Espaço

Após descoberta de fosfina próxima missão a Vênus pode ser privada

O planeta Vênus, quente e tóxico, foi abandonado na década de 1980 pelas agências espaciais, e voltou aos holofotes após a descoberta da substância fosfina em sua atmosfera

Agência France-Presse
postado em 25/09/2020 13:15 / atualizado em 25/09/2020 13:18
Renderização de um artista para a variante interplanetária da nave espacial Photon, desenvolvida pelo Rocket Lab. -  (crédito: Handout / ROCKET LAB / AFP)
Renderização de um artista para a variante interplanetária da nave espacial Photon, desenvolvida pelo Rocket Lab. - (crédito: Handout / ROCKET LAB / AFP)

Será que uma pequena empresa de foguetes ultrapassará a NASA e a Europa para explorar Vênus? Peter Beck, diretor da Rocket Lab, planeja lançar sua própria sonda de baixo custo em 2023.

"Uma missão para Vênus deve custar cerca de 30 milhões de dólares", disse Beck à AFP de Auckland, Nova Zelândia, onde a a Rocket Lab instalou sua plataforma de lançamento, longe de tudo e com acesso a um céu livre de tráfego aéreo.

O planeta Vênus, quente e tóxico, foi abandonado na década de 1980 pelas agências espaciais, que se voltaram para planetas mais distantes do sistema solar, incluindo Marte, para onde dezenas de sondas e robôs foram enviados na esperança de descobrir os primeiros vestígios de vida passada.

"Em Vênus, procuramos traços de vida atual", corrige Peter Beck, sublinhando a palavra "atual".

A surpreendente descoberta de uma molécula chamada fosfina nas nuvens de Vênus, graças aos radiotelescópios, despertou uma onda de entusiasmo em 14 de setembro entre astrônomos e astrobiólogos que há anos defendem a hipótese de que micróbios vivem nas nuvens do planeta.

A fosfina, no entanto, não é uma prova definitiva.

O anúncio fez até o diretor da NASA dizer que Vênus deveria ter prioridade novamente.

Beck passou dois anos pensando na viabilidade de enviar uma sonda, desenvolvida inteiramente de forma privada.

Ele calculou, com a ajuda de um aluno de doutorado, que o pequeno foguete desenvolvido pela Rocket Lab - Photon - poderia ser adaptado para viagens interplanetárias, até então reservadas a agências espaciais.

"Quando falamos sobre missões interplanetárias em dezenas de milhões de dólares ao invés de bilhões, em meses ao invés de décadas, são criadas oportunidades para descobertas incríveis", exclama Beck.

5 minutos e se desintegrará

O nicho de negócios da Rocket Lab é colocar pequenos satélites em órbita com seu foguete de 18 metros de altura, uma aposta lucrativa que está crescendo com a multiplicação de microssatélites.

A sonda para Vênus será pequena: da ordem de 37 quilos e 30 centímetros de diâmetro.

A viagem a partir da Terra dura 160 dias e Photon vai liberar a sonda nas nuvens do planeta para analisá-las, sem paraquedas, a 11 quilômetros por segundo.

A sonda terá apenas entre 270 e 300 segundos para fazer suas medições em partes interessantes da atmosfera, segundo Beck. Ela então se desintegrará ou se espatifará na fornalha venusiana (465 °C no solo).

O mais difícil será escolher o instrumento científico: qual molécula procurar? Acima de tudo, terá que pesar apenas cerca de 3 kg, uma miniaturização que alguns especialistas duvidam, mas que para Beck é muito possível.

Rocket Lab precisará da ajuda de cientistas (a astrônoma do MIT Sara Seager já está trabalhando nisso).

Esta aventura muito pessoal faz parte da nova era espacial, cujo melhor representante é Elon Musk, o fundador da SpaceX, que revolucionou o setor de lançamento com seus foguetes reutilizáveis, transporta astronautas da NASA para a Estação Espacial Internacional e sonha com a colonização de Marte.

A NASA não tem mais medo de contratar missões privadas. Rocket Lab receberá US$ 10 milhões para enviar um microssatélite à órbita lunar em 2021.

Quanto a Vênus, Beck gostaria, após sua primeira missão privada, de oferecer seus serviços à NASA.

A agência espacial está considerando retornar a Vênus, mas não antes de 2026, no mínimo.

"Queremos muitas, muitas missões a cada ano", disse o jovem chefe da Rocket Lab.

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