CONFLITO

Presidente azerbaijano condiciona cessar-fogo à retirada armênia de Karabakh

Ilham Aliyev acrescentou que o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, deve admitir a integridade territorial do Azerbaijão, pedir desculpas e admitir que a região não faz parte da Armênia

Agência France-Presse
postado em 04/10/2020 21:59 / atualizado em 04/10/2020 21:59
 (crédito: Handout / Azerbaijani Presidential Press Office / AFP)
(crédito: Handout / Azerbaijani Presidential Press Office / AFP)

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, condicionou neste domingo (4/10) o cessar-fogo na disputada região de Nagorno Karabakh a uma retirada das forças armênias no oitavo dia de combates, particularmente em Stepanakert, a capital separatista, e em Ganja, a segunda maior cidade azerbaijana.

Em discurso à nação, Aliyev disse ter uma "única condição para o cessar-fogo": "As forças armadas (armênias) devem abandonar nossos territórios", disse.

O presidente azerbaijano acrescentou que o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, deve admitir a integridade territorial do Azerbaijão, pedir desculpas e admitir que a região não faz parte da Armênia.

"Os líderes da Armênia devem pensar cuidadosamente antes de que seja tarde demais", afirmou.

Repetindo as afirmações de que o Azerbaijão se apoderou de uma série de povoados, ele prometeu continuar lutando até recuperar a região.

"Nagorno Karabakh é a nossa terra. Temos que voltar lá e não o estamos fazendo agora. Isso é o fim. Mostramos a eles quem somos. Os estamos perseguindo como cachorros", afirmou Aliyev.

Nagorno Karabakh, uma região povoada principalmente por armênios, se separou do Azerbaijão depois da queda da União Soviética, o que deu lugar a uma guerra no começo dos anos 1990 que custou a vida de 30.000 pessoas.

Oitavo dia de combates

As forças separatistas armênias de Nagorno Karabakh e o exército do Azerbaijão travaram neste domingo combates pelo oitavo dia consecutivo.

As duas partes intensificaram suas declarações belicosas, ignorando os apelos internacionais a uma trégua e atribuindo-se mutuamente a responsabilidade pelo conflito.

Desde a sexta-feira, Stepanakert, a principal cidade de Nagorno Karabakh, foi alvo de ataques que obrigaram a população a se esconder em sótãos e refúgios. A cidade ficou sem energia elétrica neste domingo, mas ao meio-dia o serviço foi restabelecido.

O centro e a periferia da cidade foram afetados e no nordeste via-se fumaça preta no céu. Os moradores se esconderam nos refúgios existentes, como a cripta de uma igreja, onde várias famílias esperavam em um clima de resignação.

Na tarde deste domingo, Shusha, com 4.000 habitantes, foi alcançada por disparos azerbaijanos.

De acordo com o ministério das Relações Exteriores da república autoproclamada, há "civis mortos e feridos" nas duas cidades.

O presidente de Karabakh, Arayk Harutyunyan, anunciou que, como represália, suas forças se concentrariam agora em atacar as infra-estruturas militares das "grandes cidades" do Azerbaijão, mais distantes do front, e pediu "aos civis que abandonem imediatamente estas cidades".

A Rússia, por sua vez, se declarou "preocupada" com o aumento de vítimas civis em Karabakh.

Alvos civis

"Sou capelão militar, acabo de voltar do front. Isto me preocupa, que atirem nos civis", comentou à AFP Gor Iurjan, de 28 anos, refugiado no local de culto.

Segundo as autoridades locais, tratam-se de disparos de sistemas de lança-foguetes múltiplos Smerch e Polonez. Também há drones sobrevoando a cidade.

Uma moradora da localidade azerbaijana de Beylagan, entrevistada pela AFP, disse que sua casa havia sido parcialmente destruída na véspera.

Neste domingo, o Azerbaijão afirmou ter ferido gravemente o presidente da república autoproclamada e ocupado Jebrail, cidade azerbaijana com 9.000 habitantes, desde a queda de 1990 controlada por separatistas armênias, embora se encontre fora do território de Karabakh. A parte armênia negou os dois anúncios imediatamente.

A presidência de Karabakh afirmou durante o dia que seu exército "controla por completo a situação em todas as partes".

O ministério da Defesa do Azerbaijão anunciou que a segunda maior cidade do país, Ganja, estava "sob o fogo das forças armênias". Baku acusou a Armênia de atirar, o que Yerevan negou.

O porta-voz da presidência de Karabakh, Vagram Pogossian, afirmou que os ataques eram de separatistas e que o aeroporto militar tinha sido "destruído". "Este é só o primeiro", afirmou.

O Azerbaijão também informou sobre ataques com foguetes contra "as cidades de Terter e Horadiz na região de Fizuli" desde Stepanakert.

O ministério azerbaijano da Defesa disse por sua vez que desde o começo dos combates, em 27 de setembro, foram conquistados 14 povoados, assim como um maciço montanhoso considerado estratégico, o Murovdag.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação