Mobilização internacional

Pena de morte gera indignação no Irã após execução de jovem atleta

O apoio ao atleta Navid Afkari surgiu rapidamente tanto no Irã quanto no exterior, especialmente depois que informantes afirmaram que ele foi condenado após uma confissão obtida sob tortura

Agência France-Presse
postado em 17/09/2020 12:54
 (crédito: Evert Elzinga / ANP / AFP)
(crédito: Evert Elzinga / ANP / AFP)

A decisão do Irã de executar um lutador, cujo caso gerou uma mobilização internacional, demonstra sua determinação em omitir a indignação gerada pela pena de morte contra os presos em protestos, alertam ativistas dos direitos humanos.

Navid Afkari, um lutador iraniano de 27 anos que ganhou várias competições nacionais, foi executado no sábado após ser condenado à morte conforme o "qesas", ou "lei do talião", pela morte de um funcionário, apunhalado em 2 de agosto de 2018, durante as manifestações contra o governo em Shiraz (sul).

O veredicto contra o lutador gerou indignação. O apoio ao atleta surgiu rapidamente tanto no Irã quanto no exterior, especialmente depois que informantes afirmaram que Afkari foi condenado por uma confissão obtida sob tortura. Teerã nega essas acusações.

"Comoção"

A execução do atleta foi denunciada nas redes sociais e no exterior. O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirmou ter ficado "chocado" com a morte e considerou "profundamente lamentável" que todos os apelos de atletas e organizações do mundo não foram ouvidos.

Os defensores dos direitos humanos criticam que o sistema judicial não considerou as declarações de Afkari, nas quais afirmava que sua confissão foi resultado de torturas, entre elas espancamentos, asfixia com saco plástico ou a introdução de álcool pelo nariz.

Esta execução ocorreu em um contexto no qual a República Islâmica recorre cada vez mais à pena de morte, principalmente depois dos protestos anti-governo.

O Irã é, depois da China, o país que mais aplica a pena de morte no mundo.

Tara Sepehri Far, pesquisadora sobre o Irã na Human Rights Watch, considera "incomum" a rapidez com a qual o veredicto foi executado. Afkari foi condenado em outubro de 2019 e a decisão foi confirmada em apelação em abril.

"Uma parte do governo (iraniano) (...) pensa que considerar a indignação internacional seria retroceder e poderia torná-lo mais vulnerável", explica esta especialista à AFP.

"Preço político"

"Também existe um movimento contrário à pena de morte crescente no interior do Irã, contra esses veredictos pronunciados nos casos relacionados às manifestações", prossegue.

Em julho, a Justiça iraniana anunciou que suspendia a pena capital de três jovens acusados de vandalismo e piromania nos protestos de 2019, após uma campanha de alcance inédito para exigir a eliminação de sua execução.

Segundo o advogado de Afkari, havia uma reunião com a família da vítima prevista para o domingo, para "pedir perdão" e evitar a aplicação da pena capital, que ocorreu no sábado.

"As autoridades temiam que o preço político de esperar mais uma semana poderia ser muito prejudicial", comenta Mahmood Amiry-Moghaddam, fundador da ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo.

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