O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, condicionou neste domingo (4/10) o cessar-fogo na disputada região de Nagorno Karabakh a uma retirada das forças armênias no oitavo dia de combates, particularmente em Stepanakert, a capital separatista, e em Ganja, a segunda maior cidade azerbaijana.
Em discurso à nação, Aliyev disse ter uma "única condição para o cessar-fogo": "As forças armadas (armênias) devem abandonar nossos territórios", disse.
O presidente azerbaijano acrescentou que o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, deve admitir a integridade territorial do Azerbaijão, pedir desculpas e admitir que a região não faz parte da Armênia.
"Os líderes da Armênia devem pensar cuidadosamente antes de que seja tarde demais", afirmou.
Repetindo as afirmações de que o Azerbaijão se apoderou de uma série de povoados, ele prometeu continuar lutando até recuperar a região.
"Nagorno Karabakh é a nossa terra. Temos que voltar lá e não o estamos fazendo agora. Isso é o fim. Mostramos a eles quem somos. Os estamos perseguindo como cachorros", afirmou Aliyev.
Nagorno Karabakh, uma região povoada principalmente por armênios, se separou do Azerbaijão depois da queda da União Soviética, o que deu lugar a uma guerra no começo dos anos 1990 que custou a vida de 30.000 pessoas.
Oitavo dia de combates
As forças separatistas armênias de Nagorno Karabakh e o exército do Azerbaijão travaram neste domingo combates pelo oitavo dia consecutivo.
As duas partes intensificaram suas declarações belicosas, ignorando os apelos internacionais a uma trégua e atribuindo-se mutuamente a responsabilidade pelo conflito.
Desde a sexta-feira, Stepanakert, a principal cidade de Nagorno Karabakh, foi alvo de ataques que obrigaram a população a se esconder em sótãos e refúgios. A cidade ficou sem energia elétrica neste domingo, mas ao meio-dia o serviço foi restabelecido.
O centro e a periferia da cidade foram afetados e no nordeste via-se fumaça preta no céu. Os moradores se esconderam nos refúgios existentes, como a cripta de uma igreja, onde várias famílias esperavam em um clima de resignação.
Na tarde deste domingo, Shusha, com 4.000 habitantes, foi alcançada por disparos azerbaijanos.
De acordo com o ministério das Relações Exteriores da república autoproclamada, há "civis mortos e feridos" nas duas cidades.
O presidente de Karabakh, Arayk Harutyunyan, anunciou que, como represália, suas forças se concentrariam agora em atacar as infra-estruturas militares das "grandes cidades" do Azerbaijão, mais distantes do front, e pediu "aos civis que abandonem imediatamente estas cidades".
A Rússia, por sua vez, se declarou "preocupada" com o aumento de vítimas civis em Karabakh.
Alvos civis
"Sou capelão militar, acabo de voltar do front. Isto me preocupa, que atirem nos civis", comentou à AFP Gor Iurjan, de 28 anos, refugiado no local de culto.
Segundo as autoridades locais, tratam-se de disparos de sistemas de lança-foguetes múltiplos Smerch e Polonez. Também há drones sobrevoando a cidade.
Uma moradora da localidade azerbaijana de Beylagan, entrevistada pela AFP, disse que sua casa havia sido parcialmente destruída na véspera.
Neste domingo, o Azerbaijão afirmou ter ferido gravemente o presidente da república autoproclamada e ocupado Jebrail, cidade azerbaijana com 9.000 habitantes, desde a queda de 1990 controlada por separatistas armênias, embora se encontre fora do território de Karabakh. A parte armênia negou os dois anúncios imediatamente.
A presidência de Karabakh afirmou durante o dia que seu exército "controla por completo a situação em todas as partes".
O ministério da Defesa do Azerbaijão anunciou que a segunda maior cidade do país, Ganja, estava "sob o fogo das forças armênias". Baku acusou a Armênia de atirar, o que Yerevan negou.
O porta-voz da presidência de Karabakh, Vagram Pogossian, afirmou que os ataques eram de separatistas e que o aeroporto militar tinha sido "destruído". "Este é só o primeiro", afirmou.
O Azerbaijão também informou sobre ataques com foguetes contra "as cidades de Terter e Horadiz na região de Fizuli" desde Stepanakert.
O ministério azerbaijano da Defesa disse por sua vez que desde o começo dos combates, em 27 de setembro, foram conquistados 14 povoados, assim como um maciço montanhoso considerado estratégico, o Murovdag.
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