Azerbaijão

Turquia alerta Armênia sobre dezenas de mortos em combates em Nagorno Karabakh

Ao menos 69 pessoas morreram, de acordo com balanços incompletos

Agência France-Presse
postado em 28/09/2020 16:07
 (crédito: HANDOUT / ARMENIAN FOREIGN MINISTRY / AFP)
(crédito: HANDOUT / ARMENIAN FOREIGN MINISTRY / AFP)

Os combates se tornaram mais intensos nesta segunda-feira (28) entre Azerbaijão e os separatistas de Nagorno Karabakh, enquanto o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, principal aliado de Baku, alimentou os temores de uma escalada ao pedir a retirada da Armênia.

Desde domingo, separatistas de Nagorno Karabakh, apoiados pela Armênia, e as tropas do Azerbaijão se enfrentam nos combates mais violentos na região desde 2016. Ao menos 69 pessoas morreram, de acordo com balanços incompletos. Isto provoca o aumento do temor de uma guerra aberta entre Baku e Yerevan.

O Conselho de Segurança da ONU convocou para terça-feira uma reunião a portas fechadas sobre Nagorno Karabakh, a pedido de países europeus, informaram fontes diplomáticas nesta segunda-feira.

Alemanha e França impulsionaram essa reunião, mas outros países europeus - Estônia, Bélgica e Reino Unido - a apoiam, segundo as mesmas fontes. A Turquia anunciou apoio total ao Azerbaijão, o que levou a Armênia a acusar o país de interferência política e militar no conflito.

"É hora desta crise, que começou com a ocupação de Nagorno Karabakh, chegar ao fim. Quando a Armênia abandonar o território que ocupa, a região reencontrará paz e harmonia", declarou o presidente turco. "Qualquer outra demanda ou proposta não apenas seria injusta e ilegal, como também significaria seguir consentindo com a Armênia", completou Erdogan.

O Azerbaijão perdeu o controle de Nagorno Karabakh após o colapso da União Soviética e depois de uma guerra que deixou 30.000 mortos, concluída com um cessar-fogo assinado em 1994. A Armênia apresentou um pedido à Corte Europeia dos Direitos Humanos (CEDH), braço jurídico do Conselho Europeu.

"A corte recebeu uma solicitação de medidas provisórias por parte da Armênia, e está sendo examinada", declarou uma porta-voz da CEDH. Segundo o artigo 39 da corte com sede em Estrasburgo (França), o tribunal pode adotar medidas de emergência diante de riscos de danos irreparáveis.

"O governo armênio demanda a CEDH que indique ao governo azeri que cesse os ataques militares contra populações civis", afirma um trecho da solicitação armênia. A comunidade internacional pede um cessar-fogo imediato. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, estimou que a prioridade era "acabar com as hostilidades, não determinar quem tem razão e quem não tem".

"Interferência" turca 

Armênia e Nagorno Karabakh denunciam, por sua vez, a "interferência" turca e acusam Ancara de fornecer armas, "especialistas militares", pilotos de drones e aviões para Baku. Yeveran também afirmou que Ancara implementou milhares de "mercenários", transferidos da Síria.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão negou essas acusações e destacou que "mercenários etnicamente armênios" do Oriente Médio combatiam junto aos separatistas.

O embaixador armênio na Rússia, Vardan Toganyan, disse à agência russa Ria Novosti que seu país não hesitaria em usar mísseis balísticos Iskander, fornecidos por Moscou, se Ancara recorresse aos F-16 turcos.

O balanço pode ser mais grave, já que os dois lados afirmam ter infligido centenas de baixas ao adversário, divulgando em particular imagens de blindados destruídos.

Baku afirma ter matado 550 soldados inimigos e Yerevan alega ter eliminado mais de 200. O ministério da Defesa de Nagorno Karabakh anunciou que reconquistou posições perdidas no domingo. Ao mesmo tempo, o Azerbaijão afirmou que conquistou mais territórios.

As Forças Armadas "atacam as posições inimigas com foguetes, artilharia e aviação. Tomaram várias posições estratégicas nos arredores da localidade de Talych. O inimigo recua", afirmou o ministério da Defesa do Azerbaijão.

Nos últimos anos, o governo de Baku destinou parte importante da receita obtida com petróleo à compra de armamento.

Após várias semanas de retórica bélica, o Azerbaijão anunciou uma "contraofensiva" em resposta ao que chamou de "agressão" da Armênia. O país utiliza artilharia, blindados e aviões contra a província controlada pelos separatistas armênios.

Lei marcial 

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o inimigo histórico de seu país de ter declarado "guerra ao povo armênio", enquanto o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu "vitória".

O presidente da autoproclamada república de Nagorno Karabakh, Arayik Harutyunyan, afirmou que a "Turquia, não o Azerbaijão" combate contra o território separatista. "Há helicópteros, F-16, tropas e mercenários de diferentes países", disse.

Moscou, que mantém relações cordiais com os dois beligerantes e é considerado um árbitro regional, tem mais proximidade com a Armênia, que integra a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar dominada pela Rússia.

Todos os esforços de mediação para solucionar o conflito fracassaram e os dois países travaram um combate na fronteira norte em julho, os atos mais violentos desde 2016 e que provocaram o temor de desestabilização na região.

Os dois Estados decretaram lei marcial e a Armênia uma mobilização geral. O Azerbaijão impôs um toque de recolher em parte do país, incluindo a capital Baku.

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