Após acusar a Rússia, antes da eleição, de querer "desestabilizar" seu país, Alexander Lukashenko deu um giro de 180 graus para obter seu apoio diante das enormes manifestações que, em sua opinião, são organizadas pelo Ocidente.
A líder da oposição, Svetlana Tikhanóvskaya, obrigada a se exilar na Lituânia, repreendeu Putin.
"Lamento que tenha decidido manter diálogo com o usurpador, e não com o povo bielorrusso", disse ela em uma mensagem divulgada por seu serviço de imprensa.
Tikhanóvskaya reivindica a vitória na eleição presidencial de 9 de agosto. Ela entrou na política após a prisão de seu marido, a quem substituiu. Para ela, qualquer acordo russo-bielorrusso assinado por Lukashenko seria "legalmente inválido", já que sua reeleição foi "ilegítima".
Mais de 700 prisões
Em Belarus, a mobilização contra esta reeleição considerada fraudulenta continua, com outra grande manifestação no domingo pelas ruas da capital e em outras cidades do país.
A polícia anunciou, nesta segunda-feira, que prendeu um total de 774 pessoas, mais de 500 somente em Minsk, à margem deste movimento denominado "Marcha dos Heróis", referindo-se às vítimas da repressão que deixou ao menos três mortes, dezenas de feridos e milhares de prisões.
O Kremlin afirmou que nenhum documento será assinado na reunião de hoje. Para os especialistas, a Rússia quer há muito tempo que Belarus renuncie a sua soberania, de modo a ancorar o país em sua região de influência em meio ao seu conflito com o Ocidente.
Há 15 anos, o país russo fala, principalmente, sobre compartilhar uma moeda única e implantar bases militares. Até agora, porém, Lukashenko resistiu às ambições do Kremlin e oscila entre o Oriente e o Ocidente.
Além do apoio político de Putin, Lukashenko também precisa de ajuda econômica. Essa assistência permitiria ao Kremlin invocar a enorme dependência financeira de Minsk de seu irmão mais velho, em parte porque as sanções ocidentais começam a surgir devido à repressão.
As relações russo-bielorrussas ficaram consideravelmente mais tensas durante a primavera e o início do verão (boreais). Lukashenko acusou Moscou repetidamente de tentar derrubá-lo com o objetivo de transformar seu país em um vassalo.
Desde o início dos protestos, no entanto, o presidente bielorrusso se apresenta como a última fortaleza da Rússia contra as ambições ocidentais.
Essa aproximação entre Moscou e Minsk foi fortemente julgada pelos Estados Unidos.
"Se o Kremlin continuar neste caminho, corre o risco de que o povo bielorrusso, que não tem nenhuma hostilidade com a Rússia, se levante contra Moscou", disse na sexta-feira o número dois do Departamento de Estado dos EUA, Stephen Biegun.
As figuras da oposição bielorrussa - a maioria detida, ou exilada - insistem desde o início em que seu movimento é apenas contra Lukashenko, e não contra Moscou, ou pró-Ocidente.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU propõe a realização de uma reunião de emergência, na sexta-feira, para discutir a situação em Belarus por causa da repressão e das denúncias de torturas dos detidos.
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