Duas missionárias brasileiras da Igreja Católica se viram envolvidas em uma complexa situação de confronto em Moçambique, nação de língua portuguesa no litoral sul do continente Africano. É que as freiras Inês e Eliane foram feitas reféns por um grupo que se autodenomina parte do Estado Islâmico na região de Cabo Delgado, no norte do país.
Segundo relatos do também brasileiro, bispo Dom Luiz Fernando Lisboa, ao programa dominical Fantástico, ambas foram capturadas em 11 de agosto e só foram liberadas no início de setembro — depois de 24 dias em cativeiro. “As duas chegaram bastante debilitadas. Uma delas com malária, com febre alta. Agora vão precisar de repouso, cuidados médicos e psicológicos”, contou.
Cerca de cem missionários católicos são coordenados pelo bispo, dentre eles, a irmã Inês é uma das mais antigas, atua em Moçambique há 17 anos. Já a irmã Elaine está há três anos no local. “Elas vão precisar de alguns dias de bastante repouso e de cuidados médicos, e também psicológico”, ressaltou o bispo.
Lisboa foi nomeado bispo de Pemba pelo Papa Francisco em 2013, depois que o posto ficou vago por quase um ano. Desde então, ele é uma das principais vozes na denúncia dos ataques armados que ocorrem na região. “Um dos motivos (da crescente onda de confrontos) é por causa da pobreza na nossa região. Houve um esquecimento por parte dos governos passados e atual”, explica.
Terrorismos em Moçambique
Há notícias de conflitos com jihadistas em cidades e vilas nos arredores de Cabo Delgado pelo menos desde 2017. Segundo a imprensa local, eles promovem assassinatos, queimam casas e comércios por onde passam. No último 10 de setembro, o jornal Carta de Moçambique noticiou um ataque que deixou um morto e destruiu propriedades particulares na ilha de Vamisse.
A situação se agrava porque a região é alvo de interesses econômicos internacionais para exploração de gás natural e outros recursos, explica o portal. Para evitar que o capital estrangeiro se afaste, o governo do país tem usado o exército contra as guerrilhas compostas por diversos grupos autodenominados extremistas islâmicos, como o Al Shabab.
Acontece que essa situação também gera distorções, como denunciou a organização não governamental, Anistia Internacional (AI), também no início deste mês. A AI divulgou um comunicado que relata “tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos de detidos, o desmembramento de alegados combatentes da oposição, possíveis execuções extrajudiciais e o transporte de um grande número de cadáveres até valas comuns” por parte das forças de segurança locais.
Enquanto os conflitos locais se intensificam, a população de Moçambique segue à mercê das diversas violências. Apesar disso, o bispo de Pemba acredita que seguir trabalhando na região é a escolha certa. “Quando o povo mais precisa é que o missionário precisa estar presente. Eu tenho fé de que o meu trabalho, o trabalho nosso, que todos estão procurando fazer, é importante e vai ajudar a aliviar o sofrimento de muita gente”, encerrou.
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