Na sacada da Casa Branca, sem máscara e sentindo-se “muito bem”, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou aos comícios eleitorais oito dias depois de ter anunciado que havia sido infectado pelo novo coronavírus. A retomada oficial à campanha tem o objetivo de diminuir a desvantagem nas pesquisas e as especulações sobre a saúde do republicano. A centenas de apoiadores que foram ao jardim da residência oficial, Trump garantiu: “Eu me sinto muito bem (…) Quero que saibam que nossa nação vencerá esse vírus terrível da China”.
O uso de máscara era obrigatório no evento, mas houve pouco distanciamento social entre os presentes. Trump não deu detalhes sobre o seu estado de saúde no comício. Porém, em uma entrevista exibida, na noite de sexta-feira, à rede de televisão Fox, o presidente americano disse que estava “livre de medicamentos” e “não tinha problemas para respirar”. O republicano seguiu fazendo campanha ao longo do dia, com afirmações polêmicas. Disse, por exemplo, que a covid-19 já tem cura e que a pandemia “já está desaparecendo”.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, sinalizam o contrário nos Estados Unidos. Nas últimas 24 horas, foram registrados 54.232 novos casos e 973 mortes. No dia anterior, os números foram 52.458 e 888 mortes, respectivamente. Há uma semana, 42.662 e 1.025.
O candidato democrata, Joe Biden, também esteve em campanha. Ontem, visitou a cidade de Erie, no estado da Pensilvânia, local em que Trump venceu na eleição passada. Horas antes do evento eleitoral, ele respondeu a questionamentos da imprensa sobre a retomada de comícios de Trump. “Antes de sair de novo hoje, eu fiz outro teste (de covid-19) esta manhã, e estou livre. Eu acho que é importante que o presidente se certifique de duas coisas. Uma, que ele não é um propagador. Em segundo lugar, acho que é essencial que ele deixe claro para todas as pessoas que elas devem estar socialmente distantes”, declarou.
Biden lidera com folga as pesquisas de opinião e tem o apoio de mulheres e idosos, levando analistas a sugerirem com, cada vez mais confiança, uma vitória esmagadora do democrata. A doença de Trump intensificou as críticas ao presidente quanto à forma que tem tratado a pandemia. No campo republicano, a preocupação aumenta cada vez mais. Alguns estão abertamente alarmados com o desenrolar da campanha. “Se as pessoas estiverem aborrecidas no dia das eleições, poderíamos perder a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso”, advertiu o senador republicano Ted Cruz.
Agenda cheia
A menos de um mês das eleições, o presidente deve cumprir uma agenda cheia de compromissos de campanha. Há um comício previsto para amanhã, na Flórida. Conquistar o Estado é determinante para que Trump tenha esperanças de ser reeleito. “Estaremos em Sanford, Flórida, na segunda-feira, para um grande comício!”, tuitou o líder americano. A agenda oficial também inclui mais dois comícios nesta semana. Trump deve se encontrar com apoiadores na terça-feira, na Pensilvânia, outro estado-chave, e na quarta-feira, em Iowa.
Enquanto Trump recuperava-se da covid-19 — o republicano chegou a ficar três dias internado —, Biden visitou o Arizona, na última quinta-feira, e Nevada, no dia seguinte. Trump venceu os dois estados em 2016, mas as pesquisas dão ao democrata uma vantagem desta vez. Ontem, antes de embarcar em seu avião de campanha, Biden deu um conselho a todos que planejam comparecer aos eventos públicos de Trump: “Boa sorte. Eu não iria a menos que tivesse uma máscara e houvesse distância”.
Deverá haver apenas um encontro entre os candidatos à Presidência antes das eleições, previsto para o próximo dia 22. Trump recusou-se a participar do debate programado para esta quinta-feira, depois que os organizadores o mudaram para um formato on-line devido ao coronavírus. A comissão encarregada de organizar os debates anunciou, posteriormente, o cancelamento do debate. A decisão gerou uma série de acusações do lado republicano.
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Cai ordem que ajudaria presidente
Um juiz norte-americano derrubou a ordem do governador do Texas, Gregg Abott, de reduzir o número de locais habilitados para receber o voto por correspondência no Estado. “Essa decisão ajudará na luta contra as tentativas de votar ilegalmente”, justificou o político, que é fiel partidário do presidente Trump. Mas em uma sentença emitida na última sexta-feira, depois de uma impugnação apresentada por grupos de defensores do direito ao voto, o juiz federal Robert Pitman derrubou a decisão argumentando que ela “restringe os direitos de certos eleitores”. O magistrado garantiu que a decisão do governador obriga os eleitores a fazerem um deslocamento mais longo e esperar mais tempo para votar, o que aumenta o risco de ser infectado pelo novo coronavírus.
Aposta arriscada em sanções
Uma das armas usadas por Donald Trump para conquistar o segundo mandato é acelerar e intensificar as sanções econômicas, sua ferramenta favorita de política externa. Os desdobramentos das medidas, porém, não têm sido o esperado.
Nenhum país tem sido mais afetado pelas sanções dos Estados Unidos do que o Irã. Em 2018, Trump saiu de um acordo de desnuclearização negociado pelo ex-presidente democrata Barack Obama, bloqueando todas as exportações de petróleo iranianas. Na última quinta-feira, o republicano impôs um amplo pacote de restrições aos bancos, com a intenção de aplicar um golpe definitivo na economia do adversário.
Mas os grupos militantes apoiados pelo regime têm intensificado suas atividades, o Irã vem tomando medidas para contornar as restrições impostas pelo acordo nuclear e nenhuma das 12 condições para eliminar as sanções foram alcançadas. “Diriam ‘enfraquecemos o Irã’, o que é certo, mas não houve uma mudança real no comportamento iraniano. Não vimos o Irã aceitar uma negociação, muito menos negociar uma alternativa ao acordo sobre seu programa nuclear”, avalia Thomas Wright, especialista em política externa do centro de pesquisas Brookings Institution.
Segundo Brian O’Toole, da organização Atlantic Council, as últimas medidas contra o Irã são mais políticas, incluindo dificultar que um futuro governo voltasse a interferir no acordo nuclear. “É provável que as repercussões reais sejam marginais, e não ao nível do colapso do regime, como pregaram alguns de seus defensores.”
Medidas diárias
Nas últimas semanas, o governo Trump tem emitido ações quase diárias contra entidades em países como Belarus, Cuba, Nicarágua, Síria e Venezuela. O foco na Venezuela tem como objetivo destituir Nicolás Maduro, cuja reeleição, em 2018, é considerada uma fraude por Washington. Após mais de um ano e meio de esforços, incluindo sanções ao petróleo venezuelano, Maduro segue no cargo com o apoio de Rússia, China, Irã e Cuba.
Na Coreia do Norte, os resultados são mais complexos. O país foi atingido por importantes sanções, respaldadas pelas Nações Unidas, depois de uma série de testes nucleares e de mísseis. Para especialistas, devido à pressão econômica, Kim Jong-un tentou, em encontro histórico em 2018 com Trump, e mais duas vezes no ano passado, trabalhar pela desmilitarização na península coreana. As negociações não avançaram, e, ao que parece, Pyongyang segue investindo em seu poderio bélico. Segundo Thomas Wright, já há um certo reconhecimento entre os governos de que, para serem eficazes, as sanções “têm que fazer parte de uma estratégia mais ampla, e não ser uma estratégia por si só”. “Não acredito que Trump o veja dessa forma, mas acho que há um reconhecimento crescente disso.”
Pyongyang: míssil chama a atenção
Um míssil balístico intercontinental (ICBM) exibido, ontem, durante um desfile militar na Coreia do Norte, despertou a atenção do resto do mundo. Pelo Twitter, Akit Panda, membro da Federação de Cientistas Americanos, organização que analisa os riscos associados à energia nuclear, informou que a tecnologia é o “maior míssil móvel de combustão líquida já visto até hoje”. Em discurso ao público, Kim Jong-un afirmou que continuará a fortalecer o Exército “para fins de autodefesa e dissuasão” e comemorou o fato de “nem uma única pessoa” ter contraído o novo coronavírus no país. O ato de demonstração de força intensifica suspeitas de que Pyongyang segue investindo no arsenal bélico após o fracasso da cúpula de Hanói, com o presidente Donald Trump, em fevereiro do ano passado. O encontro entre os dois líderes visava definir medidas que resultassem na desnuclearização da península coreana, mas as conversas não foram bem-sucedidas e terminaram com Kim Jong-un acusando Trump de agir de “má fé”.