Roma, Itália - Parentes e admiradores de Cesare Battisti, ex-militante de extrema esquerda condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, denunciaram a "tortura" do isolamento que sofre na prisão onde cumpre sua pena.
"O Ministério (da Justiça italiano) o prendeu em uma espécie de 'bolha'", disse na quinta-feira à AFP um membro de sua família, que pediu que seu nome não fosse publicado.
Concretamente, o familiar informou que a família deseja que Battisti, de 65 anos, volte a uma certa "normalidade", no respeito da lei.
Battisti, ex-líder do grupo radical italiano Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), foi preso em janeiro de 2019 na Bolívia, após uma fuga de mais de quatro décadas entre a França e o Brasil.
Após sua prisão, foi extraditado para a Itália e pela primeira vez reconheceu perante um juiz sua responsabilidade nos assassinatos, ao mesmo tempo em que tomou distância da luta armada travada em seu país nos 'anos de chumbo'.
Battisti, um prolífico autor de romances policiais, cumpria pena numa prisão de segurança máxima na Sardenha, sob estrito confinamento solitário reservado a certos detidos condenados por terrorismo.
O ex-militante pediu então para ser transferido para uma prisão mais próxima da residência de sua família e, após uma greve de fome em setembro, foi levado para a prisão de Rossano, na Calábria, no sul da Itália.
Mas pessoas próximas a ele explicam que enquanto na Sardenha ele podia pelo menos usar seu computador, na Calábria "ele não tem nada".
"Até o papel é racionado e ele passa o dia olhando para a parede", denunciou o familiar, explicando que estão estudando formas de apelar à justiça europeia, porque "é uma verdadeira tortura".
De acordo com essas fontes, quando Battisti tentou enviar uma carta para seu advogado para reclamar de suas condições de encarceramento ou quando mencionou sua situação em telefonemas, a direção da prisão aumentou as medidas de isolamento.
Seus parentes também denunciam que ele foi ameaçado por prisioneiros condenados por terrorismo islâmico.
Uma petição assinada por vários escritores e cineastas, principalmente franceses, pede "anistia para crimes políticos cometidos na década de 1970" na Itália, uma questão totalmente ausente do debate político e que preocupa as famílias das vítimas.
Battisti foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato em 1978 de Antonio Santoro, um guarda penitenciário, e Andrea Campagna, que trabalhava como motorista da polícia, um ano depois.
Ele também foi condenado por cumplicidade nos assassinatos em 1979 de Pier Luigi Torregiani, um joalheiro, e Lino Sabbadin, um açougueiro.
Na prisão, Cesare Battisti continuou a escrever e publicar. Segundo seus parentes, ele terminou um novo romance que esperam poder publicar na França e no Brasil. "Ele só tem escrita", apontam.
Depois de saber que Battisti confessou sua participação nos quatro assassinatos, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) se arrependeu de tê-lo protegido por anos.
"Estamos frustrados, decepcionados. Não teria nenhum problema em pedir desculpas à esquerda italiana e às famílias [vítimas] de Battisti", disse Lula.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.