No primeiro fim de semana após a posse surpresa do Alexander Lukashenko para seu sexto mandato como presidente da Bielorrússia, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Minsk, enfrentando a vigorosa repressão das forças de segurança. A polícia bielorrussa deteve cerca de 200 pessoas durante os protestos, que chegaram, ontem, ao 50º dia. Desde as eleições de 9 de agosto, manifestantes contestam os resultados que deram vitória a Lukashenko, cujo novo governo não é reconhecido pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Os adversários políticos do presidente denunciam fraude na votação. E a mobilização não para, mesmo com a forte repressão. Ontem, segundo observaram repórteres da agência de notícias France-Presse, as marchas contra Lukashenko em todo o país reuniram cerca de 100 mil participantes.
De acordo com a oposição, a polícia utilizou gás lacrimogêneo contra os manifestantes em Gomel, a segunda cidade do país, e bombas de efeito moral em Moguilev (leste). A porta-voz do Ministério do Interior, Olga Chemodanova, negou o uso desses recursos, mas confirmou que os agentes usaram um equipamento de “controle de distúrbios”.
No centro de Minsk, várias estações de metrô foram fechadas ao público antes do início do protesto, constataram os meios de comunicação. O Palácio da Independência, sede do governo de Lukashenko e ponto de várias manifestações maciças recentemente, estava cercado de barreiras e com uma forte custódia da polícia antidistúrbios. Várias praças também foram fechadas no coração da cidade, além de centros comerciais onde manifestantes se refugiaram em outras ocasiões.
“Somos milhões!”, afirmou a principal líder da oposição, Svetlana Tikhanóvskaya, em uma mensagem divulgada nas redes sociais. “Venceremos!”, acrescentou a rival de Lukashenko nas urnas. Tikhanóvskaya, 38 anos, atualmente refugiada na Lituânia, reivindica a vitória na eleição de 9 de agosto, após uma campanha eleitoral em que conseguiu mobilizar multidões.
Sigilo
Ignorando as manifestações em massa, Alexander Lukashenko prestou juramento na quarta-feira para o novo mandato, numa solenidade sigilosa. As críticas da comunidade internacional não tardaram em chegar. O governo alemão não reconheceu Lukashenko e considerou que o segredo que rodeava a cerimônia de posse foi um “símbolo revelador” da fraqueza do governo e de sua “falta de legitimidade”.
O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou, por sua vez, que o que está acontecendo em Belarus é “uma crise de poder, um poder autoritário que não consegue aceitar a lógica da democracia e que se sustenta pela força”.
“Está claro que Lukashenko tem que ir”, enfatizou Macron, em entrevista publicada na edição de ontem do Journal du dimanche. Washington também não o considera “como o presidente legítimo” da Bielorrússia, segundo afirmou o Departamento de Estado.
Lukashenko acusa os países ocidentais de impulsionar os protestos. No poder desde 1994, ele prometeu uma reforma constitucional para enfrentar a crise política, mas rejeita qualquer diálogo com os opositores do governo. Para isso, conta com a ajuda de Moscou. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu apoio em nível de segurança, se necessário, e um empréstimo de US$ 1,5 bilhão.
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