Migração

Migrantes hondurenhos desafiam coronavírus e iniciam travessia rumo aos EUA

Conforme relatos de alguns membros do grupo, o objetivo é escapar da pobreza e da violência que assolam o país

Agência France-Presse
postado em 01/10/2020 19:23 / atualizado em 01/10/2020 20:52
 (crédito: JOHAN ORDONEZ / AFP)
(crédito: JOHAN ORDONEZ / AFP)

Milhares de migrantes hondurenhos ingressaram nesta quinta-feira (1º) em caravana na Guatemala, desafiando a pandemia em uma travessia perigosa, com o objetivo de chegar aos Estados Unidos e escapar da pobreza e violência em seu país.

Cerca de 3 mil pessoas, segundo autoridades migratórias da Guatemala, entraram no país após ultrapassarem um primeiro cerco militar na fronteira. Os migrantes avançaram aos gritos de "Fora, JOH!", referindo-se ao presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, em meio a um grande tumulto.

Um dos migrantes morreu ao cair de um caminhão em movimento, informou uma fonte oficial.

O diretor do Instituto Guatemalteco de Migração, Guillermo Díaz, disse a jornalistas que o hondurenho morreu atropelado quando escorregou ao tentar subir na plataforma de um caminhão em movimento, ficando embaixo da mesma.

O funcionário não deu maiores detalhes sobre a vítima porque estava sem documentos. Os promotores já isolaram a área para a realização de perícia.

O migrante morreu a poucos quilômetros da fronteira terrestre por onde milhares de hondurenhos entraram em massa, após romper um cerco militar. Os migrantes entraram sem que equipes de saúde pudessem submetê-los ao teste de covid-19. Eles deram início a seu êxodo em massa na madrugada desta quinta-feira, conforme relato de membros do grupo.

A caravana partiu uma semana após a Guatemala reabrir suas fronteiras, fechadas por seis meses devido à pandemia. Carregando seus poucos pertences em mochilas ou sacolas de plástico, boa parte dos migrantes não usava máscara de proteção.

Pandemia e pobreza 

Mónica Toruño, 36, uniu-se à marcha com o filho de 6 anos, que sofre de paralisia infantil, e uma sobrinha de 19 anos. Ela disse estar deixando Honduras devido à violência e ao desemprego, agravado pela pandemia. "Nunca pensei em submeter meu filho a isto, mas fiquei sem trabalho devido ao coronavírus", contou a mulher, que sobrevivia lavando e passando roupa de clientes.

"Com o coronavírus, a economia vai piorar. Todo o dinheiro da pandemia foi roubado por Juan Orlando", afirmou o migrante Carlos Salgado, 21. "Não temos trabalho, não temos nada a fazer", criticou Ángel Eusebia na caravana.

Muitos migrantes citaram o desemprego, os serviços de saúde, a educação, a violência nas ruas e dentro de casa e o narcotráfico como motivos para deixarem o país. "As pessoas estão morrendo de fome, há muita violência e não há emprego, por isso arrisquei tudo para seguir em frente com meus dois filhos que estão vivos. O primeiro foi morto com 37 tiros em 2017", contou Willy Martínez, 37.

Risco em meio a pandemia 

A secretária de Comunicação Social da presidência da Guatemala, Francis Masek, reconheceu que a situação econômica dos países do Triângulo Norte, formado por Guatemala, El Salvador e Honduras, tornou-se "mais crítica com os efeitos da pandemia", o que explica o novo fluxo migratório.

O Instituto de Migração da Guatemala estima que cerca de 3 mil pessoas tenham cruzado a fronteira sem fazer o teste de Covid-19, obrigatório para estrangeiros. O chefe de Migração, Guillermo Díaz, declarou que a incursão dos migrantes "é algo terrível, que complica a vida" do país, devido ao risco em meio à pandemia.

Díaz alertou que uma segunda coluna, formada por outros 3 mil hondurenhos, poderá chegar em breve ao país pela mesma fronteira. Autoridades estimam que os hondurenhos tentarão entrar no México pelo departamento de Petén, norte da Guatemala.

Em 2018 e 2019, as caravanas em massa de migrantes incomodaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pressionou os países da América Central a assinarem acordos que permitissem conter a migração irregular.

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