Eleições Americanas

Na Filadélfia, democratas correm para votar antecipado, o pesadelo de Trump

Pela primeira vez, os eleitores deste Estado-chave para a eleição presidencial podem solicitar que uma cédula de voto por correio lhes seja enviada

Agência France-Presse
postado em 09/10/2020 13:20
 (crédito: GABRIELLA AUDI / AFP)
(crédito: GABRIELLA AUDI / AFP)

Centenas de pessoas fazem fila na Filadélfia, todos os dias, para votar no democrata Joe Biden a menos de um mês para as eleições nos Estados Unidos, enquanto o presidente Donald Trump insiste em apontar este bastião democrata como uma fonte potencial de fraude.

Em um dia ensolarado de outubro, uma longa fila de eleitores, de máscara, espalha-se ao redor da imponente prefeitura da Filadélfia: eles esperam para votar em duas grandes urnas, vigiadas por funcionários municipais e por alguns policiais. Esta é uma das mudanças provocadas pela pandemia do coronavírus.

Pela primeira vez, os eleitores deste Estado-chave para a eleição presidencial podem solicitar que uma cédula de voto por correio lhes seja enviada. Ela então será encaminhada - sob o risco de não chegar a tempo de ser contabilizada -, ou depositada pessoalmente em um local de votação temporário.

Desde a abertura desses postos de votação em 29 de setembro, os eleitores têm se inclinado por esta última opção. Milhares de pessoas devem votar desta forma antes de 3 de novembro.

E, nesta cidade onde 82% dos eleitores votaram na democrata Hillary Clinton em 2016, a linha está longe de ser equilibrada entre os dois campos.

Cerca de 15 pessoas, questionadas aleatoriamente pela AFP, disseram que queriam deixar claro nas urnas sua rejeição a Trump.

Os olhos de Nancy Rasmussen, de 74 anos, enchem-se de lágrimas assim que ela começa a falar.

"Tenho a impressão de que já é 3 de novembro. É tão importante (...) que nos livremos (de Trump). Estou disposta a entrar em uma longa fila para votar", afirmou ela, feliz em ver tantas pessoas antecipando o voto.

Kenneth Graitzer, um bibliotecário aposentado, optou por votar cedo, porque considera "mais seguro" do que esperar pelo dia 3 de novembro neste período de crescente tensão política.

O presidente dos Estados Unidos instou seus seguidores a irem em massa às urnas "observar" a evolução da votação e da apuração, um apelo que os democratas interpretam como incitamento à violência.

"Estou com medo dele, com medo de pessoas que o consideram um deus. Acho que ele é um perigo para o país", disse Graitzer.

Curtis Adams, dono de um bar e historiador da arte, diz que não tem medo de suas "táticas de intimidação". Ele garante que não vão funcionar, pelo menos nas grandes cidades "acostumadas a todo tipo de situação".

Mesmo assim, ele decidiu votar imediatamente após receber a cédula. "Não queria arriscar que meu voto não fosse contado (...) Tive que esperar uma, ou duas horas, mas queria fazer isso", frisou.

Embora comemore o sucesso da votação antecipada, Lisa Deeley, presidente da comissão municipal que supervisiona as eleições, admite que "a pressão é real" este ano para garantir o bom andamento do processo eleitoral.

A comissão recrutou centenas de pessoas adicionais para lidar com o voto antecipado, mas ela se preocupa com o fato de Trump sugerir a possibilidade de fraude em sua cidade.

"Coisas ruins"

"Coisas ruins estão acontecendo na Filadélfia", disse Trump no debate contra Joe Biden no final de setembro, depois que um de seus apoiadores foi expulso da sala de votação da prefeitura, onde filmava com seu telefone sem autorização.

Nenhuma fraude foi comprovada na Filadélfia até hoje, mas algumas suspeitas são levantadas por alguns políticos republicanos locais.

A fraude é particularmente tentadora em uma cidade onde os democratas detêm uma esmagadora maioria dos cargos eleitos e em um estado onde todos os votos contam, já que Trump ganhou na Pensilvânia, em 2016, com uma maioria de 44 mil votos.

"Já houve acusações parecidas do candidato Trump em 2016 (...) mas, uma coisa é quando um candidato diz isso, outra, quando ele é o presidente", afirmou Lisa Deeley.

Embora seja democrata, ela se diz imparcial, conforme exigência de seu papel como comissária eleitoral.

Ela garante que todo o possível está sendo feito para assegurar que a eleição transcorrerá sem problemas.

"Estamos na Filadélfia. Somos o berço da democracia americana. Faremos de tudo para que essa democracia continue a prosperar", completou.

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