LGBTQ+

"Pride House" é inaugurada em Tóquio, uma 'vitória' para a comunidade LGTBQ no Japão

Embora as minorias sexuais tenham alguma proteção, o Japão é o único país do G7 que não reconhece uniões de casais do mesmo sexo

Agência France-Presse
postado em 11/10/2020 12:04
 (crédito: PHILIP FONG / AFP)
(crédito: PHILIP FONG / AFP)

Um primeiro centro de convivência para a comunidade LGTBQ será inaugurado neste domingo (11) em Tóquio e os ativistas esperam que esta iniciativa, ligada aos próximos Jogos Olímpicos, contribua de forma duradoura para o combate ao preconceito e à discriminação.

A "Pride House" (Casa do Orgulho) tem o mesmo princípio que outras instituídas temporariamente por ocasião de outras Olimpíadas, embora a do Japão seja um espaço permanente de troca de informações para sensibilizar o público sobre a diversidade sexual e oferecer um refúgio a vítimas de assédio ou discriminação.

Embora as minorias sexuais tenham alguma proteção, o Japão é o único país do G7 que não reconhece uniões de casais do mesmo sexo. Muitos têm dificuldade em alugar um apartamento ou em obter direito de visita no hospital.

Esses problemas mostram que lugares como a Pride House, erguida em coordenação com os organizadores dos Jogos de Tóquio, são necessários no Japão, segundo ativistas.

"O Japão, tanto no meio esportivo quanto na sociedade, assim como nas escolas e locais de trabalho, não é muito receptivo às pessoas LGTBQ e é difícil sair do armário", disse à AFP Gon Matsunaka, chefe do projeto que deu origem à Pride House.

Embora este centro tenha sido criado no âmbito de uma tradição olímpica recente, o projeto em Tóquio continuará além do evento olímpico. O local será uma "conquista que pode mudar as coisas para a comunidade LGTBQ dentro da sociedade japonesa", espera Matsunaka.

"Impensável" 

A primeira Pride House, inspirada na tradição de pavilhões olímpicos para atletas e público, nasceu nos Jogos de Inverno de Vancouver (Canadá) em 2010. Outras instalações temporárias semelhantes surgiram nos JO de Londres-2012 e Rio-2016, bem como em outros eventos esportivos internacionais, como os Jogos da Commonwealth.

Diante da impossibilidade de montar uma Pride House nos Jogos de Inverno de Sochi em 2014, espaços LGBTQ foram instalados fora da Rússia. A Pride House de Tóquio tem entre seus fundadores o atleta Fumino Sugiyama, que fez parte da equipe nacional de esgrima feminina antes de se tornar um homem trans.

"Quando eu praticava esgrima, era impensável sair do armário no mundo do esporte, pois era um ambiente particularmente homofóbico", lembra o militante de 39 anos. "Fiquei dividido entre praticar o esporte que adoro, não ser capaz de ser eu mesmo, e ser eu mesmo e desistir da esgrima".

Várias estrelas do esporte mundial tornaram pública sua orientação sexual, como a jogadora de futebol americana Megan Rapinoe ou o mergulhador olímpico britânico Tom Daley. Mas no Japão, "nenhum atleta de ponta" conseguiu, lamenta Sugiyama.

"Sociedade mudou" 

No arquipélago, alguns grupos locais, empresas e universidades modificaram suas regras nos últimos anos para proteger lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer. "A sociedade mudou muito e o número de aliados da comunidade LGTBQ está crescendo", diz Sugiyama.

"Mas o problema fundamental continua sendo que não está inscrito na lei os direitos das pessoas LGTBQ, como a possibilidade de casar", lamenta. As religiões no Japão são relativamente tolerantes com a homossexualidade e várias celebridades locais são abertamente gays, mas isso permanece problemático fora da indústria do entretenimento.

Alguns militantes promoveram vários processos judiciais, principalmente no ano passado contra o governo devido à sua recusa em reconhecer casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Mas a estrada está cheia de obstáculos.

No ano passado, a Suprema Corte do Japão ratificou uma lei de 2004 que exige que pessoas trans sejam esterilizadas se quiserem que sua identidade sexual seja legalmente reconhecida. Para Sugiyama, é importante que a Pride House de Tóquio permaneça aberta após os JO, pois "as pessoas LGBTQ enfrentam dificuldades ou problemas sérios a cada hora, 365 dias por ano.

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