Os humanos modernos chegaram à parte mais ocidental da Europa entre 41 a 38 mil anos atrás, cerca de 5 mil anos antes do imaginado, mostra um estudo internacional. Os pesquisadores chegaram à conclusão após a descoberta, em uma caverna em Portugal, de ferramentas de pedra usadas pelo grupo. Análises da origem das ferramentas indicam a presença de humanos modernos no extremo oeste do continente europeu em uma época em que especialistas pensavam que apenas os neandertais habitavam a região. Publicada na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), a descoberta reforça a teoria de que pode ter havido interação entre os dois grupos humanos.
As ferramentas foram encontradas na caverna Lapa do Picareiro, localizada perto da costa atlântica do centro de Portugal. O local, escavado há 25 anos, é fonte de uma série de registros de ocupação humana nos últimos 50 mil anos. “Uma dúvida antiga que temos é saber se os últimos neandertais sobreviventes da Europa foram substituídos ou assimilados por humanos modernos que chegaram à região. Esse é um problema antigo e ainda não resolvido na paleoantropologia”, afirma, em comunicado, Lukas Friedl, antropólogo da Universidade de West Bohemia, na República Tcheca, e um dos autores do trabalho.
Nas escavações, os pesquisadores descobriram ricos depósitos arqueológicos, repletos de ferramentas de pedra e de milhares de ossos de animais provenientes de atividades de caça e “cozinha” do homem moderno. Por meio de análises minuciosas, que ajudaram a indicar a data dos objetos, os pesquisadores observaram que as peças usadas pelos homens modernos estavam presentes em um período diferente do que o imaginado. “Nossos dados reforçam teorias anteriores, que não apresentaram provas suficientes para se sustentar, de que os humanos modernos estiveram nessa área mais cedo do que pensávamos, cerca de 5 mil anos antes”, enfatiza o autor do estudo.
Trocas de experiência
Os pesquisadores acreditam que os dois grupos podem ter se sobreposto por vários milhares de anos na área, o que fez com que trocassem experiências. “Se os dois grupos se sobrepuseram por algum tempo nas terras altas do Portugal Atlântico, eles podem ter mantido contatos entre si e trocado não só tecnologias e ferramentas, mas também parceiros. Isso poderia explicar por que muitos europeus têm genes de neandertal”, detalha Lukas Friedl. Pessoas de ascendência europeia têm cerca de 2% de seu DNA de origem neandertal.
A equipe adianta que continuará realizando mais pesquisas na região, em busca de novos dados relacionados à história evolutiva humana, já que, segundo cientistas, a caverna ainda tem uma enorme quantidade de sedimentos a serem analisados.
“Venho escavando em Picareiro há 25 anos e, quando você começa a pensar que já não existem mais segredos para serem revelados, uma nova surpresa é descoberta. Com o passar de tantos anos, é notável que continuamos cavando com esperança, de encontrar dados novos”, frisa Jonathan Haws, professor e presidente do Departamento de Antropologia da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos.
Para John Yellen, diretor do Programa de Arqueologia e Arqueometria da National Science Foundation, que apoiou o trabalho, os resultados do trabalho de agora e das futuras análises poderão contribuir significativamente para o estudo sobre a evolução humana. “A disseminação de humanos anatomicamente modernos por toda a Europa há muitos milhares de anos é fundamental para nossa compreensão de onde viemos como uma espécie agora global”, justifica.
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