EUA

Trump: "não tenham medo da covid"

Presidente recebe alta hospitalar e retorna à Casa Branca, onde dará continuidade ao tratamento contra o novo coronavírus, embora médicos não garantam que ele esteja totalmente imune a riscos. Em busca de um novo mandato, republicano lança artilharia digital

Correio Braziliense
postado em 05/10/2020 22:34 / atualizado em 05/10/2020 23:59
 (crédito: Saul Loeb/AFP)
(crédito: Saul Loeb/AFP)

Após três dias hospitalizado no Walter Reed Medical Center, nos arredores de Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi liberado, ontem à noite, para prosseguir o tratamento contra o novo coronavírus na Casa Branca, em meio a especulações sobre seu real estado de saúde. Pouco antes das 20h (horário de Brasília), o republicano saiu caminhando do hospital, usando máscara, e embarcou no helicóptero presidencial. Ao chegar à Casa Branca, porém, dispensou a proteção.

O próprio Trump anunciou a alta, no início da tarde, numa postagem em rede social, na qual assegurou que se sentia muito bem e pediu aos norte-americanos que enfrentem a doença. “Não tenham medo da covid. Não deixem que isso tome conta de sua vida. Nós desenvolvemos, sob a administração Trump, alguns medicamentos e conhecimentos realmente excelentes. Estou me sentindo melhor que há 20 anos!”, tuitou o candidato à reeleição, que pretende retomar a campanha em breve. Pela manhã, também o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, afirmou que a saúde do presidente continuava a melhorar.

Entretanto, a mensagem emitida pelos médicos em relação ao estado de saúde de Trump não era tão assertiva. “Embora ele possa não estar ainda completamente fora de perigo, a equipe e eu concordamos que todas as nossas avaliações e, mais importante, seu estado clínico, apoiam o retorno seguro do presidente para casa, onde ele estará cercado por atendimento médico de classe mundial 24 horas por dia, sete dias por semana”, disse Sean Conley, o médico da Casa Branca, à imprensa.

Segundo Conley, a próxima semana será chave para dar um “último suspiro de alívio”. “Todos estamos sendo cautelosamente otimistas e vigilantes porque nos encontramos em um território desconhecido quando se trata de um paciente que recebeu os tratamentos tão cedo (no curso da doença)”, disse.

Ainda no domingo, Conley disse que Trump precisou de oxigênio suplementar na sexta-feira e reconheceu que não divulgou o episódio para projetar uma imagem otimista. Por sua vez, no sábado, Meadows relatou a jornalistas que as últimas 24 horas do presidente haviam sido preocupantes.

Contágio

Nesse cenário, aumentou também a polêmica sobre os cuidados, ou falta de cuidados, tomados pela Casa Branca e pela família Trump para evitar o contágio. Sobretudo depois que Kayleigh McEnany, secretária de Imprensa da Casa Branca, anunciou, ontem, ter sido infectada pelo vírus, após “testar negativo constantemente” desde quinta-feira da semana passada, quando o diagnóstico da assessora presidencial Hope Hicks disparou alertas.

Kayleigh McEnany é a 12ª integrante do círculo presidencial a ser infectada pela covid-19, incluindo a primeira-dama Melania Trump. Por meio de uma postagem no Twitter, ela afirmou que não teve nenhum sintoma e que ficará de quarentena, trabalhando remotamente.

Forçado a interromper os comícios e o corpo a corpo, o presidente fez, ontem, uso frenético do Twitter, no momento, seu principal instrumento de campanha. Desde que anunciou ter sido infectado, o republicano viu o democrata Joe Biden, seu adversário em 3 de novembro, crescer nas pesquisas — o ex-vice de Barack Obama lidera a corrida com cerca de 8 pontos percentuais.

Donald Trump disparou 15 mensagens em letras maiúsculas em 30 minutos, destacando o que ele considera os sucessos de seu governo. “MERCADOS FINANCEIROS EM ALTA. VOTEM!”, ressaltou em um deles. “O EXÉRCITO MAIS FORTE. VOTEM!”, assinalou em outro. Comentou ainda sobre liberdade religiosa, “a maior redução de impostos da história” e “luta contra corruptos veículos das fake news”.

Na véspera, saiu rapidamente do hospital para saudar seus seguidores, de dentro do carro. O episódio causou indignação e polêmica sobre os riscos para sua saúde e a de seus seguranças. Um porta-voz da Casa Branca, Judd Deere, garantiu que foram tomadas as precauções “apropriadas”.

O passeio foi anunciado pelo próprio presidente em um vídeo divulgado pouco antes no Twitter, no qual ele afirmou ter aprendido “muito sobre covid”. Ontem, pouco antes de receber alta, Trump tuitou que retomará a campanha em breve.

O diagnóstico de Trump lançou luz, mais do que nunca, à gestão do presidente de uma pandemia que deixou mais de 209 mil norte-americanos mortos e causou um duro golpe na economia da principal potência mundial.

Contrapondo-se à política adotada pelo republicano, Joe Biden iniciou a semana com uma viagem à Flórida, estado crucial para a vitória eleitoral, após anunciar que seu teste covid-19 havia sido novamente negativo.

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Coquetel antivírus

Na sexta-feira, ainda na Casa Branca, Trump recebeu uma forte dose (8 gramas) de um tratamento experimental da empresa de biotecnologia Regeneron. Ele é submetido ainda à terapia com o antiviral remdesivir, o primeiro a receber uma autorização de emergência contra a covid-19. Além disso, desde sábado, Trump está recebendo dexametasona, um corticoide para doenças graves e pacientes hospitalizados com a covid que provou reduzir a mortalidade. Toma também zinco, vitamina D, famotidina (que pode ser usada contra o refluxo), melatonina (geralmente receitada contra a insônia) euma aspirina diária.

Votação no Senado pode atrasar

 (crédito: Chip Somodevilla/AFP)
crédito: Chip Somodevilla/AFP

O presidente Donald Trump pretende confirmar Amy Barrett como nova juíza da Suprema Corte antes da eleição de 3 de novembro, mas o surto de covid na Casa Branca pode complicar a agenda. É que a cerimônia na Casa Branca para anunciar a escolha teve, entre os candidatos, senadores republicanos, que, agora, estão infectados pelo novo coronavírus. Indicada para a cadeira da juíza Ruth Bader Ginsburg, que morreu em meados do mês passado, Amy Barrett testou negativo.

De acordo com a Constituição americana, o Senado é responsável por confirmar os escolhidos pelo presidente para ocupar uma das nove cadeiras da Suprema Corte. Pelo menos três legisladores que compareceram à cerimônia de 26 de setembro estão com a doença. Mike Lee, Thom Tillis e Ron Johnson foram imediatamente colocados em quarentena.

Os republicanos têm 53 das 100 cadeiras no Senado, mas dois de seus senadores não querem votar antes da eleição. A ausência dos colegas pode comprometer a maioria, pois o voto presencial é obrigatório e não pode ser delegado.

Com a confirmação do contágio dos três legisladores, o líder do Senado, o republicano Mitch McConnell, suspendeu as sessões plenárias da Câmara por duas semanas, contadas a partir de sábado passado. Ele garantiu, porém, que a Comissão Judiciária dará início ao processo de homologação de Amy Coney Barrett, conforme previsto, em 12 de outubro.

“Se é muito perigoso convocar o Senado em sessão plenária, também é muito perigoso ter trabalho em comissão”, respondeu o líder dos democratas do Senado, Chuck Schumer, cujo partido diz que o veredicto das urnas deve ser aguardado para se decidir sobre a sucessão de Ruth Ginsburg.

Para os republicanos, as discussões do comitê podem ser conduzidas com segurança. “Os senadores podem participar por teleconferência, como temos feito (desde março)”, alegou Rick Scott. As regras de funcionamento da comissão (composta por 12 republicanos e 10 democratas) exigem, porém, que a maioria de seus membros esteja fisicamente presente para uma votação de procedimento no fim do exame da candidatura de juiz.

Se os democratas decidirem boicotar as sessões, os republicanos estarão em número insuficiente, sem Lee, Tillis e Johnson, para alcançar o quórum mínimo. Portanto, tudo dependerá do curso da doença. Caso permaneçam isolados, McConnell poderá nomear substitutos.Ou optar por votar direto em plenário, mediante custo político.

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