Estados Unidos superaram na terça-feira a marca de 200 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus, no momento em que a Europa enfrenta novos focos preocupantes que obrigaram as autoridades a restabelecer medidas de confinamento.
O país mais afetado pela pandemia superou a barreira fatídica seis semanas antes das eleições presidenciais. Donald Trump, atrás do rival democrata Joe Biden nas pesquisas, afirmou que o número de mortes é uma "vergonha" e culpou a China.
O presidente, que durante muito tempo minimizou a gravidade da pandemia, utilizou o discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em um vídeo pré-gravado, para atacar Pequim por não ter detido a propagação do que chamou de "vírus da China".
"Devemos responsabilizar a nação que desencadeou esta praga no mundo, a China", disse Trump durante a reunião anual dos governantes mundiais, que devido à pandemia acontece quase inteiramente de modo virtual.
"Quando a comunidade internacional está lutando realmente duro contra a covid-19, os Estados Unidos estão disseminando um vírus político na Assembleia Geral", respondeu o embaixador da China na ONU, Zhang Jun.
A covid-19 matou quase 962 mil pessoas em todo o planeta e os contágios superam 31 milhões desde que o vírus foi detectado na China no fim do ano passado, de acordo com um balanço da AFP baseado nos dados oficiais dos países.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre a aceleração dos contágios, que se aproximaram de dois milhões entre 14 e 20 de setembro em todo o mundo, um recorde para o período de uma semana.
Responsabilidade individual
Na Europa, de acordo com os dados da OMS, o número de mortes aumentou 27% de 14 a 20 de setembro na comparação com a semana anterior. O Reino Unido, país mais afetado do continente com quase 42 mil óbitos confirmados por covid-19, observa o número de infecções dobrar a cada sete dias, o que obrigou o primeiro-ministro Boris Johnson a tomar novas medidas na Inglaterra para impedir a segunda onda.
A partir de quinta-feira, os pubs, bares e restaurantes deverão fechar as portas às 22h00 na Inglaterra.
Em um país onde o uso de máscara não está muito propagado, a obrigação incluirá, a partir de agora, funcionários dos estabelecimentos comerciais, usuários de táxis e funcionários e clientes de restaurantes, exceto para comer e beber.
O governo cancelou o retorno do público aos eventos esportivos, previsto para 1 de outubro. Além disso, a infração às regras será punida com "penas mais severas", advertiu o primeiro-ministro, que prometeu uma "presença policial maior nas ruas".
"Nunca em nossa história, nosso destino coletivo e nossa saúde coletiva dependeram tão completamente de nosso comportamento individual", afirmou Johnson em uma mensagem à nação exibida na terça-feira no horário nobre da televisão.
Os cientistas que assessoram o governo afirmaram que o Reino Unido poderia alcançar o nível de 50 mil novos casos de coronavírus por dia em meados de outubro caso as novas medidas não fossem adotadas.
Na Espanha, outro país europeu muito afetado pela covid-19, o governo informou 241 mortes nas últimas 24 horas, um recorde desde o início da segunda onda, assim como 10.799 contágios.
No momento, 850 mil moradores de vários bairros e localidades de Madri que registram uma aceleração de casos só podem sair de suas áreas de moradia por razões de primeira necessidade, como seguir para o trabalho, procurar um médico ou levar as crianças ao colégio.
O ministro da Saúde, Salvador Illa, recomendou que todos os moradores de Madri limitem os deslocamentos ao "essencial".
Por toda a Europa grandes eventos são reduzidos ou cancelados. Pela primeira vez desde 1944 a cerimônia de entrega dos prêmios Nobel não acontecerá de maneira presencial e será exibida na TV.
Pandemia e desigualdades
Em um sinal de esperança, a Arábia Saudita anunciou que a pequena peregrinação muçulmana (a Umrah), suspensa desde março devido ao novo coronavírus, será retomada gradualmente a partir de 4 de outubro.
Na Austrália, as autoridades também flexibilizaram algumas restrições, como as viagens entre os estados.
A pandemia tornou flagrantes desigualdades já existentes. Nos Estados Unidos, os latinos, a primeira minoria étnica no país, que representam quase 11% da população, são um dos grupos mais afetados pelo novo coronavírus.
Das 200 mil vítimas fatais de covid-19 no país, quase 20% são latinas. Também representam 45% dos mortos com menos de 21 anos e 20,5% dos falecidos com idade acima de 65 anos, de acordo com dados divulgados pelo Partido Democrata.
Além disso, os latinos também foram muito afetados na área econômica: a taxa de desemprego do grupo nos Estados Unidos alcança 10,5%, depois de registrar o recorde de 18,9% em maio.
"Quatro de cada 10 famílias latinas com crianças passam fome neste momento, e uma em cada três pequenas empresas latinas sofreram um golpe econômico devido à covid-19", declarou Julie Chávez Rodríguez, neta do histórico ativista dos direitos trabalhistas César Chávez e atualmente a latina de maior cargo na campanha de Joe Biden.
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